A vez e a voz do povo!

Não liguem ao que escrevo, não liguem como escrevo. Sou um plebeu, um simplório que arriscou traçar umas linhas sobre um assunto que foi dominado, de forma imperial, por meia dúzia de nobres.

Imaginemos (façam um esforço) uma sala repleta de indivíduos aos gritos, gesticulando, apontado para todos os lados. Uns de um lado, outros do outro (perdoem-me as incorrecções ortográficas). Os nobres gordos e decadentes, levantam-se possessos, dos cadeirões, apregoando que o povo não tem cultura para falar do vinho (apenas a força de braços interessa). Que importância têm as palavras de quem foi alimentado pelas côdeas dos ricos? Dêem circo ao povo! Gritam estremunhados, meio atarantados. O sono tinha sido longo e pesado.

Longe vão os tempos em que eles (os nobres) dominavam o campo de batalha, o assunto, ditando as regras sobre o modo de lutar, sobre aquilo que se devia dizer. Agora, o povo (enófilo) quer intervir, deseja falar, dizer o que quer e o que gosta (ou não) de ver no copo.

Esqueceram-se, os nobres, que foram os arqueiros, nascidos no povo, e não a cavalaria pesada e arrogante, que ganharam as guerras modernas. O tiro rápido, fácil (meio cego) e cadenciado deitou por terra a petulância dos nobres. Não há volta a dar, mesmo que os decadentes arautos apregoem, a pedido dos nobres, as velhas tradições: Vinho bom para os abastados, vinho mau para os pedintes!

Nunca a obra (os Miseráveis) de Victor (quase que esquecia o c antes do t) Hugo teve tão presente na minha rudimentar tola.
Falem, gritem. Lá fora, há muito que o cidadão questiona (directa ou indirectamente) produtores, enólogos e críticos. Todos falam sem constrangimentos. Não tenham medo (dos nobres). Não se acanhem. Eles, tal como nós, são mortais.

Comentários

Este post está muito bom...

Gostei particularmente da expressão "longe vão os tempos em que eles (os nobres) dominavam o campo de batalha".

A liberdade é a melhor coisa do mundo, onde podemos criticar, sem sermos julgados.

Abraços aqui dos manos Carvalho
AJS disse…
"Eles tal como nós são mortais" e é por essa razão que eu vou bebendo do melhor que apanho, não vá o que cá ficar ser bebido por quem não merece.
Anónimo disse…
A surrapa fica para o Pedro Moreira (da Proteste)......pois andamos todos enganados.
cupido disse…
Não se porquê, mas apetece-me aplaudir de pé... (bem, este post irá parar a digestão a alguém?)
Belo texto
Anónimo disse…
Continuas em grande...

Plebeu na origem, na luta, no combate e nos tiros certeiros; mortal nos sentimentos e paixões; nobre na capacidade de reflexão e de mobilização.

Dá gosto ler-te.
Anónimo disse…
Eh! Eh!
Só te falta vir para a rua com os tanques e os cravos vermelhos...

E eu que te julgava de sangue Celta(como gostas de dizer), aristocrático na vertente intelectual...hummm! Qualquer dia sou capaz de te ver no meio da das massas veraniantes a brincar na areia com as tuas 2 filhotas. Até a Paula vai ficar de boca aberta...e eu também.

Fico a aguardar a próxima peça escrita...Pelo andar da "carruagem" vamos mudar de dinastia...
Anónimo disse…
Como Plebeu e Republicano que sou deixe-me felicita-lo pelo excelente post. Uma das coisas boas que a net nos trouxe são estes espaços de liberdade e discussão.
Nos vinhos como na politica os portugueses não são nem de direita nem de esquerda, são da SITUAÇÃO, que os analistas apelidam simpaticamente de "centrão", pelo que o seu post acerta em cheio e muitas carapuças já devem ter sido enfiadas...
Bem mas chega de divagar! o que me trouxe ao seu espaço foi o vinho do Dão. Como já lhe bati à porta de uma outra vez sobre o mesmo assunto, aproveitei a embalagem.
Numa superficie comercial encontrei o Quinta da Garrida 2004 (TN+jaen+TRoriz 12 meses carvalh0)que tinha provado em finais de 2007 e achei então muito interessante. Bem cada botelha estava há 2 dias a 1,95€ , não me fiz rogado e trouxe 6 unidades para consolar a garrafeira, já abri uma garrafa e está ainda melhor do que em 2007 como gostava de guardar uma ou duas garrafas para beber lá para 2013 2014 (se Deus o permitir), gostaria de saber se tem algum conhecimento sobre a capacidade de evolução deste vinho, pois será que vale a esperar 5 anos?

Saudações

Jose Maria Painha
Pedro Sousa P.T. disse…
Eu plebeu, assim me assumo como tal, também quero beber os Batutas e os Pintas, e os Donas Marias que andam por aí. Menos vezes porque económicamente está escasso, mas tenho direito a eles.

Abraço
Pingas no Copo disse…
Caro José Maria Painha, olhando para o vinho, acredite que nunca olharia para ele como um exemplo de guarda.
Faça o seguinte, esqueça-as e pode ser que tenha uma surpresa.
JSP disse…
caro,

é sempre um prazer lê-lo.

bem!

pelos vistos, os excessos da nobreza conseguiram estimular o povo!

nobreza e povo! haha, só ficaram por mencionar os papas guerreiros, os reis-santos de espada em punho.

e que bela comédia daria se ao presente sobrepuséssemos certa história antiga: aos nomes de outrora, os nicks de agora. às ordens passadas, sugestões presentes. a cavalgares e pateares, correntes de electrões. às batalhas há muito esquecidas, as trocas de galhardetes, private&not-so-private jokes a quem ninguém realmente liga...

experimentem, que pode ser engraçado e não custa nada :) balduíno de jerusalém? agora, quem? e saladino? e renauld de châtillon?

ouro e prata, mais coisas raras do oriente... agora números? que números!

e a cruz? (oh, a heresia!) a mais sagrada relíquia, condenada a desaparecida. tê-la-emos? alguém acredita?!

até para ibelins e lusignans e para os terroristas haxixómanos da seita do velho da montanha há espaço neste belo conto em que vivemos as horas vagas,

mas, calma, as horas vagas, apenas nós, simples peões - que para outros estas vitórias e derrotas não são simples questões de ego.

tamanho o entusiasmo, quase esquecia a sensata rainha sibila que aguarda a sua vez imersa (ainda) na obscuridade.

talvez um dia possamos olhar para tudo isto com um sorriso mais sincero, menos indulgente. tenho fé.

falou o bobo, over and out! :P
Como diz o Ride the Lightning, no seu salmo número 7:
Slaves
Hebrews born to serve, to the pharaoh
Heed
To his every word, live in fear
Faith
Of the unknown one, the deliverer
Wait
Something must be done, four hundred years
[chorus:]
So let it be written
So let it be done
Im sent here by the chosen one
So let it be written
So let it be done
To kill the first born pharaoh son
Im creeping death

Now
Let my people go, land of goshen
Go
I will be with thee, bush of fire
Blood
Running red and strong, down the nil
Plague
Darkness three days long, hail to fire
[chorus]

Die by my hand
I creep across the land
Killing first born man
Die by my hand
I creep across the land
Killing first born man
I
Rule the midnight air the destroyer
Born
I shall soon be there, deadly mass
I
Creep the steps and flood final darkness
Blood
Lambs blood painted door, I shall pass.

Amen tallica... :)