Amadorismo? Não creio!

Eventualmente, ou com enorme certeza, este post não terá qualquer contraditório. O tema não é novo, foi debatido diversas vezes, logo esta missiva servirá meramente para marcar posição pública. A minha.
Os blogues do vinho, made in PT, assumem-se, bem ao estilo da conhecida ave Calimero, amadores e sem qualquer objectivo futuro (que existe, há vergonha em assumi-lo) e que nada recebem em troca. Premissa, a meu ver, completamente errada. Ora vejamos o seguinte:
Um produtor envia garrafas para prova, no meu caso para beber, convida para almoçar, lanchar ou jantar. Às vezes para passar uns dias nas suas quintas, herdades ou quintais. Mete-nos em autocarros e leva a malta até ao destino e oferece, ainda, mais umas garrafas.


Para os que usufruem destas oferendas, são umas razoáveis dezenas ou centenas de euro que se poupam em comida, viagens e vinho por ano. Depois, naturalmente, e de blogue para blogue, existem uns que ganham mais e outros que ganham menos. Outros, ainda, não ganham nada. Facto normal.
Logo, e sem qualquer pudor e sem meias palavras, digo que sou um Bloguer de Vinho Profissional. Ganho dinheiro com o Pingas no CopoHá dúvidas? 


Comentários

Vitor disse…
Parabéns por assumir isso publicamente. Não há nada de errado em ganhar dinheiro com seu blog.
O problema, na minha opinião, está nos blogueiros que tentam negar o que é inegável.
Gostaria que mais blogueiros fizessem como você no Brasil.
Abç,
Vitor
Pingus Vinicus disse…
Olá Vitor, obrigado pela sua visita, efectivamente e ao coberto de um presumível amadorismo, nega-se a evidência: que alguém paga o serviço que (alguns) blogs fazem, que o dinheiro sai dos bolsos de uns para ir para os bolsos de outros.

Abraço
Unknown disse…
Apesar de ter alguns ganhos com o meu blog (ainda que não financeiros e apenas na forma de algumas garrafas, visitas ou eventualmente um almoço ou jantar) continuo a considerar-me amador.

O meu blog não é para mim, pelo menos de momento, algo a que me dedique profissionalmente (o que não é o mesmo que ter uma atitude profissional) ou da qual pense fazer no futuro uma ocupação a 100%.

Mas também considero que o ser amador não me force a obrigatoriamente não poder ganhar nada com o blog e se de futuro até conseguir alguma rendimento extra financeiro até seria agradável conseguir com o meu hobbie ter algum retorno.
JSP disse…
Globalmente, concordo com o aqui exposto. Aceito também que diferentes níveis de empenho se traduzam em diferentes níveis de retorno, é o que acontece no mundo.

Mas há um problema com isto das amostras e das visitas: a uniformização.

Levar um grupo mais ou menos fixo a uma prova leva a que existam n espaços a falar do mesmo. Uma quinta, dez vinhos, trinta blogues. Na semana x, doze falam sobre dez vinhos. Em quantos disponíveis?

Por outro lado, quando um grupo mais ou menos fixo de comentadores aborda, mais ou menos ao mesmo tempo, a mesma coisa, é inevitável que se teçam comparações, sejam de gosto, de estilo, de conhecimentos (etc.)

E as possibilidades que se abrem explorando, um pouco que seja, o peso das conveniências?
Pingus Vinicus disse…
Há efectivamente uma perca de diversidade em comentários, mas eventualmente servirá para aferir estilos ou retornos por parte dos dinamizadores das actividades. Na verdade, fica a ideia que vai tudo em estilo de pacote ou promoção.
momenta disse…
Não tendo um blogue de vinhos, mas um blogue onde também se fala de vinhos, nunca fui confrontado com qualquer das situações descritas, pelo que tenho uma visão de outsider. Não vejo qualquer problema com este assunto e não estou a ver a vantagem em assumir posições ingénas ou de falso pudor, face a uma visão mais pragmática. Há blogs de vinho e há produtores que os acompanham ou visitam pontualmente. Se um produtor percepciona uma mais-valia na publicação de uma opinião sobre o seu vinho, seja por publicidade ou por gostar de receber feedback sobre o seu produto, é perfeitamente natural que por um custo acessível (de envio) faça chegar uma amostra aos bloggers cuja opinião mais valoriza ou entende chegam a mais internautas – com mais orçamento e interesse chega às outras versões. A partir do momento em que existe opinião publicada podemo-nos deparar com reacções, é a dinâmica social e de mercado a funcionar. Há blogues sobre livros que recebem amostra de editoras e/ou dinamizam concursos com livros como prémios.
Acho que estas a simplificar muito as coisas e a tipificar tudo em branco e preto.

