Falar de vinhos, que ostentam nomes de respeito, com peso na opinião pública e na critica é um desafio árduo e complicado. O nível de exigência que se coloca é alto. E poucos conseguem atingir esse patamar. É como se estivessemos perante uma Liga dos Campeões. Por esta razão, nem todos os que provam e bebem vinho são críticos (e ainda bem). A maior parte de nós pertence à enorme falange dos tais que lançam umas bocas para impressionar os amigos ou aqueles que ainda não largaram o Monte Velho, o Esteva ou o Grão Vasco (naturalmente, enquadro-me neste grupo).
Várias vezes, confronto-me com a minha real incapacidade em descrever, comentar ou falar sobre muitos ícones. Se sabem bem, se deram prazer, se são saborosos, a coisa até acaba por correr bem. Umas palavras simples mais a respectiva nota dão o toque final e safo-me. O barbicacho acontece quando a história não tem o final que desejaríamos.
Olhemos para o vinho em questão. Foi provado em prova cega (não sei se é importante). Estava no meio de um lote alargado de vinhos. Todos eles com manias e tiques diferentes. Brutos, enjoativos, leves, ácidos, incaracterísticos, complicados, chatos, maníacos. Enorme conjunto de variáveis, que confundem. Momentos em que as capacidades de análise são levadas ao máximo. Assumo, sem qualquer problema, que me escapam pormenores. Talvez demasiados. Muitos defeitos ou virtudes não são detectados por mim e provavelmente nunca o serão.
E no palco da prova, o Quinta da Gaivosa 2003 (Domingos Alves de Sousa) teve o privilégio de me baralhar, de questionar as essas capacidades, pois não lhe detectei qualquer característica que o diferenciasse, dos seus companheiros de prova. Exibiu, em demasia, um estilo muito igual a tantos outros. Sem deslumbrar, sem dizer nada em concreto, sem falar comigo de forma explicita. Com aromas a fruta madura, por momentos até madurona. Algo doce. Na boca, pareceu-me ter uma acidez alta, um pouco desarticulada do conjunto. Com um corpo mediano. Durante a prova, só me ocorreram palavras e adjectivos que geralmente uso para caracterizar vinhos com nomes mais modestos. O fatalismo de ser mais fácil prender um pobre do que um rico. Até nos vinhos!
Quando mostraram o rótulo. Corei de vergonha. Será que não percebi o vinho? Nota Pessoal: 15
Post Scriptum: Embaraço total.
Comentários
Tendo em conta que o Rui Miguel é um enófilo conhecedor e (aqui é que o contradigo e apelido a sua auto avaliação de humildade em demasia) com um grau de experiência elevado, será que se poderão saber quais os vinhos que precederam e sucederam ao Qta da Gaivosa 03 nessa prova?
Como vez, o problema de alguns vinhos nunca é do vinho em si mas de quem o prova ;) dizem eles... haha
Mas não foi mesmo um vinho que me tenha deixado graaaandes memórias.
Não te embaraçes, que isso em castelhano é perigoso :)
A este respeito, dos vinhos do Douro, sugiro que leiam a entrevista de João Portugal Ramos na Revista de Vinhos, a que me referi nas Krónikas Vinícolas. Ah, e outro dia bebi um Quinta do Crasto, que... Falarei dele um dia destes.
????????????
Não tinha água a mais o copo???
O que quis dizer foi que achei o vinho demasiado delgado de corpo, aliás tinha-o provado o ano passado e a impressão tinha sido completamente diferente. Desta vez, por sinal, também provámos o Vintage do Vale Meão e também nos pareceu mediano ao pé de outros.
Abrç,
N.
Abração.
Rui
Há dias assim, em que por mais que se prove não se chega lá, tudo parece esquisito e não se consegue gostar de nada. Em todo o caso pareceu-me estranho o destaque pela negativa ao Quinta da Gaivosa tinto 2003. Também eu já provei por várias vezes este vinho e o que posso dizer? É um grande vinho!Talvez o melhor Gaivosa de sempre (embora ainda conserve bem presente na memória o célebre 95!) e sem dúvida um dos grandes lançamentos deste ano. Muito se fala de elegância mas por vezes os exemplos chegam a ser bizarros. E as bombas sempre no topo, quando quase nem um copo se consegue levar até ao fim. Desafio-os assim a provar este Gaivosa 2003 e a descobrirem o quão elegante e sedutor pode ser o Douro.
P.S. Recordo-me que, num outro blog, já se tinha pronunciado negativamente em relação a este vinho, questionando o porquê estar na lista dos melhores tintos do guia do JPM e na altura ainda mais estranhei porque depois de alguns comentários admitiu que ainda nem sequer o tinha provado (!?!). Será que também corou de vergonha nessa altura? É que opinar sem sequer ter provado...
Espero que encare este apontamento de uma forma positiva, em jeito de reflexão para o futuro.
De qualquer modo, não é a primeira vez que me vejo confrontado com a uma prestação abaixo do desejável, por parte dos Quinta da Gaivosa. E posso-lhe dizer que já provei o 1999, 2000 e o 2003.
Admito, com toda a naturalidade, que não perceba o vinho e que muitos detalhes me possam ter passado ao lado. Longe de mim, pensar que eu estou correcto.
Como sabe, a prova de um vinho está feita de factores subjectivos que podem contribuir, em muito, para uma apreciação menos positiva.
Naturalmente, o seu post fez-me reflectir. Tentarei provar o Gaivosa 2003, novamente. Se tiver outra opinião, virei aqui afirmá-lo.
Com os meus melhores cumprimentos