Quinta de Saes 1991 e 1992

Vim de fim de semana. Acabei de chegar. Já descarreguei a mala do carro. Como sempre, aproveito estas viagens relâmpagos para trazer aquelas coisinhas saborosas que ajudam a matar saudades. Agora só daqui a um mês, lá voltarei.
Bom, mas não é da minha viagem à terra que vos quero falar. Também não é ainda a tal prova que vou escrever. Preciso de tempo, concentração para relatar tudo o que se passou nessa noite. Por isso, esperem mais um pouco. Por agora, vou só registar mais um momento feliz do meu percurso de enófilo.
No sábado à noite, recebi um convite de um amigo meu para beber um copo, na sua quinta. Tudo bem, nada de mais. Falei com a minha mulher e lá fui. Chegado ao destino, fui presenteado por duas raridades do Dão. Duas garrafas de Quinta de Saes 1991 e 1992. Dois exemplos que podem retratar aquele Dão mais clássico, rústico, mas possuidor de uma personalidade muito própria e vincada! São vinhos que fazem parte da história do Engenheiro Álvaro Castro e do seu percurso como força motriz de uma região que andava completamente moribunda no início da década de noventa do século passado.
Dois vinhos cheios de cor, sem dar sinais de morte, capazes de durarem outro tanto. Bem equilibrados, com uma matriz aromática coerente. Sugestões balsâmicas. Muito mato, muita casca de pinheiro. Fetos e musgo. Impressões de verniz. Algumas bagas. O lado mineral aparecia através de toques a carvão. Alguma tinta da china. Na boca os dois Saes eram envolventes, sedosos, elegantes, redondos, se bem que o 1991 era mais robusto, com mais corpo. Bebiam-se com muito prazer.
Todos aqueles que são apaixonados pelo mundo do vinho deviam ter a oportunidade de provar estas pérolas. Fazem-nos crescer, fazem-nos olhar para o vinho como um produto da terra, do lavrador, na natureza. É o que é! Não tem tecnologia. Não é manipulado. Não é informatizado. Não têm lantejoulas. São sóbrios. É preciso perceber e compreender. O tempo vai encarregar-se de nos dizer se valeu a pena esperar! Claro que valeu.

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