Contraste

Vinhos que se pautam pela diferença começam a ser raros neste vaivém enófilo. Quando acontece o fenómeno, a chama reacende-se e permite-nos continuar o caminho.
Verdade seja dita, este caminho começa a perder algum do interesse que havia no início. Já o disse, a ingenuidade, a inocência desapareceu. As palavras que largo tendem a ficar tolhidas pelo medo de ofender alguém, pelo receio de não agradar. A liberdade, a vontade de dizer o que dizia começa a desaparecer.
Adiante, entre fogachos e vitaminas de última hora, partilho com vocês (o Copo de 3 já o fez) algumas palavras sobre dois vinhos do Douro. A responsabilidade cabe a Rita Marques.

Iniciemos a conversa com o Contraste tinto (Colheita 2006).
O aperto de mão (gostei desta) esteve rodeado por muitas sensações vegetais. Foram, durante muito tempo, as que dominaram. Um vegetal agradável, fresco, quase vibrante. Os cheiros andaram muito perto daquele que sentimos quando caminhamos pelo mato rasteiro. Um mato manchado por pequenas flores de cores invariáveis. Umas brancas, umas roxas, outras amarelas. A fruta que apareceu, mais à frente, tinha aspecto silvestre. Madura, mas fresca. Bem cheirosa.
Ficou no ar a impressão que era um vinho contido, educado e que tentava evitar, ao máximo, comportar-se de forma leviana e que não era uma coisa sem personalidade. Combinava a jovialidade com a austeridade.
Os sabores eram aprazíveis, predominantemente vegetais, onde bocados de fruta aligeiravam o paladar, tornando-o mais vivo e suculento.
O comportamento pautava-se pelo equilíbrio e descrição. Provavelmente a ideia era mesmo essa.
Copo de 3 disse: "não tenhamos ilusão, não é um vinho de topo". Eu dava mais uma achega: Tomara alguns topos portarem-se desta forma. Nota Pessoal: 15,5
Dobramos a folha
e passamos para o Contraste branco (Colheita 2007).
Um branco que andou em redor de sugestões vegetais, que lembravam o espargo, a erva verde. Recordou, por alguns momentos, os tiques do sauvignon blanc. A contínua evolução no copo permitiu descortinar um conjunto de pedaços de fruta. Fruta de aspecto tropical, com a banana e o ananás a dominarem.
Um (bom) nível de frescura permitia-lhe manter-se bem vivo durante uns bons e largos minutos. Tudo muito limpo e asseado.
Os sabores eram frescos e bem balanceados. Voltei a sentir, aqui, aquela mistura vegetal e tropical que tinha entrado pelo nariz a dentro.
Corpo com estrutura suficiente e com um final agradável e saboroso.
Valeu e muito pela frescura (causada por aquele lado vegetal).
Não deixa de ser curioso, um vinho feito com castas nacionais a cheirar e a saber a qualquer coisa lá de fora. Nota Pessoal: 15

Uma parelha interessante, irrequieta e jovem (tal como a enóloga). Da minha parte, resta-me aguardar por outras ideias.
Post Scriptum:
Entretanto nasceu mais uma colheita. Uma colheita que veio enriquecer o portefólio do criador de Pingus Vinicus.

Comentários

NOG disse…
Muitos parabéns amigo pela colheita!

N.
Pedro Sousa P.T. disse…
Há-de ser uma bela colheita!!!
Quanto à falta de inspiração, penso que sejam temporárias, pois quem escreve desta maneira é "viciado" na escrita, e nunca irá parar, seja qual tema for.
Em minha opinião não deves recear se estás ou não a ofender alguém, pois estamos no mundo da internet, onde podemos-nos exprimir à vontade, sem dar troco a ninguém. Quem não gostar, existe um teclado e um rato para passar à página seguinte.
Desculpa se me alonguei.
Um abraço.