Porta dos Cavaleiros

Um pouco de história não faz mal a ninguém.
Embora não se conheça a evolução do sistema defensivo de Viseu pela própria dinâmica da evolução da malha urbana da cidade, ao longo dos séculos, podemos suspeitar que começava "na Porta do Soar, a muralha seguia encostada à Rua do Soar de Cima, (depois Rua Cónego Martins), em direcção ao actual edifício do Grémio, onde inflectia, passando ao lado da Rua Formosa. Na sua passagem sobre a Rua Direita, ficava a Porta de São José, ou de cimo da Vila. Cortava depois em direcção à esquina da casa da família Lemos e Sousa, na Rua da Árvore (Porta de S.Cristina). Daí para baixo, a cerca continuava pelo Quintal da Prebenda até à Porta de S. Miguel, ou da Regueira, que dava entrada para a Rua do Gonçalinho, seguindo depois encostada à Rua 31 de Janeiro, até ao Largo de Mouzinho de Albuquerque, mas pelo lado de dentro. Nesta altura, abria-se outra porta, a Porta de S. Sebastião, ultrapassada a qual, a cortina descrevia um grande arco de círculo, abrangendo o Terreiro das Freiras (onde se realizavam as touradas) e a casa dos Arco, até à Porta dos Cavaleiros, ou do Arco, assim chamada, por ficar à entrada da antiga Rua dos Cavaleiros (hoje do Arco). Trepava em seguida a ladeira, encostando-se à Rua dos Loureiros, até ao cimo da calçada de São Mateus, onde se abria a Porta da Senhora do Postigo, ou da Senhora das Angústias, de que ainda há vestígios. Desse ponto, a cerca continuava, vencendo a rampa até ao cimo da calçada de Viriato. Umas casas altas da Rua de Silva Gaio (antiga rua Detrás-dos-Currais), devem assentar sobre os muros antigos e é nesse percurso que se encontra o troço mais bem conservado da circunvalação quatrocentista; uma das portas do muro, apresenta ainda umas insculturas com a forma vaga de uma arma. Seguia depois encostada à mesma Rua de Silva Gaio, tendo por vezes, por alicerce, grandes penedos com a disjunção esferoidal, até fechar o circuito na Porta do Soar". Amorim Girão In “Viseu, um futuro com passado”, Néstia Editores. Informações retiradas daqui.
A inscrição na Porta do Soar (ou Porta de São Francisco), permite-nos compreender que D. Afonso V foi o responsável pela reformulação da estrutura defensiva da cidade, integrando a cerca erguida sob o seu reinado as duas cercas mais antigas.
Dessa cerca afonsina, onde se rasgavam originalmente sete portas, são testemunhos a Porta dos Cavaleiros e a Porta do Soar, além de escassos troços de muralha que chegaram até nós. Nenhuma das torres originais sobreviveu.
Depois de uma breve passagem pela idade média (outro passatempo pessoal) , falemos então do vinho que foi baptizado com o nome de Porta dos Cavaleiros. Também ele faz parte da história, da minha como enófilo, do Dão e dos vinhos nacionais. Quantos já ouviram falar dos míticos Reservas dos anos 60 e 70? Não há muito tempo que na blogosfera o Reserva 1975 foi provado e bem. Um vinho do PREC.
É com muita curiosidade e admiração que vejo um Branco de 1973 a ser vendido a preços de topo. Tendo em conta que estamos a falar de um vinho branco com mais de 30 anos, é de fazer abrir a boca.
Pessoalmente lembro-me de beber o Reserva 1985, com muito agrado. Considerava-o o meu melhor vinho. Olhando para trás, vejo a longa caminhada que fiz e reparo que fui mudando alguns gostos. Não todos, porque a história não se esconde, nem se deita fora.
Passados alguns anos, voltei a beber um Porta dos Cavaleiros. Um Branco de 2004. Com notas petroladas envolvidas por erva verde e fruta em calda, que faziam recordar tenuamente o pêssego e o ananás. Suave perfume a tília e mimosa, tentava reproduzir a imagem de uma encosta serrana, na Primavera.
Na boca, mediano, com o combustível sempre presente. O vegetal e a fruta a saboreavam-se discretamente. Um vinho que custa nas prateleiras pouco mais de 2€ e que não desmerece. Nada mesmo.
Nota Pessoal: 14
Post Scriptum: Um nome cheio de história.

Comentários

Anónimo disse…
Sem dúvida, um vinho com história e um nome incontornável, não só no Dão mas no panorama vinícolo de todo o país. Cheers!
Puxa, fiquei realmente interessado em provar esse branco, com aroma combustível e acidez a lembrar mimosas.
Verificarei a disponibilidade no Brasil.
Abraço.
vivaovinho.blogspot.com
Pingas no Copo disse…
Caro Leonardo, mesmo que não concorde com a minha opinião (que é perfeitamente possível) não terá um grande rombo na sua carteira. Com estes preços vale a pena arriscar.
NOG disse…
Ora aí está um vinho que meu habituei a ver na mesa do meu avô (faz, pelo mentos, 15 anos).

N.
Pingas no Copo disse…
Nuno, foi um vinho que se bebia muito. Depois como outros clássicos foram desaparecendo da luzes da ribalta.