Velhos Amigos

Um encontro com velhos amigos (o Cardoso e o Cunha), que fazem parte da juventude passada no Barreiro, na década de 80. Percorríamos o dito Barreiro Velho, mesmo junto ao rio Tejo. Na altura, era o coração desta cidade industrial da margem sul. Era no meio das sociedades recreativas, das tascas, clubes de rua que a juventude se encontrava às sextas e sábados à noite. A revolução ainda era falada, não estava morta. Ouvia-se em muitos locais as canções do Zeca.
Recordo-me que a sociedade barreirense da altura estava ainda dividida. Haviam os filhos dos operários e os dos outros (diziam que eu pertencia a este último grupo. O meu pai era funcionário bancário). Curiosa divisão. Menos feliz, era quando apelidavam de fachos, aqueles que vinham lá de cima.
Verifico, com muita curiosidade, que sou um produto resultante da mistura de tradições, hábitos e culturas bem distintas e, de alguma forma, contraditórias. Tal como muitos, fui daqueles que veio com os pais para a grande Lisboa, por volta dos anos 70.
De regresso ao século XXI, e a Alcochete, aproveitei este feliz encontro para beber dois vinhos que recentemente foram provados pela Revista de Vinhos. Um Dão e um Bairrada. O balanço foi francamente positivo.
Condessa de Santar branco 2005
Depois da aquisição da Casa de Santar pelo gigante da Dão Sul (não sei onde isto vai parar!), foram lançados para o mercado mais um leque de novos produtos. Garrafa muito bonita, com um rótulo muito bem conseguido, de cariz clássico. Feminino.
Levemente adocicado, onde a barrica tinha alguma preponderância. Amêndoas, nozes e avelãs, juntamente com a baunilha, dominavam um pouco sobre o limão e lima. A acidez conseguia proporcionar um bom nível de frescura. Um vinho com alguma personalidade e que vem aumentar o número de bons brancos no mercado. Fez parelha com uns queijos curados. Nota Pessoal: 16
Quinta de Baixo Baga&Touriga Nacional Grande Escolha 2004
Um belo e interessante vinho da Bairrada. Moderno, polido, sem perder complexidade. Boa apresentação, consensual. Entrelaçava muito bem as notas silvestres, as flores e o mineral com o leve chocolate preto. Por baixo, parecia-me sentir folhas de tabaco. Com alguma gordura na boca, taninos bem envolvidos pelo corpo. Final saboroso.
Um tinto que se posiciona muito longe daqueles Bairradinos espigados e agrestes. Combinou muito bem com uma pá de porco assada no forno, acompanhada por uma miscelânea de cogumelos salteados, puré de maçã Bravo de Esmolfe com hortelã e batatinhas douradas.
Nota Pessoal: 16,5

Post Scriptum: A noite foi bem longa.

Comentários

Chapim disse…
Caro pingus,
mais um excelente post. Só uma pergunta: preços destes dois belos vinhos. É que fiquei com vontade de os provar!!!!

Boas provas!!
Pingas no Copo disse…
Chapim, o Condessa de Santar custou-me +-12€, na Dão Sul e o Quinta de Baixo andou pelos 11/12€, no Continente do Colombo.
Chapim disse…
Venham eles então^!!!

Obrigado e boas provas!!!
Anónimo disse…
Hummm... Apetitosos, quer os sólidos quer os líquidos!
Anónimo disse…
Belo repasto. Acho que os bairradinos actuais andam a ter um toque de "moda". Acho que iam brilhar na esportação para os países ocidentais.