Memórias: Grande Vinho do Dão

Este vinho, já com rótulo sujo, decadente, rabiscado por mim em jeito de anotação pessoal dedicada a uma filha, encerra uma enorme quantidade de passagens, de memórias que já foram. Muitas intimas, inexplicáveis e sem sentido.


É vinho, este Quinta do Corujão, que pertence a um lote, não muito alargado, adquirido por alturas de comemoração da vinda da primogénita. Escrevinhei em todos eles, os vinhos, uma simples missiva, com o intuito de aumentar sentimentalmente o valor de cada um, mesmo sabendo que poderão estragarem-se para sempre. Precavendo-me, de tal sina, fui bebendo e registando, em minutas soltas, pequenas frases, adjectivos.


Este vinho, agraciado com o titulo de Grande Vinho do Dão, coisa que não é para todos, surge numa época em que reencontro-me com o Dão, e com as minhas raízes. Recordo-o como algo muito especial, que representava ou representa a vontade de preservar outras formas de viver e estar na vida, onde o cavalheirismo era conduta normal e habitual.
Era, também, a época em que se vivia a Primavera no Dão, com o brotar tímido de vários projectos, dando a ideia que o futuro seria bem mais risonho. Será?


Um vinho que representa a passagem de testemunho, em que uma Maria foi para longe e outra Maria veio para perto. Espero um dia, se der, regressar a ele. Quando? Não sei. Terei que pedir, primeiro, autorização. Já não é meu.  

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