Quinta da Lomba

Conheço a Quinta da Lomba desde que me conheço como gente. Desde que comecei a andar. Desde que soletrei os primeiros articulados verbais. Este espaço faz parte do meu imaginário. A quinta fazia e faz paredes meias com propriedades familiares e foram bastas as vezes que por lá andei a fazer poeira, a sacar uns bagos de uvas para comer no pico da tarde. Tropelias de rufias. 


Assisti à decadência, à formação das ruínas, até cair no abandono. Ainda assim, as suas uvas, em 2008, deram origem a um dos melhores vinhos brancos do Dão. Um vinho feito pela mão de João Tavares de Pina.


Agora faz parte do universo Niepoort. E desde a sua aquisição pelo actual proprietário que está a ser feito um trabalho de recuperação dos edifícios, das vinhas, dos muros, de todo o património que a quinta possui. Numa linha minimalista, sem grandes arrojos arquitectónicos, sem grandes modernices. E ainda bem. Consegue-se, assim, sentir aquele lado mais rupestre, mais bucólico e despojado da Serra. Existe coerência, respeito, enquadramento. E é com satisfação que observo a sua reedificação, o seu reaproveitamento. Num território que morre aceleradamente, qualquer investimento, seja ele qual for, é de registar.


Sobre as amostras de vinho que provei, mas em bruto, vindas das cubas de inox, dos tonéis, das barricas que são usadas, dos antigos lagares de cimento, ficou a ideia que temos aqui um conjunto de projectos que vão de encontro ao que Dirk pensa sobre o vinho, em que a elegância e a frescura parecem ser a linha mestra. Com muitas semelhanças, perdoem-me os entendidos na matéria, ao que é feito na vizinha Quinta de Baixo. Sendo, naturalmente, o desígnio mais recente de Dirk, iremos assistir com toda a naturalidade a afinações, a novas ideias, a novos vinhos (aquele Vinhas Velhas e Alfrocheiro). Mas o que importava mais, naquele momento, era calcorrear novamente cantos e recantos de um lugar que conheci muito bem. Digamos que é um lugar da História. Da minha.

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