Dei comigo, como sabem, a questionar-me, nos últimos meses, sobre o papel que desempenho na blogosfera enófila. Sou assolado, mais uma vez, por diversas questões que deviam ser discutidas, sem qualquer pudor, por todos os eno-bloggers. A bem ou mal devíamos falar delas, descascarmo-nos, em público, até à infima partícula. Seria, na minha opinião, um sinal de maturidade, de crescimento, de reflexão extrema. Seria o ponto de partida para um desenvolvimento mais sério, mais estruturado e, quiçá, seríamos mais respeitados por outros intervenientes no meio. No final, as ilações podiam e deviam ser aproveitadas pelos vários projectos bloguistas que proliferam na rede nacional. Até agora nada, ou pouco, foi feito neste sentido. Vagueia no ar, uma sensação de medo, de vergonha em exibir as debilidades pessoais.
Depois para defendermo-nos, atacamos os outros com pólvora seca e fugimos para dentro da toca. Fechamo-nos nos nossos territórios, enclausuramo-nos nas nossas crenças e achamos, todos, que somos ou seremos, um dia, um crítico a sério. A nossa actividade bloguista, até ao momento, cifou-se no débito de notas de provas e classificações, muitas delas inócuas, muitas delas repetitivas, muitas delas sem valor acrescentado. Como tornear esta dependência?
Alguma vez pensámos nas palavras que escrevemos? Alguma vez parámos para reflectir no que dizemos? Usamos, continuamente e sem controle, inúmeros termos que, no fundo, não sabemos o seu significado. O quer dizer, por exemplo, um vinho complexo? Ou elegante? Diz-se bem, ou mal, de um vinho seguindo que critérios? Não creio que estejam, esses critérios, fundamentados pelo conhecimento técnico, pela imparcialidade ou pela independência!
Vamos, se houver vontade e talento, substituir o paradigma ou iremos ficar satisfeitos com a vida que levamos?
Comentários
A esclarecer que não sinto qualquer obrigação em dizer quem me envia vinho ou deixa de enviar, não deixo de ser mais honesto ou mais independente por o dizer ou não, e assim o vou continuar a fazer.
Gostei no comentário acima de ler o pedaço da crítica soft...eu acho é que anda tanta gente com vontade de dizer aquilo que pensa dos vinhos mas ninguém tem coragem e então anda tudo no empurra empurra a ver se aparece algum corajoso, demigod, que o faça. Será que mora neste Portugal uma falta de coragem na hora de dizer o que um vinho vale ? Ou será que se ganha um estatuto de guerreiro da tribo apenas porque se abateu um hipotético mito da aldeia vinhateira ? Há essa necessidade para alguns egos e cabeças pensantes ? Se sim eu não me importo de empurrar uns quantos que o justificam plenamente para a fogueira, só não sinto nem vejo que haja essa necessidade apenas para o gáudio de alguns.
Como não ando a passar a mão no pelo de ninguém nem deixo que ma façam o mesmo, talvez por isso não tenha sido convidado a voltar ao tal Jantar da RV (eles bem tentam), tenho cá as minhas certezas que quanto todos os blogs de vinho acabarem em Portugal, o meu ainda cá vai andar... talvez porque devo ser o único que pretende levar isto a sério e muito mais que um hobby ou uma diversão, como é para alguns. Mas isso sou eu a falar e respondo apenas e só por mim.
Rui concordando com grande parte não te entendo em certo ponto, concordo que se deve agir, mas quem é que quer agir quando anda sempre tudo parado, ninguém se mexe para fazer nada, mas começas a pensar no papel que tu desempenhas na blogosfera e acabas a falar em todos os outros... afinal que questões são essas que não acabaste por referir ? O problema é que se fala fala mas ninguém faz nada, falam falam mas ninguém consegue organizar nada porque na hora H ninguém aparece e todos fogem. Talvez a maneira de estar de muita gente devia ser repensada profundamente, eu sou como sou, nunca mudei e quem não gosta meta ao lado, não é por isso que vou deixar de continuar a ser feliz.
