Excelência da Revista de Vinhos 2007 - Apontamentos

Falar sobre prémios atribuídos por outros é uma tarefa complicada, principalmente quando os juízes em causa possuem enorme tarimba. Eles trabalham no assunto há muitos anos. Provam centenas, milhares de garrafas. As suas opiniões têm enorme peso no mercado, influenciam as nossas compras. Imagino as suas expressões ao lerem os nossos desvairos.
De qualquer modo, e sem questionar qualquer dos Prémios de Excelência (seria ridículo fazê-lo), gostaria de traçar alguns comentários muito superficiais sobre o assunto. Não esperem uma tese de dissertação. É, apenas, a voz do consumidor.

VINHOS BRANCOS
Estranhei ao verificar que os únicos brancos de excelência vinham do mesmo local. Terá a região dos Verdes mudado tanto a sua face? Olhando para as notas que obtiveram, encontramos certamente vinhos de outras regiões com igual pontuação ou superior.

DOURO
Algumas das escolhas começam a bocejar. Não pela falta de qualidade que apresentam, mas pela sistemática presença no pódio. Começa a ser tudo muito previsível. Que tal começar a limitar mandatos?
Nada óbvio, para mim, foi a nomeação do Auru 2001 e Vértice Grande Reserva 2003. Bem longe das minhas apostas.
Reserva Pessoal Domingos Alves de Sousa Tinto 2003 recebeu um forte aplauso da minha parte.
Surpreendido por não ver o Reserva Especial da Ferreirinha 1997 no lote da Excelência. Um vinho que diz muito.

DÃO
Olhando para um dos escolhidos, pareceu-me que pairou no ar sensação de injustiça. Vieram à cabeça (alguns) nomes que mereciam estar no pódio: Quinta dos Roques Touriga Nacional 2005, Quinta das Marias Touriga Nacional 2005, Quinta da Vegia Reserva 2005, Quinta da Pellada 2005, Conde de Santar Tinto 2005.

BAIRRADA/BEIRAS
Não tenho muito acrescentar. Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2005 continua a ser aquele vinho que ninguém o viu ou bebeu. Ao obter 18 valores a sua nomeação está mais que justificada. Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2005 tem a minha concordância. Mas o Calda Bordaleza 2005 de Campolargo podia ter enriquecido a trupe.

ESTREMADURA
A Quinta de Monte D’Oiro domina a seu belo prazer. Mas não ficava chocado se tivesse tido a companhia do Quinta de Chocapalha Reserva Tinto 2005.

TERRAS DO SADO
S de Soberanas não será certamente uma escolha pessoal. Poderei estar errado, mas é um vinho que pouco diz. Um estilo universal. Pode ser de qualquer lado.

ALENTEJO
Continuo a não achar graça ao Vale do Ancho. Maduro, cheio de fruta.
O Topo de Gama do Enólogo Paulo Laureano é um excelente vinho. Nível de complexidade muito alto. Fiquei rendido.
O resto aceito pacificamente.

GENEROSOS
Tudo menos o Excellent (provado muito recentemente e estava pela rua da amargura).
Estranhei a ausência de Moscatéis e de Vinhos do Porto (falo dos Vintages).

Um dos maiores momentos de discórdia, na fatídica e indisciplinada mesa 84, foi a eleição do Bairradino Colinas de São Lourenço como Produtor Revelação do Ano. Assumidamente estava à espera que Quinta das Marias levasse o troféu. Possui um portefólio bem mais interessante.

Reparei que alguns dos premiados obtiveram nota máxima de 17,5 valores. O que alarga substancialmente as opções. Leva-nos a pensar porque um é escolhido e outro não é.

Como diz o Rui do Vinho a Copo: "Para o ano, se a RV quiser, há mais".

Post Scriptum: Para fazer este texto folheei o Guia de Compras da Revista de Vinhos 2008.

Comentários

Anónimo disse…
Caro Pingus...

Comeco por dizer que nao sou adepto desta faceta do mundo "moderno" dos vinhos - a da competicao. No entanto, tambem eu leitor e devedor de conhecimento á RV, fiquei surpreendido com estas escolhas (tipo wine spectator). Como dizes, o caso dos vinhos brancos é surpreendente.....sem falar em nomes, o Dao, a Bairrada e a Estremadura foram esquecidas!!! Why????
Passando o Douro, fiquei tambem surpreendido com a pobreza do Dao e da Bairrada. O S de Soberanas, é como dizes uma questao de gosto ou de....
E no Alentejo, a meu ver, faltam os dois melhores vinhos de 2007 - Rotulo Dourado e o JB.
Mas o meu espanto vai inteirinho para o Auru 2001. Se o critério de escolha consagra os vinhos provados em 2007....nao percebo porque é que so este vinho de 2001 foi , aparentemente, provado e consagrado. Alias o critério deveria ser o dos vinhos lancados em 2007 e nao os provados....Senao, para bem do conceito, a cada ano tem de se provar as colheitas anteriores de modo a ter um lote mais abrangente. Faria mais sentido ter um prémio para vinhos "velhos" com base na prova que a RV faz anualmente dos mesmos (com 10anos de idade parece-me). Em que é que o Auru 2001, em 2007, foi superior ao Vale Meao ou ao Pintas ou ao Batuta....Houve alguma prova "oficial" a distingui-lo?

