Regressos: Herdade do Perdigão

Um gajo quando reaprende a andar sozinho, quando regressa ao básico, ao início, tem uma certa tendência para recuperar coisas que gostava. Na altura. Coisas ou momentos que, por uma ou outra razão, tinham tido significado. 
Não recordo a última vez que bebi ou simplesmente molhei as beiças com um vinho da Herdade do Perdigão. Facto que não me admira. A minha memória está, devido às porras da vida, cada vez mais degradada, deslapidada. É com dificuldade que recordo de forma coerente e sequencial.


Os vinhos da Herdade do Perdigão pertencem ao meu imaginário iniciático. São propriedade daquela altura em que comecei a pensar que era versado na ciência do vinho. Foram tempos de perfeita genuinidade, despida de preconceitos. Depois, não sei quando, perdi o fio à meada. Envolvi-me em demasia com assuntos, temas e problemas que não me pertenciam. Diziam respeito a quem retira abonos do negócio do vinho. Voltemos ao vinho, per si.
Sobre o vinho, podia dizer que tudo foi perfeito. Mas não foi. Mas o que importa, na verdade, é como acaba e não como começa. Na verdade, as primeiras impressões são, na maior parte, enganadoras ou incompletas. Nem o amor à primeira vista é perfeito. 


As primeiras cheiradelas, os primeiros tragos carregaram alguma desilusão. A madeira. O impacto era pujante. Mesmo suportado por uma bela acidez, maçou-me. Deixei-o de lado. E bem dita a hora que lhe ofereci o tempo. Não largando a riqueza, a untuosidade e opulência revelada inicialmente, manifestou outro lado. Um lado bem mais fino, mais elegante. Sedutor. Muito mais complexo. Foi  então bebido sem favores e com prazer. E com muita vontade. E é isto, meus caros, que conta. Que importa.

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