À procura do Filão (Montes Claros Reserva 2004)

É o que dá ser um eno-dependente. Ser incapaz de controlar os ímpetos da descoberta. É doentio, e meio alucinante, esta necessidade constante de vasculhar novos vinhos. Como dizem os nossos amigos brasileiros: "garimpar".
Algumas vezes este garimpar é provocado pelo que se lê, pelo que se ouve. Então dois eno-dependentes de último grau, juntaram-se no meio da noite, meio escondidos, para garimparem e tentar encontrar o verdadeiro filão: Montes Claros Reserva 2004. Havia indicações de que seria algo extraordinário. No entanto, as impressões ficaram um pouco abaixo das expectativas. O filão não era assim tão valioso. Havia aqui, além, umas pepitas mas não na quantidade certa para ficarem satisfeitos.
Essencialmente o filão descoberto apresentava uma tonalidade granada/escuro de concentração mediana. Libertava aromas de média intensidade, a revelarem fruta madura e compota. O vegetal e ligeiro floral alegravam a noite. À medida que garimpavam brisas de baunilha, cacau em pó e tabaco de enrolar iam aparecendo, de forma discreta, quase imperceptíveis, mas acolhedoras. Foi preciso parar, por momentos, para terem a certeza do que cheiravam. Lá do fundo o balsâmico brotava, mais uma vez, de forma discreta. Na boca, comportamento mediano, onde se sentia a fruta, o vegetal entrelaçado com o cacau e a baunilha, onde uma corrente balsâmica que os acompanhava a um final de persistencia mediana. Um conjunto que não revela grande complexidade, valendo mais pela harmonia, pela discrição e elegância. Para a quantidade (120 mil pepitas) está bem feito.

Qualidades do Filão: Castas Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Tinta Caiada. Estágio: 12 meses em carvalho francês e americano - 14% Vol.

Post Scriptum: Texto da responsabilidade dos Blogs Pingas no Copo e Copo de 3. Na generalidade as impressões destes dois enobloguistas foram, são idênticas. O que os distancia são apenas questões de pormenor, de cariz pessoal, de explicação difícil. Sobre o vinho a sensação com que ficamos é que estamos perante um vinho que dá uma prova interessante. Dá prazer ser consumido enquanto jovem. Claramente uma aposta ganha pela Cooperativa de Borba. Um vinho que custa na adega 5,30€ e que revela ser uma bela relação preço/qualidade. Apesar de tudo, existe um mas. Falta-lhe mais amplitude, um bouquet mais estimulante e com maior evolução, que não fique estático passados 15 minutos. Que evolua um pouco mais no copo.
Estávamos à espera de mais. É um facto. As informações que corriam por todo lado indicavam que estaríamos provavelmente perante um autêntico achado. Mas a realidade, pelo menos para nós, não foi bem essa. Continuaremos a garimpar, à procura de outros filões, de mais pepitas.
Copo de 3: 16
Pingas no Copo: 15,5

Comentários

Anónimo disse…
Por causa do "frisson" causado pelos 18 pontos da BW, fui a correr comprá-lo. Provei-o ontem e devo dizer-vos que concordo em asboluto com a vossa análise.
Tal como já me referira noutro blog,acho que stamos em presença de um bom vinho e perante uma excelente RQP. Ponto Final.
As notas tal como o gosto são muito subjectivas e pregam-nos partidas com esta: é que a julgar pelos números poderíamos ser levados a pensar que estaríamos perante um garnde vinho.
Saudações enófilas
Blacko
PAULO SOUSA disse…
A mesma coisa se passou comigo,já provei o vinho em prova cega e não achei que o vinho tenha capacidades para obter 18 valores.
Concordo com a vossa análise e a minha nota foi só de 15 valores...

Um abraço

Paulo Sousa
Anónimo disse…
O Montes Claros que tenho na memória é dum tempo em que não havia muitas marcas feitas em Portugal e o Alentejo era uma pálida imagem do que era hoje.
Há um tempo para tudo e houve um tempo para se construirem marcas míticas e hoje quem quer acreditar nelas ainda acredita. O frisson da BW tem tanto de deslumbramento quanto de naïf quanto de nofo-riquismo. Pura e simplesmente, a revista é desequilibrada do ponto de vista da prova e quem quer acreditar nela, acredita. O Montes Claros Reserva é um vinho pouco mais do que banal, que a BW resolveu pôr nos píncaros, na sua ignorância e falta de experiência. Por muito que custe, ainda falta em Portugal crítica vínica e concorrência na impensa. Existe a Revista de Vinhos, que é fraca e nada mais. Em contraponto leiam publicações estrangeiras e não pasquins.