Como disse o critério deveria ser o dos vinhos lancados e provados em 2007... Senao é caso para dizer "entao o Mouchao de 1985, nao entra"??!!!????

Abraco
Pedro Guimaraes

p.s. - os acentos, é por causa do já habitual.....
Pingas no Copo disse…
Pedro, partilho esse distanciamento relativamente à competição entre vinhos, porque cada um de nós faria certamente outra selecção. Seria diferente, não melhor.
AJS disse…
A circunstância de todos podermos fazer uma escolha diferente é muito positiva. Significa que cada vez mais há gente atenta ao que se vai produzindo. Eu também fazia uma escolha diferente, muito pessoal, essencialmente nos brancos. Penso que não espelha o enorme esforço que tem sido feito em todas as regiões e que nos permitem hoje provar belos brancos. Já agora Pingus estou espantado pela tua admiração pelo Alves de Sousa. É coisa recente? AJS
Pingas no Copo disse…
AJS, assumo que fiquei rendido ao Reserva Pessoal (Tinto e Branco). :)
Caro AJS o amigo Pingus anda diferente, não é que entre tanto vinho não deixou de falar num tal Alicante Bouschet do Paulo Laureano...
rui disse…
Caro Pingus,

apesar da previsibilidade do pódio até ao ano 2020, tenho que discordar da ideia da limitação de mandatos. Se não, perde-se o conceito por detrás dos prémios. Os distinguidos passavam a ser segundas escolhas porque aquele e o outro já não podiam ganhar nesse ano. Acho que era o descrédito total, e a emenda pior que o soneto.

Sou mais adepto da ideia do número mínimo de garrafas produzidas pq senão os produtores começam fazer apenas um barril de propósito para os prémios excelência (como por exemplo, o Qt. Ribeirinho - qts garrafas são? chega ao milhar?)

No mais, quem tem unhas é que toca viola. Mesmo que sejam sempre os mesmos a tocar.

Um abraço,
RC

p.s. e mais, se as segundas escolhas passassem a ser os distinguidos, já viste o que provavas no jantar? Se em relação a estes a "nossa" crítica já é o que é ...:)
Pumadas disse…
Viva,

Com excepção do Excellent, concordo com as opiniões colocadas pelo pingus.


Abraço,
Pingas no Copo disse…
Rui às vezes as palavras não saem como queremos. Quando falava na "limitação de mandatos" falava em jeito de brincadeira - podia ter colocado umas aspas, ou escrever em itálico. :)
Mas ao vermos sistematicamente os mesmos nomes, torna-se tudo muito previsível. A "coisa" fica um pouco aborrecida.
Mas longe de mim querer beber as 2ª ou 3ªescolhas. Seria o descalabro.

Agora concordo quando falas no número limite de garrafas. Pelo menos que dê para vê-los nas prateleiras. :)

Pumadas, pelos vistos discordamos sobre o Excellent. Ainda me lembro da última vez que o bebi (juntamente com o Pedro Brandão e outros tantos compinchas). A experiência não foi nada agradável. Mas acredito que possa ter sido problema de garrafa.

Abraços para os dois.
Pumadas disse…
Já o bebi várias vezes e sempre em excelentes condições, no entanto acho que o problema é que quando pensamos em moscatel pensamos em JMF/Bacalhoa e nos grandes velhos moscatéis. Obviamente que este perfil é diferente mas sempre o achei um docinho!!!!


Abraço
Eu provei um Excellent com o João Rico, num memorável jantar.
Diga-se de passagem que o vinho é genial.
Pingas no Copo disse…
Por isso é que o mundo do vinho é apaixonante.

Também num jantar memorável provei o Excellent juntamente com outros moscatéis e digo-vos que nenhum dos presentes fico apaixonado por ele. Muito longe disso.

O ficava na memória era o excesso de doce, de marmelada, de gila.

Provavelmente terá sido mal interpretado.
Anónimo disse…
Para o ano é capaz de haver mais se a RV quiser... a nós é que ainda não nos tocou nada... :-(
Anónimo disse…
Não gosto do Excellent, tem falta de frescura, demasiado doce, excessivamente pesado...

Chamem-lhe estilo diferente ou o que quiserem..agora vinho genial? Bom,...ok!

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