Eu, como sabes e a grande maioria, não aceito garrafas no ETOVL ; alias, já gastamos bom dinheiro a mandar garrafas para tras, pagando correios e até algumas fomos entregar de volta. São permissas da propria razão de ser do ETOVL, não são vergonhas nem coisas mal assumidas.

Gostamos de ser independentes e no entanto, não é por ser independente que tem automaticamente de se ser excluido ou alienado do que se passa nesse mundo - neste caso os vinhos.

Quando dizes que há produtores que convidam, que oferecem isto e aquilo - aqui o ETOVL via e sim, claro, da parte do produtor é uma acção de charme, de marketing muito localizado. Nós vamos, sempre que pudemos e não é pelo vinho oferecido ou pela viagem de autocarro paga pelo produtor : nós vamos pela experiencia, para conhecer bastidores que por outra não conheceriamos, para trocar opiniões e aprender : caso não haja ofertas de vinho no fim ou que a viagem de autocarro não seja oferta, nós vamos na mesma !

E aqui reside uma diferença fulcral : o ETOVL não aceita vinhos oferecidos, não por vergonha, não por falta de assumir algo mas sim e falo nesta parte por mim e sempre foi aceite assim por todos, por educação ; eu acho sim uma hipocrisia que uma Revista de Vinhos, uma Wine, a grande MAIORIA dos blogs de vinho que conheço, a nota abaixo de 12 seja um desconhecido, um mito. Não existe. Não se ve.

E é exactamente por não receber vinhos, por não os aceitar, que me sinto ao direito de usar uma VERDADEIRA escala de 0 a 20. E não uma simpática e educada escala de 13,5 a 20.

Porque eu se fosse produtor, ficava ofendido de mandar umas garrafas para um marmelo qualquer que me dá um 8 ou um 6,5. É natural, é normal, todos nós temos orgulho no nosso trabalho, no nosso esforço e suor.

Eu, ao não receber garrafas, dou-me ao direito de avaliar as coisas sem olhar para o facto de tenho de ter educação - porque foi assim que fui criado - em não ser mal educado no final, porque o sr deu-se ao trabalho de enviar e oferecer aquilo.

Acho no entanto e desculpa se desviei muito tempo o assunto para o etudoovinholevou, muito salutar quando levantas a mão e dizes "eu ganho dinheiro com isto" . Há sim, que assumir e por as coisas de frente.

Não vejo mal nenhum em que o faças e que o digas.

Acho mal sim, os hipócritas que dizem "eu tambem não ganho" mas depois é o que se vê. Eles é mandar mails a produtores para receberem caixas,elas, é pedir a ir provas com tudo oferecido e por ai adiante.

Ganhas dinheiro com uma coisa que gostas - é de louvar e bater as palmas nos dias que correm.

Eu infelizmente mas por outras razões, só tenho gastos que tudo no etovl me sai do bolso juntamente com mais duas ou tres pessoas.

Mas a a vida é assim - feita de escolhas.
Pingus Vinicus disse…
Gonçalo que belo post. Concordo em termos gerais com o que dizes, mas acho que fizeste uma interpretação literal das minhas palavras. Elas são acima de tudo provocatórias.
De qualquer modo, não embarco que tudo deva ser justificável com pretensos amadorismos e paixões simples e ingénuas. Do tipo não quero nada em troca. :)

Reforço, mais uma vez, a ideia que já partilhei noutros lugares de que não aceito silêncios sobre o que está em jogo, sobre o dinheiro que circula neste tipo de actividades (pouco ou muito, não interessa), pois como diz o outro não há almoços grátis, que há intencionalidade (e ainda bem que há) e se não há, devia haver.
O que me tocou ao ler as vossas posições foi, em todos os casos, a paixão que têm pelos vinhos. E, como todos sabemos, não há uma maneira única de viver uma paixão. Como apreciador e por tal e única razão seguidor dos vossos blogs, confirmo com alegria que estou entre gente decente. O resto não me interessa.
melena disse…
belíssimo post

no vinho, ou em qualquer outra área, faz falta frontalidade.

só por isso os meus parabéns

concordo e muito com a "hipocrisia" que o GP refere, de não se encontrar vinhos com nota inferior a 12

boas provas...
Pingus, não te percebo ; isto porque não entendo as entrelinhas nem as coisas gerais ; somos tão poucos, somos uma "meia duzia" de bloggers em Portugal e não percebo o porque de difundir as coisas, pondo-as difusas em vez de chamar os "bois pelos nomes".

