É notório que os vinhos da Niepoort surgem mais distantes daquilo que foram no passado. Tenho como crença - para não haver mal entendidos - que eram mais difíceis, reflectiam o verdadeiro carácter do Douro. Aquele Douro mais genuíno, mais rude, mais rústico. Pessoalmente apreciava o género. Dava gozo descobrir, vasculhar aromas e sabores. Eram autênticos pedaços de natureza enfiados numa garrafa que custavam a sair para o copo.
Agora, esses pedaços encaminham-se para um modo de vida mais urbano, mais cosmopolita. Que não esqueçam o berço que os viu nascer.
O velho Redoma decididamente quis, ou obrigaram-no, mudar vida. Todos temos esse direito.
Optou por um estilo mais moderno, mais apelativo. A conversa, agora, é bem mais fácil. Longe vão os tempos que era preciso ter peito forte para olhar de frente para ele. Caramelo, chocolate, baunilha e muitas sugestões fumadas marcam decididamente o estilo da colheita 2004. Olha-se e fica-se de olhos abertos. É bonito.
O cansaço surge quando vemos que os aromas e os sabores circulam, quase sempre, à volta da mesma coisa. Alguns bocejos saíram na esperança que surgisse algo diferente, algo que lembrasse aquilo que era no passado. Está completamente diferente. Para melhor? Para pior? Nota Pessoal: 16
Com o Batuta 2004, apesar de ter verificado, mais uma vez, a tal mudança de vida (Lembram-se dos Batuta 1999, 2000 e 2001?), a prova proporcionou um conjunto de tarefas mais difíceis. O corte com a tradição não pareceu tão acentuado. Confrontei-me com uma interessante combinação entre sugestões minerais, onde pontificavam muitos apontamentos de pedra lascada, e fruta madura (sumarenta). Caminhou sempre por entre trilhos frescos, onde os cheiros sugeriam terra, muita terra. A evolução terminou, aparentemente, num caldo onde o leite se misturava com o chocolate e onde as folhas de tabaco iam sendo queimadas em lume brando. Os sabores eram largos, cheios de vida, com duração longa. Um tinto com um elevado nível de complexidade. Nota Pessoal: 17,5
Optou por um estilo mais moderno, mais apelativo. A conversa, agora, é bem mais fácil. Longe vão os tempos que era preciso ter peito forte para olhar de frente para ele. Caramelo, chocolate, baunilha e muitas sugestões fumadas marcam decididamente o estilo da colheita 2004. Olha-se e fica-se de olhos abertos. É bonito.
O cansaço surge quando vemos que os aromas e os sabores circulam, quase sempre, à volta da mesma coisa. Alguns bocejos saíram na esperança que surgisse algo diferente, algo que lembrasse aquilo que era no passado. Está completamente diferente. Para melhor? Para pior? Nota Pessoal: 16
Com o Batuta 2004, apesar de ter verificado, mais uma vez, a tal mudança de vida (Lembram-se dos Batuta 1999, 2000 e 2001?), a prova proporcionou um conjunto de tarefas mais difíceis. O corte com a tradição não pareceu tão acentuado. Confrontei-me com uma interessante combinação entre sugestões minerais, onde pontificavam muitos apontamentos de pedra lascada, e fruta madura (sumarenta). Caminhou sempre por entre trilhos frescos, onde os cheiros sugeriam terra, muita terra. A evolução terminou, aparentemente, num caldo onde o leite se misturava com o chocolate e onde as folhas de tabaco iam sendo queimadas em lume brando. Os sabores eram largos, cheios de vida, com duração longa. Um tinto com um elevado nível de complexidade. Nota Pessoal: 17,5
Charme 2004. As palavras que tentei escolher, mesmo socorrendo-me de todas as comparações possíveis (mesmo aquelas hiperbolizadas), soaram a futilidade. Fatalmente caía em chavões, em expressões corriqueiras que tanto se usam por ai. Tiro o meu chapéu aos que dissertam sobre este tipo de vinhos. Eu não consigo.
