Enólogo vs Treinador, Presidente vs Produtor

Fala-se, e muito, sobre a importância do enólogo na feitura, no planear de determinado vinho. Exageradamente, por sinal. 
Não menos relevante, quiçá bem mais preponderante, será o papel desempenhado pelo produtor. Homem ou mulher que idealiza um conjunto de ideias quiméricas, um sonho, um projecto. Que ambiciona trazer ao mundo qualquer coisa de valor acrescentado. Eventualmente desavindo e pessoal.
São poucos, no entanto, os produtores que conseguem definir junto do enólogo o que querem, o que pretendem, o que desejam,  o que sonharam. Sem hesitações e sem concessões. Raros são aqueles que intervêm com conhecimento de causa sobre a matéria. O António Madeira toca ao de leve no assunto.

A foto é proveniente do site do produtor espanhol Bach. Tem função meramente decorativa do texto.

Há, não só em PT, qualquer coisa de clube de futebol na gestão de uma empresa viniculturalista (a palavra existe?). Contrata-se, ou tenta-se, o melhor treinador, o melhor enólogo, com o objectivo de ser, aceleradamente, campeão. O problema, tal como no futebol, é que produtor e presidente parecem saber de tudo, menos do negócio que têm nas mãos. A coisa vai correndo, ou não, enquanto há dinheiro. A porca torce o rabo, quando ele começa perigosamente a escassear. E a culpa, tal como no futebol, é de quem? É que nem sempre o Mourinho ganha.

Comentários

Caro Pingus, neste cenário (onde treinador e presidente pensam saber de tudo), a culpa é definitivamente de quem compra o bilhete:não está suficientemente "preparado" para o que lhe é apresentado :)
O mal disto é quando o clube se chama Sporting, vence pouco e agrada a poucos :)
Nuno disse…
Para ser treinador e ser dominado pelo presidente que nada sabe do assunto como aqui é referido, preferia estar noutro clube, um clube em que o presidente diz o que quer fazer, mas sempre pedindo a opinião do enólogo, neste caso. A mim, se me pedissem para fazer uma determinada coisa sem eu acreditar nela, não a fazia, mas por dinheiro muitos pensam em ele quer, faz-se. Nestes casos, trabalhando por conta própria, há que ponderar o que se faz, pois o nome de uma pessoa pode ficar associada para sempre a um erro do passado.
Pingus Vinicus disse…
Nuno, é um facto o que dizes.
Hugo Mendes disse…
Meu caro,
Mais um belo post. Mais uma louca reflexão.
A gama de cinzas neste tema é de tal ordem vasta que não posso afirma se estou de acordo com a tua visão ou não.
Mas isso é chutar para canto.
Eu acho acima de tudo que deve haver competência e profissionalismo. O produtor deve conhecer bem o seu nível de conhecimento técnico e do mercado. Deve rodear-se de profissionais capazes, que colmatem as suas próprias limitações seja o enólogo, o comercial, o gestor ou o marketeer. Deve liderar o acto de delinear um plano e estratégia e depois zelar para que todos na estrutura ajam segundo a missão a visão e os valores do projecto.
O mal é somente que mais de metade dos produtores que lerem isto não fazem a menor ideia do que é que estou eu para aqui a falar e é só por isso que os projectos falham.
O mal é que 90% dessa metade ri de desprezo destas palavras.
Quanto ao comentário do Nuno, entendo o que ele diz, mas isso é um pouco utópico. A possibilidade de mudança de um enólogo não é diferente de outras profissões. Pergunto-vos se ambos têm um emprego perfeito onde nunca se contrariam nas tarefas e resoluções. Não? Então porque não se mudam?
É que falam como se os enólogos fossem uma classe com liberdade total e absoluta de movimentação. Não são. Garanto-vos.
Abraço.
Pingus Vinicus disse…
Claro que há muita cinza neste tema.
Mas não fica a ideia que muitas vezes se pede, apenas: "Faça-me um vinho." Se vende, porreiro. Se não, a culpa é de... :)
Nuno disse…
Atenção que o que disse é para enólogos que trabalham por conta própria e não para aqueles que trabalham por conta de outrém. Por isso, eu, no meu emprego, é claro que faço o que me pedem, mesmo por vezes sabendo que é mal feito, mesmo eu avisando que está mal, mas se querem, faço. Se trabalhasse por minha conta, aí sim, podia recusar.
Carla Reis disse…
Acredito que mesmo para enólogos que trabalhem por contra própria a liberdade não é completa...a verdade é que o mundo gira e temos que responder a ele(economicamente).
Quanto as culpas...ora bem, estou como uma pessoa que conheço, "eu nunca encontro quem lixou, apenas quem foi lixado" e o "lavar as mãos" é desporto nacional :)