
A compra do vinho
desenrolou-se com paixão, com muita expectativa. Andava com
vontade de fazê-lo escorrer pelas goelas. O tempo foi passando e a oportunidade ia desaparecendo. O calendário, ultimamente,
não tem dado hipóteses ao
malfadado espírito enófilo. Durantes estes dias,
o relógio foi gasto em outras actividades, em outras tarefas.
Esgotaram as forças e quase que
eliminaram o desejo de puxar pela rolha.
Ultrassados todos
os percalços, todos os estorvos, lá peguei na garrafa
(pesada) e
libertei-a da rolha.
O vinho, branco, brilhava no copo. A cor indiciava bons momentos. A comida destinada para companhia pedia por algo com classe, com categoria social.

Os aromas, que saíram do copo,
apresentaram-se muito acanhados. Estranho.
Um nome tão pomposo, cheio de nobreza.
Parecia-me que iria ficar com a beiça fechada e que pouco ou nada, de interessante, iria dizer. Dei-lhe um pouco mais de tempo. Acredito que
não seja fácil trocar argumentos entre um nobre e um plebeu.
As vivências são certamente muito díspares e antagónicas.
Deitei para trás as diferenças sociais.
Ele tinha que provar que era um
vinho magestoso (tal como o nome e a garrafa). Foi largando fruta, ligeira, perfumada com mimosa e flor de anis. Sempre num registo
(muito) discreto.
Chegou a pedir silêncio para se ouvir melhor. Cheiros de madeira
acercaram-se do nariz e encerraram com a conversa.
Ao fim ao cabo, tudo terminou em
meia dúzia de minutos.
O paladar surgiu assolado por uma irritante discrição. Não era necessário tanta finura, tanta suavidade. Um pouco mais de sensações teria sido desejável. Um pouco de laranja, de limão e ananás. A madeira andava por lá, meio solta, um pouco deslocada. Quase que boiava perdida naquele vazio de emoções. O fim era modesto.
Custou-me, tanto, sentir tão pouco. Tinha tido ali à frente um vinho desejado, de uma região desejada. Nota Pessoal: 14
Post Scriptum: O Cabriz Encruzado, provavelmente plebeu, é muito mais interessante.
9 comentários:
Não achaste que o vinho no fundo precisava de mais tempo de garrafa? Lendo a tua descrição fico com a ideia de um vinho fechado e pouco falador...
Eu provei-o no Encontro dos Sabores e fiquei com boas impressões. Se calhar está a atravessar uma fase "parva"!!!
Um abraço
Pedro Guimarães
Pedro, pensei muito nisso. Cheguei até a repetir a prova no outro dia e continuava "parvo", como dizes, com poucos aromas e sabores.
Um abração
Estranho, provei recentemente e pareceu-me muito aristocrático e bem para lá de um 14...
Cupido, estranho, muito estranho. Pessoalmente fiquei desiludido com o vinho.
Ainda fui dar uma vista de olhos ao que a RV dizia sobre ele e não percebi onde eu tinha falhado.
Foi no momento uma grande desilusão.
Este não provei, mas pelo menos provei o "plebeu" de 2007, e também me desiludiu um pouco. A expectativa era muita, e por isso é que fiquei um pouco apreensivo. Dá a sensação que quando estas situações acontecem, ou seja, quando dizem muito bem de um vinho na generalidade, e depois não nos sabe grande coisa, penso que sou um grande nabo(e se calhar até sou, e estou no ramo errado). Como a despesa não foi muita, afinal de contas até nem fiquem muito descontente. Se calhar só devia abrir lá para o verão...
Abraço
É verdade Pedro, a gestão das expectativas é, em muitas situações, muito complicada.
Um abração
Pois, tal como o Cupido, também o provei recentemente.
É evidente que as condições não eram as melhores (Dão, Vinhos & Gourmet), mas ainda assim gostei francamente do vinho.
Como bem referes, a gestão de expectativas é muito complicada.
Eu tenho dois casos paradigmáticos: Cryseia e Vale Meão...
Abraço
Sim. de certo alguma fase parva...
E provavelmente minha.
Quando a maioria tem razão é porque "atirei muito ao lado".
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