Escusado será dizer que os argumentos usados por ele prendem pela subtileza, pelo equilíbrio, pela consistência. O perfume leva-nos, sem saber, para locais, para imagens doces. Reflectem um horizonte que não encontramos, mas que desejamos um dia poder observar. Os odores são frios. Os sabores são calmos. Existe paz.
É, sem duvida, um belo vinho, um excelente vinho. Censuro, apenas, o preço que é pedido, simplesmente porque não tenho dinheiro para o comprar as vezes que gostaria. Nota Pessoal: 18
Post Scriptum: Estaremos perante um piscar de olhos aos críticos e consumidores anglo-saxónicos?
Quando olhamos para este tipo de vinhos, vemos que vale mais estar calado. Nestes momentos percebemos que andamos a brincar com coisas sérias.
Quando olhamos para este tipo de vinhos, vemos que vale mais estar calado. Nestes momentos percebemos que andamos a brincar com coisas sérias.
Comentários
Bela prova
Voltamos aquela questao ja aqui falada....sera isto um caso de mudanca de perfil consoante as mares do mercado?
Abracos
Pedro Guimaraes
Boas provas!
Mudança de perfil? Para mim é!
"Um vinho desenhado para agradar numa prova cega, principalmente ao Robert Parker. Num estilo mais doce, cheio de caramelo, repleto de chocolate com leite e baunilha. Cativa, mas acaba por cansar dado o discurso monocórdico. Decididamente não gostei desta viragem, apesar de lhe reconhecer qualidade (e muita). Parecia dizer-nos que o passado é mesmo para passar à história. Desculpem-me o plenonasmo. Nota Pessoal: 16."
Olhar para estas palavras e para as que escrevi recentemente, as coisas não andaram muito longe.
PS-Não sei se tem muito interesse mas os ditos foram provados em prova cega.
Eu tenho impressão que o vinho tem vindo a ganhar um perfil muito mais sério, e tem vindo a afinar ao longo das colheitas. Comparando com o 1996 e este 2004 é um mundo de diferença, pelo que por mim vai no caminho que eu aprecio cada vez mais.
Atenção que temos de ter em conta factores como o ano de colheita que pode muito bem ser responsável por certas oscilações de ano para ano.
Caro Copod3 respeitosamente discordo da tua opinião. Para mim, os Redomas de 99, 00 e 01 foram sem dúvida os melhores. Com mais personalidade, mais Douro. Este parece-me "igual" a tantos outros.
Mas percebo que o "tal gosto pessoal" pode influenciar. Como sabes temos algumas diferenças neste capítulo (por várias vezes já foram discutidas entre nós). :)
Um abração
E sempre de louvar o aprefeicoamento da identidade....em direccao a qualidade. Ja a constante uniformatizacao dos vinhos, tenho duvidas
Abracos
Pedro Guimaraes
Não me parece ser uma questão de "terroir", até porque não é fácil saber de onde vem tanta uva...
No início era, de facto, um tinto muito próximo do "douro clássico" (cheio de fruta fresca e notas a esteva). Agora é mais compacto, complexo e exige atenção redobrada. Está, também, mais moderno é certo, mas bebi um 2003 faz pouco tempo (está no Saca) e estava muito bem e mesmo com uma acidez curiosa.
N.
Teremos a valorizar um estilo em detrimento de outro?
Assumo que este estilo de Redoma não é meu estilo.
Será que é difícil entender que todo o vinho tem o seu terroir, sim o Mateus Rosé também tem multi-terroir. O terroir é basicamente o habitat onde a vinha está inserida, e que se pode manifestar mais ou menos e conforme o jeito de quem faz o vinho.
Depois gostava que alguém me explicasse o que é um vinho cheirar ou saber a Douro ?
Isso vem em algum livro ? Já agora que tanto falam é porque devem saber, então digam lá os descritores das nossas zonas.
