Douro sombrio

Parece que existem vinhos que definem muito bem um estado de espírito ou uma época do ano. Neste caso, e apesar de terem sido provados em momentos diferentes, bem podiam ter sido no mesmo dia. Num destes dias de chuva, já escuros na cor.
Vinhos que não percebi, que não entendi, que pouco prazer deram. Ambíguos, sem alma, sem chama (não aqueceram o corpo). Fizeram-me, mais uma vez, pensar na eterna questão: Vale a pena existirem tantos produtores?
Cabe-me a função de partilhar o pouco prazer que tive. Dois Produtores do Douro. Dois desconhecidos.
Alva Corgo 2005, Quinta da Azinheira, Santa Marta de Penaguião.
Aromas simples, directos, onde morangos envolvidos em licor de aniz e cacau marcavam presença. Algum vegetal fresco.
Uma boca gaseificada, que fez lembrar um verde tinto. Estranho, muito estranho. Ausente de sabores, demasiado neutro.
Nota Pessoal: 11

Estopa Reserva 2003, José Pinheiro.
Aromas que lembravam leite com chocolate, muito docinho. Ameixa preta. Mais uma vez directo, sem dar qualquer pica na prova.
Boca muito doce, demasiado cansativo, eternamente chato.
Nota Pessoal: 11,5

Que venham melhores dias, mais risonhos, mais acolhedores. Hoje, estou particularmente cansado. Foi um dia duro, senti-me desamparado. Parece que fui atropelado por um cilindro. Farto de gente mesquinha, que dá mais importância ao acessório do que ao essencial. Farto, empanturrado de gentalha que está à espera que os outros falhem.
Volto para a semana. Vou com a minha filha e companheira ver o resto da família, que anda lá por cima. Pode ser que recupere das minhas desventuras.

Comentários

Anónimo disse…
Coração ao alto, homem. Os ares da serra vão fazer bem, certamente. E umas pingas do Dão, obviamente.
Anónimo disse…
Partilho a opinião, quanto ao numero de produtores. O resto, Há dias difíceis...
João Barbosa disse…
Há claramente produtores a mais, mas terá de ser o mercado a atirá-los para fora da competição.
Por mim, gosto que existam produtores maus para dizer mal deles, para haver termo de comparação, para me lembrar como era este país há uns anos (o que melhorou, meu Deus!), gosto de apanhar uns barretes e farto-me de rir, gosto de ver o ar de chico-espertos e outros «especialistas» a dissertarem sobre o que não vale a pena. Por mim, ficam os produtores todos!
No Douro tenho apanhado alguns barretes... alguns nem conto, porque metem dó ou porque são erros de principiante, pelo que fico a rir-me sozinho.
Saudações e continuação de boas provas
Anónimo disse…
Mas, penso que, quantos mais produtores houver, também provávelmente haverá preços baixos no mercado, e apesar dos barretes, vão-se encontrar bons vinhos ao nível da minha carteira...temos é que andar com a pestana aberta!!!
Pingas no Copo disse…
De facto, a maior competividade no mercado pode trazer algumas benesses para o consumidor. Mas no meio de tanta oferta, levamos sempre com alguns barretes (e não são poucos)