Casal Branco (Ribatejo)

Sou tradicionalista na abordagem aos vinhos. Olho, reparo muito, para o lado mais cultural, para a face mais terrena, mais humana da enófilia. Assumo, perante o público, que não aprecio grandes mudanças. Acho, em termos genéricos, que cada região deve ter um registo próprio, um modo de pensar exclusivo, sem repetição, sem clones. Com isto não quero dizer que pensamentos e actos fiquem estáticos, enclausurados por regras, por pressupostos, deslocados de qualquer sentido de realidade ou qualidade. 

Acho, sou eu achar, que neste jogo em que participamos, deve haver alguém que seja capaz de domar a loucura que se instalou no meio dos enomaníacos. A facilidade em seguir em frente, a leviandade com se escolhe qualquer coisa nova é tão veloz que não deixa espaço (penso na loucura que existe em redor dos vinhos estrangeiros) para olharmos para outros vinhos, nossos, merecedores de outro cuidado na abordagem.

Ribatejo, desculpem-me os pregoeiros do Tejo, é terra que aprendi a gostar. Vivo paredes meias com ela. Basicamente sou, agora, influenciado por tradições, por hábitos bem diferentes dos meus. É porção de terra, a par do Dão, que tento compreender. Quero perceber as suas idiossincrasias, o seu modo de actuar. É, segundo crenças próprias, sítio certo para nascerem vinhos com perfil muito próprio. Os brancos serão, porventura, um dos seus maiores engodos.

Falcoaria, branco cimentado na casta Fernão Pires, é puro exemplo de vinho com personalidade, com estirpe distinta, meio afastado de conceitos baseados em imediatismos. Austero, duro por vezes, seco e pouco dialogante. Levemente envelhecido, vagamente tocado pela oxidação, oferecendo um conjunto de sensações sóbrias, pouco dadas a exuberâncias sem sentido. Provem!

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