ABANICO

Abanico foi, para quem sabe, um adereço imprescindível na indumentária das senhoras, tivessem elas boa ou má conduta, durante largos anos. Servia para esconder parte da face, principalmente os lábios, as maçãs do rosto, alimentando o desejo dos cavalheiros, tivessem eles, também, boa ou má conduta. Era também apetrecho para afugentar o calor em dias de canícula. Quem não se lembra de observar as coxias de uma qualquer igreja repletas de Abanicos a esvoaçarem, enquanto o prior lá no fundo, em voz monocórdica, proferia mais uma homilia carregada de dogmas imperceptíveis? 



E curiosamente, não há muito tempo, assisti a um interessante bailado, de Abanicos, executado por meia de dúzia de mãos, já engelhadas pelo tempo. Mãos de senhoras, por certo, de outras épocas, que apesar do peso da idade, continuavam infinitamente belas. Devo dizer que sorri para tal cenário. Era coisa que não assistia há muito tempo.



E enquanto olhava para o rótulo, tragando o vinho até ao fim, devo-vos dizer que recordei imensos episódios em que a minha mãe, de face ruborizada pelo calor, tentava aliviar esse mesmo calor. Não era fácil para ela: Mulher loura e de pele bem clara. E eu, enquanto puto, assistia a todo aquele desespero.

Post Scitpum: O Vinho foi oferecido pelo Produtor.

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