O terroir nao encerra apenas o habitat ou as uvas que compoem um vinho. A tecnica utilizada (cultura) e o clima sao parte integrante do terroir...
Ja quanto a descrever um vinho tipicamente "douro" nao e facil mas nao me parece que as baunilhas, o caramelo sejam tipicos do Douro....ainda mais relembro o Redoma, nas palavras do produtor, seria uma expressao do Terroir do Douro. Sendo assim encontro mais proximidades com as colheitas de 99/00/01 desta afirmacao - um vinho mais pujante, menos estilisado.
Aqui tambem ha um conceito que eu discordo: o da modernidade.
Entao moderno sera a madeirizacao do vinho, a proliferacao dos aromas e sabores internacionais? E neste caminho que queremos enverdar?
Eu pessoalmente gostava mais de ver o aperfeicoamento da identidade da regiao baseada num conhecimento exaustivo do Terroir, depois expresso no vinho. Acho que todos concordamos que o Douro tem "materia-prima" capaz do melhor....Parece-me que as grandes regioes do mundo o que oferecem e identidade aliada a qualidade.
Abracos
Pedro Guimaraes
p.s.-desculpem-me a falta de acentos
As baunilhas e os caramelos são típicos das barricas novas de carvalho francês, americano etc que antes não abundavam no Douro, e começaram a instalar-se com a passagem dos anos, no Douro e em todo o lado.
Mas quando as principais caracteristicas de um vinho sao a madeira nas suas vertentes de baunilha/caramelo vale a pena levantar a questao da identidade de um vinho ou zona...
Bebei muitissimos vinhos com 20meses em madeira (quase toda nova) e sem duvida que ela esta presente mas nao representa a identidade desse mesmo vinho...
Quanto a este Redoma(2004) se calhar com o tempo perdera esta marca e ganhara contornos menos "internacionais".
N.
Apesar de tudo o cunho, a alma do Douro ainda se sente em alguns vinhos e isso parece que não vai sair, o que eu acho muito bem.
Nuno o vinho clássico tem de ter história e isso apenas se consegue com tempo... por vezes mesmo muito tempo. Os clássicos que falas são os que todos nós provamos quando entramos nisto das provas, sejam eles do Douro, Dão ou Alentejo. A bem dizer nem eram assim tantas marcas como isso. Eu ligo os clássicos do Douro aos vinhos feitos ainda em grandes tonéis de madeira, tal como os balseiros em que estagiava o Pêra Manca tinto e deixou de estagiar. Agora temos um Pêra Manca com estágio em barricas... ou seja perdemos aquele aroma e sabor tão típico de um vinho com mais de 10 anos de vida. Para mim um aroma clássico do Douro e que não esqueço é o Barca Velha, o Reserva Especial ou mesmo um Quinta do Cotto Grande Escolha dos antigos. Com a chegada das novas tecnologias as coisas mudaram, mudaram para melhor mas esse toque que os vinhos antigos tinham foi-se perdendo.
Abraço e continuem que estou a gostar da conversa.
De qualquer forma, é preciso perder a "identidade" de modo a ser consumido lá fora?
Em última análise a tal falada "tipicidade portuguesa" que tanto é elogiada (mesmo lá fora) caminha a passos largos para uniformização típica do Novo Mundo.
Assistimos a modernizacao de varias regioes miticas no panorama mundial e salvo raras excepcoes (alguns produtores, digo) todos passaram a utilizar os avancos tecnologicos em proveito do seu terroir. Identificaram as "novidades" que melhor se encaixavam no seu terroir e utilizaram-nas para polir/precisar os seus vinhos.
Eu pessoalmente nao tenho grande vontade de vinhos que nao me contem uma historia....de onde sao, como foram feitos e quem os fez. Nas tres perguntas procuro sempre uma coisa identidade/cultura. Muitas vezes sao estas vertentes que fazem o consumidor abrir os cordoes a bolsa.
Abracos
Pedro Guimaraes