Eu sou como sou, é defeito ou feitio, sou frontal e não me choca apontar dedos - faço-o sempre na ressalva de "é a minha opinião, tendo em conta os factos que sei.

Gostei da atitude provocatória mas está difusa demais a meu ver.

Eu sou amador confesso - isto porque pouco percebo de vinhos comparado com a grande maioria dos bloggers nacionais, que fazem isto há mais anos que eu ( em termos de vinhos ) e estou aqui para aprender - e muito o tenho feito - ao ler outros blogs, ler revistas, indo a eventos.

Percebo e concordo contigo - um produtor quando convida para um almoço, não é ingenuamente nem em porque se sente bem disposto e altruista.

Mas volto a dizer, e neste caso falo do que sei - no meu caso - uma coisa é aceitar garrafas e outra é ir a esses eventos. Claro que eles esperam que se escrevam sobre isso, que se faça "buzz e baraulho" sobre a visita. Mas sobre a visita e indirectamente sobre os vinhos deles e "espicaçar" curiosidade dos vinhos deles.

Se separares a parte das garrafas da parte das visitas, é possivel manter o registo : dou um exemplo muito prático, gostei IMENSO da maneira que fui recebido na Ervideira, uma simpatia extrema mas no entanto não sou grande fã dos vinhos deles - até o disse abertamente. E continuei a não ser grande fã ( tirando um ) e continuei a comprar vinhos deles e a não dar grandes notas no site, tal como o faria se não tivesse ido à visita.

A mim irrita-me de sobremaneira, como já referi, a hipocrisia das escalas, por causa da oferta dos vinhos, tal como já referi : o que caraças é feito do 11 ? e do 10 ? e do 9 ?

Não existem. Porque as pessoas tentam ser educadas e simpaticas para quem lhes deu uma garrafita de vinho e não convem ser mal educado.

Já recebi ofertas e recusei-as mas ha espaço e tempo para tudo - no nosso evento, no WineNique, houve garrafeiras que apareceram a nivel "institucional" e inclusivé produtores, que levaram ofertas - no entanto o conceito ali era diferente - e ficamos muito sensibilizado com muita "prenda" que recebemos e q partilhamos com todos.

Há uns que teem um blog porque querem dizer uns bitaites, outros que querem relatar experiencias e outros que almejam ser criticos de vinho - e não há mal nisso. Mal é como digo, esta nos camuflados.

E ir atras de camuflados com entrelinhas....

Bloggers profissionais, já o Jojoli dizia noutro sitio, não os há e eu não conheço - ganhar dinheiro é uma coisa, viver disso é outra.

Eu já fui professor de fotografia, já ganhei muito dinheiro com campanhas mas nunca fui a minha profissão principal - dai eu nunca dizer que fui ou sou fotografo profissional.

Para mim profissional é uma deifinição muito simples : quem vive exclusivamente dessa profissão.

La porque tens uma maquina xpto ou xpty não passas a ter um fotografo profissional, tal como do mesmo modo não passas a ser um profissional de vinhos só porque tens um blog com x visitas e provas os vinhos em copos da riedel.

Ganhas dinheiro com o teu blog, volto a dizer, é louvavel a tua posição de assumires as coisas.

Amadores somos todos, penso eu e desde já as imnhas desculpas se estou a esquecer-me de alguem, apenas uns mais que outros.
Pingus Vinicus disse…
Meu caro Gonçalo Proença, às vezes nem eu me percebo, mas não te preocupes, é mesmo feitio.

Mas afirmo que as minhas palavras não são difusas, nem generalistas, são provocatórias e burlescas. É que falta-nos humor, muito mesmo!

São palavras que tinham como objectivo discutir, sim discutir com frontalidade, e sem qual pejo, a rede, a ligação entre produção e nós.

Há ou não investimento envolvido? Há ou não intencionalidade? Há ou não ganhos financeiros ou gastos financeiros, como queiram, neste emaranhado?

É ilegitimo dizer, alguém, que se ganha dinheiro, atenta bem na semântica? Não se fala em viver só de...

O profissional foi burlesco, mas não descabido, pois em muitas das cabecinhas, ex eu, consideram-se e se acham como tal.

Tal como tu, gosto de apontar o dedo, e quando aponto é em direcção da minha pessoa aos meus defeitos, às minhas burrices, às minhas contradições, e olha que a factura tem sido elevada ;)

PS-Mais uma vez tenho que elogiar o teu post, e é com muito gosto que estou a conversar.
Tiago Machado disse…
Só tenho a dizer que gosto de ler as vossas opiniões de bloggers, gostei destes comentários trocados, mas não há nada como provar e beber os vinhos. :)

Tal como nos críticos de cinema, cada cabeça sua sentença.