Um vinho que Anima

Vinhos que nos transportam para dimensões nunca imaginadas são cada vez mais raros, neste mundo enófilo. As receitas estão dadas, os métodos desenvolvidos e os resultados são sempre os mesmos. Há que oferecer vinhos escuros, alcoólicos, brutos e arrepiantes. Mas o que me impressiona mais é que a malta gosta e aplaude efusivamente todos estes líquidos. Que fazer?
Pessoalmente devo ser uma ave rara. Um espécime estranho e esquisito, com a mania de querer ser diferente dos outros. Fujo a sete pés de todos os vinhos que me agridem. E aqui para nós, não é só com os vinhos. Os que me rodeiam olham para mim como se de um alien se tratasse. Com tiques a mais, dizem eles. Ultimamente tenho pensado na possibilidade serem sinais de alguma doença do foro psiquiátrico.
Toda esta prosa serviu para quê? Falar de um vinho que provei, no verdadeiro sentido da palavra porque havia muitos outros para provar e dizer de minha justiça. Não a suprema! Essa virá mais tarde e não serei eu que a irei ditar.
Um vinho de mesa (sem indicação de região demarcada e ano de colheita) que veio do Torrão, Concelho de Álcacer do Sal. Ali paredes meias com o Rio Sado e o Atlântico. José da Mota Capitão é o produtor. Herdade do PortoCarro é nome do abençoado sítio onde o Anima L4 é pensado, desenhado e construído. E muito bem.
Uma pinga que libertou lindas notas balsâmicas e vegetais. Fetos frescos e flores libertavam um perfume que nos fazia viajar para um local muito mais interessante do que este planeta chamado Terra. A torrefacção despertava de forma suave, elegante, sem agressões. A baunilha aparecia, ia embora, voltava aparecer, sempre de forma delicada. Tudo num registo meigo, elegante e muito cavalheiresco. Com uma complexidade que começa a rarear.
Na boca, voltou animar-me. Entrou pedindo licença. Andou nas cavidades da minha boca de forma muito educada, sem grandes espalhafatos. Fresco, suave e muito saboroso. Um final delicado, deixando na memória um bonito rasto.
Segundo o que diz a Revista dos Vinhos só é vendido à porta da Adega, a um preço de 20€. Quanto à nota, e para não inventar muito, atribuo-lhe a mesma classificação. Nota Pessoal: 17

Post Scriptum: Este Anima é do ano 2004

Comentários

PAULO SOUSA disse…
Mais um vez uma excelente prosa que só valoriza o vinho que provou.Eu pessoalmente também gostei muito desse vinho,mas gostei ainda mais do HERDADE DO PORTOCARRO 2003.

Um abraço

Paulo Sousa
Pingas no Copo disse…
Paulo, também gostei muito do Herdade do PortoCarro. No entanto, o Anima foi o que me marcou mais.

Um abração

Rui Miguel
Pingus, que bom encontrar algo assim de vez em quando.

Brinde
vivaovinho.blogspot.com