Quinta da Espinhosa (Dão) Branco Colheita Seleccionada 2008

Uma vez tive o desplante de dizer isto sobre um homem: "É a minha pequena e simples homenagem ao enólogo Magalhães Coelho. Um senhor que fez muito pelo Dão, que andava preso do granel e das práticas erróneas que iam colocando esta região num abismo sem retorno.
Juntamente com outros senhores do Dão, (...), tentou inverter a situação apostando na criação de belos vinhos que pudessem dignificar uma região, que no passado foi o berço dos melhores tintos portugueses."

Naquela altura o motivo andou em redor de uma prosaica prova com uma dupla de vinhos (tintos) da Quinta da Espinhosa. Voltei a relembrar o homem, novamente, com um vinho do mesmo produtor. Um Homem (do Douro) que, silenciosamente, foi colocando muita pedra no seu lugar devido. Nós, os amantes do Dão, devemos curvar-nos perante a sua memória.

Posto isto, e ao fim de alguns anos, volto a colocar nas beiças um vinho da Quinta da Espinhosa. Continuo a ter dificuldades para entender os aparentes hiatos que alguns produtores costumam ter. De um momento para o outro, este quase desapareceu (mesmo na terra onde nasce). Em tempos ainda foi possível descortiná-lo nas prateleiras de algumas superfícies comerciais. É a velha história: "ai e tal, aqui no Dão ninguém nos liga." Metam os vinhos em frente dos consumidores. Acreditem que alguém lhes vai pegar. De outro modo, continuarão a ser eternos desconhecidos.
Depois de mais um rodeio, este branco (com Encruzado, Bical e Cercial) pareceu-me coberto de alguma austeridade. Pouco exuberante, pouco cordial. Pareceu-me tendencialmente vegetal. Cheiros de erva misturavam-se com odores a feno e a restolho. A suposta presença de maçã ácida, junta com pêra, consegue dar outros aromas ao vinho, tornando-o muito mais fresco e vibrante.
O sabor dele era seco, muito seco. Achei curioso este comportamento. Nada de frutas maduras e opulentas. Carregado de acidez e sensações vegetais.
Por pouco mais de 3€, este vinho merece ser metido no circuito comercial de forma séria. Estar enfiado num tasco regional não faz qualquer sentido. Com algumas afinações, com alguns ajustes, temos vinho para as massas. Mesmo assim, é um vinho interessante, com algumas facetas curiosas e que levaram a (minha) memória para coisas que são capazes de (já) não existir. Nota Pessoal: 14,5

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