Aragonês das Servas

Depois da recente incursão à Beira Alta (a transmontana) através do Versus, meti-me a caminho, pelo copo, e fui até à planície, ao enorme Alentejo. Terra da minha mulher. É curiosa a combinação genética e cultural que existe cá em casa. Sangue lá de cima, com sangue lá de baixo originou uma bela pequena, de cabelos louros e olhos castanhos bem escuros. A minha filha.
Um vinho da Herdade das Servas. Um Aragonês de 2004, a Tinta Roriz lá de cima do Dão e do Douro. Este varietal encaixa na perfeição na categoria daqueles que classifico como vinhos gulosos. Pingas bem construídas, com objectivos bem definidos. Saber sempre bem (falo de mim, naturalmente).
Inicialmente com muita fruta, de calibre fresco. Ainda no pomar. Lembrei-me, curiosamente, daquele aroma que os pomares libertam de manhã, quando estão cobertos pelo orvalho. Estão a ver? Entretanto, pareceu-me que andavam a rolar pelo copo aquelas bolas de neve, os tais rebuçados de forma esférica, que são ou eram embrulhados em papel de cor vermelha. Alguma hortelã tornava este aragonês ainda mais curioso, jovial e atrevidote. Breve sensação de terra parecia quer dar um ajuste na complexidade. Com o andamento da prova, o café (ou algo parecido) acompanhou com chocolate. Um dupla que nunca mais desapareceu.
Na boca, guloso, repleto de fruta guarnecida por cacau e café. Taninos e acidez posicionados de forma equilibrada. Final bem curtido.
Um exemplo de um vinho que está feito para agradar a todos. Que sabe ou saberá sempre bem (o que provei era amostra, só com a indicação da casta e do produtor).
Nota Pessoal: 16

Comentários

Anónimo disse…
O produtor é o mesmo do Monte das Servas? É que esse é um vinho muito bom.
Pingas no Copo disse…
Sim, é do mesmo produtor.
Pessoalmente nunca tinha provado um vinho desse produtor.
Caro Rui nem sabes o que andas a perder... mas dia 9 de Dezembro já não tens desculpas :)

Outra coisa, estes vinhos costumam sair sempre melhor do que provado em amostra... será que com este vai acontecer o mesmo ?

Comigo com o Reserva, o Touriga e o Rosé foi exactamente assim.

Abraço e apaga a outra mensagem, deu um erro estranho.
Anónimo disse…
O ano é 2005 certo?

Esses aromas a hortelã são curiosos! Pois quando bebi há tempos o Reserva 2003, também me lembro da presença de hortelã., Deverá ser talvez um aroma vindo das barricas novas que eles usam ( suponho ).

Um abraço.
Anónimo disse…
Nunca encontrei um verdadeiro herdade das Servas. O que anda por aí é o monte das servas ou coisa do género
Essa hortelã não será dos balsâmicos derivados do terroir onde as vinhas estão situadas ?

Frexou, um vinho com estágio em inox apresenta aromas balsâmicos ?
Anónimo disse…
Não sei diz-me tu! Tu é que és "expert" em química!

Sei que a Hortelâ uma planta.
Tudo bem que por exemplo a Menta é um aroma que surge da componente balsâmica.

Agora se a hortelã é um aroma primário ou secundário não sei.

Tinha a noção que seria as barricas
novas que davam aos vinhos esse aroma, que aliás aprecio muito.
Aromas secundários... a menta tal como a hortelã podem ser denominados balsâmicos (que representam bálsamos vegetais onde podes incluir a menta e a hortelã) mas também os podes incluir como vegetais...
Anónimo disse…
Estamos aqui a assistir a uma conversa de enólogos? De provadores profissionais?
Anónimo disse…
Thanks pela explicação! Eu associo a menta e a hortelã pimenta então mais à componente balsâmica do que à componente vegetal.

Tens razão no que dizes, porque há vinhos em inox em que a hortelã/menta/salvia também consegue estar presente.
O Grou 2 é um bom exemplo.

Agora curiosamente costuma denotar aromas mais intensos de hortelã em casos em que são usadas barricas novas de carvalho francês. Para te dar um exemplo recente, quando provei amostras de casco no "Luís Pato" notei e muito esse aroma mentolado/hortelã.

Por último e não querendo ser maçador:

Estes aromas não poderão ser catalizados pelo facto de se usar barricas novas?
A madeira pode ter esse papel de aumentar a percepção dos aromas?


Um abraço.

PS- Rui espero que não te importes desta conversa :)
Pingas no Copo disse…
Estejam à vonte, falem à vontade. É assunto que não domino, nem um pouco.
Continuem, eu pelo menos vou aprendendo
PAULO SOUSA disse…
Fostes tu que ganhastes o prémio Altas Quintas,da Revista de Vinhos?
Pingas no Copo disse…
Quem eu? Não ganhei prémio algum. Era bem bom!
PAULO SOUSA disse…
Rui Miguel,a morada é Montijo...
Pingas no Copo disse…
Pois, mas eu vivo em Alcochete! :)
Depois do que já disse, reafirmo com mais uns dados:
Os aromas balsâmicos podem surgir de duas maneiras num vinho, derivados do estágio em madeira, ou então derivados da própria casta (algumas mais que outras, a Cabernet Sauvignon é um exemplo) daí que em vinhos que não tenham contacto com a madeira os balsâmicos se encontram presentes, a isto temos de juntar o Terroir que por vezes ajuda a evindenciar estes aromas.

No entanto não devemos esquecer um pequeno detalhe, quando se fala em hortelã num vinho, convem reparar se é numa versão de bálsamo, gel, etc que se remete para os Balsâmicos, ou se o dito aroma recorda a hortelã dita folha da planta e nesse caso temos presente na versão vegetal/herbáceo. Penso que aqui seja mais dificil separar e normalmente se segue o caminho do balsâmico.