Opus One 2000


Provar e beber um vinho às cegas tem proporcionado muitas surpresas. São momentos em que nos confrontamos, apenas, com o que está dentro do copo. Nada mais. Não existe pressão do rótulo, nem do dinheiro. Instantes em que não fazemos a mínima ideia do que temos à frente. É o vinho e somos nós. A partir daqui, cabe-nos a função de decifrar, entender (ou não) o que vai boiando. No final, e é esta parte que interessa, dizermos se gostamos ou não. Em muitos casos dou comigo a afirmar que gosto de coisas que não esperava. O contrário acontece na mesma proporção.

Não é a primeira vez que sou confrontado com situações curiosas e embaraçosas, como preferir um vinho barato, em detrimento de um vinho mais caro, mais luxuoso, mais famoso e provavelmente mais complexo. Será, provavelmente, resultado de imperícias pessoais que teimam em não desaparecer.

Pois bem, naquela curiosa noite onde se bebeu um pouco de tudo (desde a Roménia a Marrocos), apareceu um tinto que é ícone. Opus One 2000. Um tinto californiano que é resultado de uma joint venture entre Robert Mondavi e Baron Philippe de Rothschild.
Um dos momentos mais hilariantes, da minha vida de enófilo, aconteceu quando reparei que a Nota Pessoal que tinha atribuído não ultrapassava os 14,5. Os aromas e sabores passaram, rapidamente, para segundo plano. Por mais ou menos descritores que pudesse
enumerar aqui, por mais palavras que escrevesse, o que estava dentro daquele copo não tinha qualquer correspondência com a fama, com o nome do vinho.
Se tivesse bebido com o rótulo à vista, teria tido a mesma coragem? Acredito que não. Existem nomes que, por uma razão ou por outra, influenciam muito.


Comentários

Pedro Sousa P.T. disse…
Concordo inteiramente com as tuas sábias palavras. As provas cegas, por vezes pregam-nos cada rasteira...
Presidente disse…
Concordo inteiramente com o que foi dito em relação ás provas cegas, muitas vezes para não dizer quase sempre somos influenciados pelo rótulo ou pela história do vinho.
Eu já provei o Opus One 2004 e devo dizer que adorei o vinho, foi um dos melhores que já provei.
Como um amigo meu diz -o vinho não se deve guardar deve-se é beber logo, ser um "pedófilo" do vinho muitas vezes tem as suas vantagens.
O vinho quando é novo mostra logo as suas virtudes e defeitos enquanto que quando tiver mais idade pode mostrar só os seus defeitos, e a maior parte das vezes é o que acontece, salvo raras excepções.
Esta é a minha opinião
Luis Prata disse…
Mas o rótulo... que rótulo bonito.

PS ao Presidente: "pedófilo" do vinho :) gostei da expressão.
Unknown disse…
O vinho para novembro da Confraria Brasileira de Enoblogs será o argentino Latitud 33 Malbec 2007.

Postagem para 1 nov 2008.

Abraços.
Fernando Souto disse…
As provas cegas matam os rótulos.
Acho que também sou um "pedófilo" dos vinhos
PAULO SOUSA disse…
Boa noite Rui,estás bem?mesmo bem?
Já agora em que lugar foi bebido?
Vou comprar uma garrafa de Grilos,teve a mesma nota e é muito mais barato.


p.s-Rui não leves a mal a brincadeira,já me aconteceu com outros icones,mas com este (versão de 2004)ás cegas dei 180ou 18.5 já não sei ...

UM ABRAÇO

Paulo Sousa
PAULO SOUSA disse…
Foi 18 e não 180...
Pingas no Copo disse…
Paulo, bem caçado, bem caçado.

O Vinho foi bebido em prova cega, no restaurante a Comenda, no CCB, juntamente com alguns compinchas que conheces do Painel das CAV. E posso dizer-te que o Opus One ficou em ante-penúltimo lugar entre 8 vinhos provados (e 8 provadores).

Mas agora, vou "picar-te", disseste que deste 18,5 ao 2004? Certo? Será que 4 anos dá direito a tanta diferença?

Um abração

PS- Não tenhas dúvidas que a festa com os Grilos ficava muito mais barata! :)
Unknown disse…
O rótulo de um vinho com fama cria uma expectativa que só por si valem bem 2 ou 3 valores numa escala de 0-20. Uma garrafa de barca velha, abandonado ou cavalo maluco faz com que eu me sinta muito mais disponível para sentir os aromas libertados pelo vinho, mas também vou comprovar as sensações que imaginava que o vinho provocaria (se não tiver bebido esse vinho até esse momento) ou das emoções que senti quando o bebi pela primeira vez.

Uma experiência curiosa seria fazer uma prova às claras, mas em que os rótulos das garrafas estavam trocados (ou mais interessante mas provavelmente mais simples de perceber o truque, o mesmo vinho mas em garrafas com rótulos diferentes).

Um abr
NF
Anónimo disse…
Eu ainda não consegui gostar "de jeito" de nunhum vinho do Philippe de Rotchild.. são "coisas"
Anónimo disse…
Independentemente de gostos, este homem tem coragem para vir a público para dizer isto.