Pingas do Dão e Douro (Parte II)

E assim foi. Terminou mais um Dão e Douro. Um momento de excelência, num local de uma beleza irrepreensível (Pestana Palace), fazendo esquecer que no dia seguinte iríamos voltar às nossas vidinhas. Enfim para a dura realidade.

Foi possível trocar verdadeiros dedos de conversa, sem as pressões das multidões, sem olhar para o relógio. Num ambiente calmo e descontraído. As caras que por lá andavam começam a ficar intimas. Partilham-se opiniões mais abertamente, com menos rodeios. Ganha-se confiança.

Aproveitei, também, para conhecer e rever algumas das caras que estão por de trás de rede. Uma verdadeira legião de enófilos que andam a falar do líquido de Baco, usando as novas tecnologias. Uma realidade que começa a ter algum peso e demonstra o crescente interesse que o mundo do vinho despertou nos consumidores, sejam eles mais experientes ou menos experientes.

Lanço, agora, para a refrega alguns nomes que ficaram registados na minha memória e que me farão andar por aí, desesperadamente, à procura deles. Alguns já eram meus conhecidos, outros nem por isso.
Para memória futura, deste blog, temos então os seguintes premiados:

Nos brancos:
Castelo D’Alba Vinhas Velhas 2004
Este vinho corre o risco de entrar para o meu lote de vinhos brancos preferidos. Começo a depositar muita confiança nele. Parece ser uma paixão à primeira vista. Algo passional. É uma opinião controversa, Mas que se lixe! Eu adoro o vinho. Pujante. Corpo. Acidez. Sabor. Para durar.
Tenho regularmente provado o Vinhas Velhas de 2003 e o seu comportamento tem sido mais que consistente. Está ainda vivo.

Lagar de Darei 2003
Ora aqui está um vinho que anda muito longe dos olhares dos consumidores. Um lote de encruzado, bical e arinto. Feito ao arrepio das modas. Numa linha, num perfil que há muito desapareceu. Não é frutado, não é exuberante. Não anda com lantejoulas. Mais sóbrio. Foi concebido como se de um vinho tinto se tratasse. Vem ao mundo já com alguma idade. Tem muito carácter, muita personalidade. Não é consensual. Lembra os antigos brancos que duravam muitos anos. Memórias perdidas que eu gosto de recuperar.

Quinta das Maias Reserva 2004
Uma novidade de um produtor conhecido pelos seus encruzados. Este Maias é feito de encruzado, malvasia fina, verdelho e barcelo. Um vinho que veste bem. De forma elegante e distinta. Sem sobreposições, sem exageros. É preciso ter o nariz bem focado. Fresco, mas não refresco. Mineral, floral. Para beber com calma e para meditar!

Nos tintos:
Quinta da Vegia Reserva 2003
Quando nos apaixonamos por alguém ou por alguma coisa, e quando essa paixão se tranforma em amor, devemos ter muito cuidado com o que dizemos ou com o que escrevemos. As nossas palavras poderão ser exageradas e pouco equilibradas, mostrando alguma cegueira ou estado febril. Mas sinceramente é assim que fico quando bebo, provo, degusto este vinho. Deixo de procurar aromas e sabores e apenas me dedico ao prazer.
Um conselho, não ligue apenas aos nomes famosos. Provei também o 2004. Na linha do Reserva 2003.

Quinta da Pellada Touriga Nacional 2004
Lembram-se do Touriga Nacional de 1996? Lembram-se do Pape? De outros vinhos? Percebe-se porque é que este touriga nacional ganhou recentemente um painel de vinhos do Dão que a Revista de Vinhos fez. Violetas, bergamota, chocolate. Denso, corpolento, estruturado. Altivo. Um vinhão. Vai durar bastante tempo. Por agora, está um pouco casmurro.
Quinta dos Roques Touriga Nacional 2003
Este vinho tem sido como uma criança, que tenta crescer de forma saudável. Quase o vi nascer. Observei-o quando estava no berço. Reparei nas primeiras passadas, Senti que, às vezes, não andava seguro. Deu alguns trambolhões. Agora, pareceu-me que estava mais crescido, mais responsável. Mais definido. Agora sim, acredito que na sua evolução. Vai ser alguém.

Dão Borges Reserva 2003
Um senhor que conheci no ano de 2001. Na altura, poucos lhe deram importância. Passava despercebido. Este ano voltou a andar por lá e mais uma vez sem ninguém lhe dar o real valor. Fechado, mas havia qualquer coisa que me despertava e alimentava a minha curiosidade. Para tomar contacto com ele no futuro.

Aneto 2003
Devagar, devagarinho este vinho vai aparecendo por aí. Começa a ser falado. Vale a pena que o seja. Pois tem muito para mostrar. Elegante, com presença. Envolvência. Um projecto interessante.

Quinta das Pias 2003
Para quem não provou o Grande Escolha, este Pias acabou por ser um belo representante deste produtor. Ou melhor deste conjunto de produtores. Profundo, denso. Mineral de comportamento. Austero. Era capaz de comprar umas botelhas…Fiquei com a pulga atrás da orelha!

Kolheita 2003
Lembrava o Douro da minha infância. A adega dos meus avós. O cheiro dos lagares, do granito. A esteva, o restolho. As frutas silvestres que se apanhavam. Passou-me pela cabeça os saquinhos de cheirinhos que se colocavam nas mesinhas de cabeceira. Tinha toques de rústico, mas envolvia.

E depois para finalizar em apoteose nada mais do que terminar com o Charme 2004 e Batuta 2004. Nada direi sobre eles. Não tenho capacidade para tal. Estão numa dimensão diferente. Cada um no seu lugar e eu coloco-me no meu...
Para o ano há mais...assim espero!

Comentários

Anónimo disse…
Carus Pingus Vinicus,

obrigado pela presença na prova.

re-activei o meu blog http://gotaepinga.blogspot.com/
após ano e meio de pausa.
tem um link para aki.

saludos
joão
Pingas no Copo disse…
João, fico contente pela reactivação do blog. Mais um, para sermos ainda mais!

Fico à espera de novidades!

Abraços
Rui
Chapim disse…
Caro Pingus

Não sei se foi opinião generalizada, mas a prova do DaoeDouro foi realmente muito agradável.

Como era só uma tarde, infelizmente não dava para provar todas as pérolas que nos eram tentadoras, mas mesmo assim deu para degustar alguns luxos que não são para a minha bolsa...

Além de alguns dos vinhos que nos fala no post, ficaram-me na memória mais dois ou três..

O Encruzado da Qt Cabriz que estava no meu entender sublime, incrivelmente fresco e mineral..

O Tiara amostra de 2005, algo exótico com um perfil muito diferente do panorama nacional, mas não o meu tipo preferido de brancos..

Nos tintos, Dado... Dado... Dado.
O terceiro. Veludo puro

Poeira 2004, o perfil continua. Uma elegância bem longe da gordura e músculo de muitos Douros afamados

O Charme tal como o Pingus, sem palavras para o descrever.

E no final 2 vintages: Tecedeiras e Taylors. Com anos e anos para poupar uns cobres e investir numas garrafas.. Mas mesmo assim tnho de começar já hoje a poupar...
Pingas no Copo disse…
Caro Chapim, para mim foi mais um momento de muito interesse. Até ao momento fiz o pleno nos Dão&Douro. É mais intimista e possibilta com mais facilidade a partilha de ideias entre os consumidores e os produtores. Não existe a pressão das multidões. Espero que continue a ser possível a realização deste envento em Lisboa.

São as minhas regiões. Por razões familiares estou intimamente ligado a elas.

Um abraço cordial.