PS: Pingus se vires por aí caído um machado de dupla folha... é meu.
Sabes que temos ideias diferentes. E entre nós existe estima, respeito e enorme amizade! Na guerra, no combate, tem de haver honra entre adversários.
Andamos nisto algum tempo, amamos o vinho, somos apaixonados por isto, por isso não devemos ter pudor, nem vergonha em discutir os assuntos. Cada um de nós deve tomar o caminho que acha melhor e defende-lo! Nada contra. Agora, acho que é um erro crasso andarmos a fingir, a olhar para o lado e que nada acontece.
Basta ver que no grupo de bloggers no facebook em 32 apenas falamos 12... é pouco, muito pouco para se querer ter peso enquanto grupo. Apesar dos amigos que sei que tenho e com quem posso contar, este é um caminho que se deve fazer sozinho mas contando sempre com o apoio de quem como nós caminha na mesma terra. Aprendi isto quando fui a pé a Compostela, o caminho faz-se sozinho mas contamos sempre com o apoio daqueles que tal como nós fazem o caminho, cada um pelo seu motivo mas dando apoio uns aos outros... eu continuarei o meu caminho como sempre.
Como já tive oportunidade de me prenunciar, no PWB, era excelente que houvesse uma maior intrusão de ideias com resultados práticos, mas infelizmente esta realidade não existe pelo menos no imediato.
Mas que se lixe! Como já alguém disse, “O caminho faz-se caminhando”. O importante é que o façamos sempre de bem conoscos mesmos. Nos nossos blog’s com independência e isenção, no formato que cada um entender. O resto? O resto são tretas e de fomentadores de tretas está o mundo cheio.
Rui, também eu, estou cá para ficar! Só espero que neste meu caminho possa vir a encontrar companheiros como aqueles, que merecidamente, tens à tua beira.
PS. Pingus Se por acaso encontrares por ai uma lança é minha.
Tocas, resumidamente no fundamental!
PS-Quero ver o campo cravado e não deserto como costuma ser hábito,por isso força.
Criei o meu blogue para poder divulgar, dar a conhecer e conhecer mais ainda sobre vinhos, que é uma coisa que realmente
gosto, e deparei-me com uma realidade um pouco diferente do que pensava ser, como tudo na vida. Porém, também conheci
pessoas que tentam lutar, sózinhas ou não, por uma diferença, por uma ideia que é possivel transmitir aos consumidores,
leitores, produtores, distribuidores, etc. Mas, com pena minha, vejo que em tanta gente que rodeia este nosso pequeno mundo,
são poucas aquelas que o querem ver mudado. Falam, dizem isto e aquilo, mas na hora de agir, piu. Só falo do que se passa comigo,
e a ultima coisa foi eu ter arranjado produtores dispostos a darem uma manhã à malta bloguer, bom para ele que divulga o seu produto,
e para nós, que provamos e comentamos se foi a gosto ou nem por isso, e o que é que aconteceu? Nada, tive que desmarcar porque só 2 pessoas
é que disseram que iam, outas não podiam e outras que se avizinha uma prova no final do mês e que era muita coisa junta. Não queria
de maneira nenhuma tirar a malta de casa, mas era uma manhã, uma vez por mês, em que se podia fazer um pequeno encontro mensal da malta,
conjugando um produtor e uma boa conversa. Sem trabalho nada se faz, e sei que muitos de vocês, mais velhos e que cá andam à mais tempo do
que eu, também lutam, ou não, por um dia se perceber que esse trabalho resultou. Com toda a certeza vou continuar a solo a fazer aquilo que
tenho em mente, e também acredito que nesse caminho vou encontrar pessoas com o mesmo objectivo, mas também sei que em 100 vou poder
contar com 4 ou 5, e isso entristesse-me, mas é a vida.
A necessidade de repetir constantemente estes temas. A forma circular onde acabam os argumentos. A forma umbilical como entramos nestas discussões, começa a dar-me sinais muito claros quanto às respostas das tuas perguntas!
Talvez seja melhor canalizar as energias para a construção e desafiar aqueles que considero válidos a participar na obra! Talvez um dia destes o faça!
