Permitem-me?

Estão filiados num clube onde raramente entro. São vinhos que raramente bebo e raramente são descritos por mim. Quando acontece, é com muito cuidado que o faço. Nos brancos, nos tintos, nos moscatéis e nalguns colheitas tardias aventuro-me um pouco mais além, atrevo-me a ir mais longe, consigo trocar algumas ideias com vocês. Quando a coisa vai até aos Vintages e Colheitas fico, quase sempre, pela observação. Ouço quem sabe. Mas agora não aguentei, não resisti. Vim a terreiro partilhar algumas palavras sobre o Niepoort Vintage 2005 e o Niepoort Colheita de 1976. Permitem-me?

O primeiro é um típico exemplo de um Vintage bastante jovem, com muitas sugestões químicas. Depois de quebrado o colete químico, a fruta madura (ameixas pretas) apodera-se do vinho. Vastas sugestões de violetas rompem por entre o (enorme) aglomerado de frutos e perfumam o vinho. A presença de odores minerais refrescam o nariz. As especiarias, uma ponta de baunilha e o caramelo fecham um bloco espesso, escuro e negro.
Ao entrar pela boca mostrou, mais uma vez, a força da sua juventude, o seu vigor. Pastoso e muito mastigável.
Um generoso que irá caminhar, certamente, com segurança durante muitos anos. Fica apenas a (minha) dúvida. Bebê-lo enquanto jovem ou deixá-lo adormecer uns belos anos. Por mim, é já. Não sei se estarei cá ao virar da esquina. Nota Pessoal: 18

O segundo, engarrafado em 1997, ditou uma pauta diferente. Uma pauta que aparentemente percebi melhor. Era a (minha) inocência a pregar partidas. Perfumado, muito cheiroso.
Fingiu ser frágil. Servia, apenas, para caçar, prender ao copo.
O desprender do vinho libertou uma profusão de aromas que iam desde o verniz, a madeira, a folha seca, o tabaco, o caramelo, a canela e muita farripa de laranja caramelizada. Encontrar outras palavras, outros adjectivos, tornaria este texto vácuo, inócuo, palerma. Não quero.
É um vinho que, apenas, pede para ser bebido, desfrutado, não para falar dele. Nota Pessoal: 18,5

Post Scriptum:
As minhas notas revelam a falta de referências. Acredito que haja melhor, muito melhor. Mas que fazer quando não existe com quem comparar?

Comentários

Fernando Souto disse…
"Bebê-lo enquanto jovem ou deixá-lo adormecer uns belos anos. Por mim, é já. Não sei se estarei cá ao virar da esquina".

Pois é, por via das dúvidas, uma já marchou e as outras marcharão em breve.

Saudações enófilas
Blacko
Pingas no Copo disse…
Blacko, é o melhor!

Abraço
Anónimo disse…
Podem-se sempre esquecer de uma lá bem guardada por casa...
Aqui encontramos dois problemas: o custo de cada uma que faz com que não haja muitas e o ter um bom local para as fazer descansar em paz. Se isso acontecer acho que vão ser recompensados:)

Pingas, percebo o que dizes com a solenidade de avaliar um vintage ou um colheita. Tenho também alguma dificuldade em falar sobre eles, pela complexidade, concentração e estatuto que estes vinhos adquirem. O que vale é que quando tenho oportunidade de os provar fico sempre maravilhado.
Boas provas!
NOG disse…
O vintage da Niepoort é muito bom, efectivamente. Está tão bem na boca que duvido que a sua evolução o vá melhorar substancialmente. Para mim, os mais secos vintages (eg., Dows) são os que mais ganham com o estágio em garrafa, e a colheita de 2005 não está para vinhos secos, bem pelo contrário.
Já o colheita de 76, esse é de um campeonato diferente - é prodigioso!

N.
Pingas no Copo disse…
O problemas com este tipo de vinhos é que para além de serem bastante caros, só devem ser bebidos em boa companhia.
NOG disse…
Ora aí está uma grande verdade!

Ab.

N.