Catralvos (Terras do Sado) Reserva Branco 2007

Os vinhos que saem daqui, até ao momento, não tiveram a amabilidade de despertar grandes paixões. Possuem um estilo que não é, aparentemente, o meu (até ser contrariado numa prova cega). Depois perdem-se numa gama que não sei onde acaba e onde começa. Fico confuso entre tantos rótulos e garrafas. Verdade seja dita, este fenómeno é característico de outros produtores. Marcas e marcas, contra-rótulos iguais. Confusão nas prateleiras. Adiante.

Precisava, num dia destes, beber um branco. Não procurava nada em especial. Apenas uma pinga que acompanhasse a refeição da noite. A escolha recaiu sobre um Catralvos Reserva Branco 2007, feito essencialmente de chardonnay. Pelo meio, segundo o que diz o contra-rótulo, foi fermentado em barricas de carvalho francês, sofrendo com a battonage durante 4 meses. No final de tudo juntaram-lhe 10% de arinto.

Falemos dos aromas, dos cheiros (gosto muito deste conceito: o cheiro. Parece-me mais humano, mais falível, mais terra a terra, mais perto do comum). A maçã foi a primeira sensação registada (ou imaginada) pelo cérebro. Depois talhadas de melão e esferas de meloa. Durante muito tempo, esta fruta marcou o perfil do vinho. A memória vagueava entre tonalidades brancas, esverdeadas, meio amarelas. Surgiram, em jeito de libertação, citrinos (Gotas e gotas de laranja e tangerina) e um fresco ar vegetal.
Foi evoluindo sem grandes exuberâncias, mas limpo e educado. Percebia-se que tinha ali, no copo, uma coisa bem arranjada.
Um pouco de pimenta branca. Foi boa ideia usá-la para temperar. Curioso, não?

A madeira, pareceu-me não ter grande apetência para desempenhar papéis de primeira importância. Ainda bem.
O sabor, o paladar era saudavelmente fresco e frutado. Corpo suave, bem desenhado. A madeira sentia-se levemente no final, deixando na boca um pequeno toque seco.
Resumindo, um vinho bem feito e meigo, vendido a preço inferior a 4€. Não é certamente um exemplo de complexidade, mas tem capacidade para deitar para fora um conjunto de cheiros e sabores com interesse. Para beber enquanto está jovem. Provem-no. Nota Pessoal: 15

Post Scriptum: Já notaram que muitos vinhos brancos evoluem positivamente no outro dia? Parecem ficar mais exburantes, mais aromáticos. Será impressão minha?

Comentários

Não se perde nada uma decantação ligeira antes do consumo, não é verdade ?

Eu às vezes até os deito num pequeno decanter que tenho para esse mesmo efeito.
Pedro Sousa P.T. disse…
Tenho a impressão que não é só nos brancos, tenho apanhado tintos com essa característica. Interessante...

Abraço
Pingas no Copo disse…
Copod3, é verdade. Também às vezes faço uma ligeira decantação. O fenómeno até acontece em vinhos de custo baixo. O que continua a ser muito curioso.
Anónimo disse…
Bebi este vinho recentemente e acabei por ficar com uma impressão diferente do teu relato. Eu pessoalmente achei o vinho pouco fresco, ligeiramente marcado pela madeira. Mas acima de tudo com o álcool presente na prova de boca. Guardei mesmo a garrafa e voltei a provar no jantar, onde realmente estava mais equilibrado na boca mas a intensidade aromática tinha quase desaparecido. Bebi este vinho em Setembro, mas vou voltar a efectuar nova prova após o teu relato.
Ainda da marca Quinta de Catralvos abri uma garrafa de Moscatel 2003 (novidade), não sendo um vinho extraordinário, é muito agradável com um perfil muito fiel ás características típicas de um Moscatel de Setúbal, para mim faltando alguma acidez para combater o perfil doce. Já agora fica aqui a sugestão gostava de saber a tua opinião sobre este novo Moscatel.

Boas provas,
Pingas no Copo disse…
Viva hmoreira, pessoalmente não achei este vinho marcado pela madeira, nem pelo álcool. Pareceu-me ser um vinho bem feito, com os citrinos mais virados para a laranja do que para o limão ou lima. Sem arestas, limpo, calmo (não é de facto exuberante) e para beber enquanto jovem.

Sobre o Moscatel, é engraçado que tenho andado a bebê-lo no fim do jantar. Essencialmente tende para o doce (concordo inteiramente contigo), o que implica tê-lo sempre fresco no frigorífico. Nota-se que "precisa de um pouco mais de acidez". Lembrou-me em alguns aspectos o Superior da Ermelinda. Estilo mais pesadão, doce.
Anónimo disse…
Nesses moscateis falta afinação. São as primeiras experiências.
Abílio Neto disse…
Caro,

Só uma achega sobre a decantação e areação dos brancos.

Para termos a noção do que estamos a falar, um dia destes, o "Sr. Ameal", aconselhou-me a decantar e arear o seu Escolha de um dia para o outro...

... Feita a experiência, o resultado foi excepcional, o vinho ganhou uma dimensão inusitada!

Abr.,

Abílio Neto