Casa de Saima (Bairrada) Garrafeira 1997 vs Quinta da Dôna (Bairrada) Colheita 1997

Já lá vão 12 anos. Um tempo imenso. São muitos dias de histórias, de linhas para escrever. Nesse ano de 1997 a paixão desenfreada pelo vinho era ainda imberbe, sem barba. Estavam a ser dados os primeiros passitos. Eram hesitantes, confusos e cheios de concepções alternativas. Verdade seja dita, e olhando para trás, vejo que as coisas não mudaram assim tanto.
Nessa época, o líquido que entrava pelas beiças vinha quase, sempre, do Dão, da Bairrada. Do Douro, apenas sorvia o vinho fino feito na família. As vistas vaguevam por estes lados.
Voltar a beber uma parelha de vinhos oriundos da Bairrada, com estes anos, encerram um conjunto de emoções, de recordações, de cheiros e sabores que tendem a ser esquecidos.
O Quinta da Dôna libertou-se da garrafa com aromas de flores. Malmequeres, laranjeira. Um pouco de alfazema deu-lhe, por momentos, um toque mais doce, mais insinuante. Soltou-se ainda mais um pouco. Foi largando sensações a folhas de chá. Escolham vocês a qualidade. A fruta era tendencialmente cristalizada. A vontade de cheirar nunca esmoreceu.
O paladar foi o calcanhar de Aquiles. Tinha frescura, é certo, mas carecia de mais sabor, de mais intensidade. A coisa parecia um pouco inócua, um pouco vaga. Conseguiu, ainda assim, conversar um pouco com um pedacito de vitela, mal passado. Foi pena assistir a tal desequilíbrio. Um vinho para acompanhar comida pouco condimentada. Valeu pelo cheiro. Nota Pessoal: 15
O Casa de Saima Garrafeira pareceu-me mais vivo, com mais músculo. Os cheiros, na largada inicial, revelaram-se cobertos de nuances animais. Nada que incomodasse por demais. Pêlo, camurças, cabedal. Desembaraçado destes odores, o vinho libertou, no ar, sensações vegetais. Cedros, pinheiros, mato e folhas secas. Uma imagem bem Outonal.
Tinta da china, bem como um pouco de grafite, carvão, mina de lápis foram capazes de criar ou recriar, não sei, um ambiente escuro, meio enigmático.
Os sabores, aqui, revelaram maior força. Foram mais veementes. Encerados, químicos e minerais. Madeira já envelhecida. Muito fresco. A acidez estava talhada para acompanhar o bacalhau e depois com o tal pedacito de vitela mal passado. Demorou, ainda, algum tempo até morrer no copo. Um vinho destinado à comida. Nota Pessoal: 16

Comentários

Anónimo disse…
É pena que a grande maioria dos opinion makers do vinho em Portugal não liguem à casta Baga. Eu sou um grande fã desta casta, mas reconheço que é muito mais difícil conseguir gostar destes vinhos. São mais ásperos, deixam a boca pastosa (como se tivéssemos comido dióspiros verdes, mas sem o mau sabor desses frutos) e são tudo o que o Robert Parker não gosta.

No entanto, se for um bom baga, é um vinho que dificilmente se esquece.

Recentemente provei o Quinta de Baixo garrafeira 2004 (Baga e Touriga Nacional) que ficou na memória. É um vinho carote (20€) que terá de ficar para o final da refeição para não esconder os outros. Têm muitos taninos, alguma fruta, chocolate e um pouco de café torrado. O sabor perdura no paladar muito depois da garrafa ter terminado.

Um abr
NF
Pingas no Copo disse…
É verdade, não são fáceis. Os vinhos da Bairrada sofreram ou sofrem do mesmo problema dos vinhos do Dão. Enquanto jovens não são muito "atraentes".
Anónimo disse…
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