Até lá! Acho que vou meter férias! ; )
Abraço
HM
O que eu acho, mas serei só eu, é que não devemos ficar por aqui. A minha lógica é da cidadania, do cidadão que pensa.
Eu não estou farto de reflectir, será eventualmente défice pessoal, insegurança, insatisfação. Terei que resolver ou moldar este tique. Não fico, ou não ficava, facilmente satisfeito com o que há/com o que tenho.
Em última análise e se não conseguir dar a volta e chegar onde pretendo, encerrarei o Pingas no Copo. Não serei o primeiro e não serei o último.
Por mais argumentos que se apresentem, por mais ângulos que se mostre, continuamos todos a seguir o caminho que levava-mos antes. Logo, não vale a pena o esforço!
Eu percebo muito bem o que dizes, comunidade não pressupõe unanimidade! Parece que, quando é para assumir responsabilidades ninguém quer a comunidade, todos são amadores que não querem passar disso! Mas quando toca a receber amostra, jantares, visitas, já a coisa muda! Aí já há pretensões, mas… cada um na sua que isto de provar vinhos e vomitar uma apreciação é um trabalho individual e do foro intelectual! Logo, a comunidade é algo que se bane do contexto destes novos supercrítico, perseguidos por um sistema, voraz consumidor de recursos e manipulador das opiniões. Num dias mandam-se pedrinhas a esse enviado de Sauron, no outro esfregamos as mãos na esperança de que o correio traga o tão esperado convite para integrar o exercito Ork… desculpem, Uruk Hai, que para soldado temos de ser logo topo de gama (para quem não tem uma mente doente, os nomes citados, pertencem ao universo do Senhor do Aneis).
No final, até percebo a tua preocupação e a ameaça que paira sobre o teu espaço, precisamente pelo comportamento da comunidade! Como compreendo não te posso fazer pedidos, mas posso, isso sim dizer-te que para algumas pessoas, onde eu me incluo e, pelos vistos, mais gente nestas respostas, os bloggues não são todos iguais, assim como os egos de quem neles escreve! Não te preocupes, da minha parte, saberei sempre fazer a distinção! Não sei o que vale isso, mas é o pouco que tenho para te dar!
Forte Abraço
Creio que todos, em maior ou menor intensidade, volta e meia nos vemos refletindo sobre a própria existência em nossa blogosfera a não ser que, como o João Pedro e alguns outros amigos que possuem um projeto bem dileniado, haja aí um cunho profissional.
Gente como tu e eu, entramos nisso por pura paixão, subimos num trem sem destino em que a viagem é mais importante que o destino e o fazemos por puro deleite e prazer. O problema é que a criatura ás vezes toma conta do criador e aí, nem sempre existe o prazer e se torna obrigação até pelo volume de gente que nos lê. Viramos reféns de nós mesmos e do que criamos perdendo a alegria, assumindo uma responsabilidade que nos é imposta pelos leitores e não pelos players de mercado.
Eu optei por escrever quando posso e me dá na telha sem me cobrar tanto e sem esperar mais nada de ninguém. Ajudou, mas não solucionou!
Não gostaria, já te disse isso antes, de perder a oportunidade de regularmente ler as opiniões e cronicas sobre o vinho emitidas por ti, o "mestre da pena", mas o importante é a auto-preservação. Meu recado, faz o que te dá na telha e te faça sentir melhor. Não ferindo ninguém no processo, vale tudo, até parar, mas duvido!Teu compromisso, se é que existe, é com teus leitores, não com a cumunidade vinica ou blogueira.
Forte abraço e ainda tomaremos juntos mais uma garrafita de Millésime!! Salute.
Um forte e sentido abraço!
Lamento, mas estou com vós, pelos não alinhados. E já se provou isso, lembram-se??? foi em Janeiro de 2007, faz agora 4 anos, Yotk House. E os Jantares da malta do vinhoacopo? Lembram-se? Só não estive no último, com pena minha. Afinal já houve umas coisas giras...
Forte Abraço