Casa de Mouraz

Está calor, em demasia. Não gosto. O ócio, a indolência e a preguiça teimam em rodopiar, e em força, por estes lados. Um peso enorme, uma manta de inércia cobre as mãos, o corpo, a mente. Quase nada, ou nada, se consegue dizer ou fazer de jeito. Um fogacho aqui, outro acolá. Pouco mais.


Que se beba, então, que se desfrute mais uma vez e sem delongas. Que se adormeça, ainda mais, a carne.


Abriu-se, só, mais uma garrafa, alvitrou-se em segredo: só mais uma. Não fará mal. Amanhã, voltar-se-á ao trabalho. E o ciclo, o ramerrão (gosto desta palavra) continuará igual, cumprindo-se sem qualquer expectativa esperançosa os desideratos do dia-a-dia. Pura normalidade.


O vinho, que titula a epístola de hoje, é da Casa de Mouraz, é branco e é do Dão (sei que estão fartos da minha pregação) é cousa com enorme interesse. Líquido com requinte, sedoso e insinuante. Loucamente fresco. Maldito seja.


Bebeu-se até ao fim, sofregamente, como se o mundo ou o dia, para não ser demasiado fatalista, acabasse logo ali à frente. Pequei mais uma vez. Maldito seja.


Comentários

Antonio Madeira disse…
Gosto muito deste produtor.
Pingus Vinicus disse…
Há muito tempo, salvo qualquer falha de memória, que não bebi qualquer vinho de Mouraz. Este branco estava francamente bom. Muito bom mesmo.