Requinte com Valle Pradinhos

Viver com luxo, ter uma vida faustosa e requintada não é decididamente para todos. No passado reis, senhores, ditadores, deixaram um legado de magnificência, de opulência. As pomposas pirâmides, o aparatoso palácio de Versalhes, construído por Luís XIV, as idílicas jóias dos Romanov são exemplos de ostentação pura e dura. Vidas caracterizadas por despesas supérfluas, pelo gosto da ostentação e do prazer, sem qualquer preocupação pelo próximo. Aceleraram a queda de regimes, despertaram a revolta do povo, do povo que vivia na miséria, que não tinha pão para comer.
Hoje voltamos a ver a opulência, o luxo, mesmo ao nosso lado. Convive, voltou a conviver paredes meias. É exibida sem qualquer respeito, agredindo quem não tem. Os vinhos não são excepção.
Existem vinhos luxuosos, vinhos feitos à mão, onde não escapa nenhum pormenor. O preço, esse, é elevado. Fazem sonhar o enófilo pobre (acredito piamente que um enófilo, um apaixonado por estes temas - vinho - não tem que ser necessariamente endinheirado). Em muitos casos o preço pedido é o equivalente ao de uma peça de joalharia.

Nunca pensei com Valle Pradinhos 2003, um tinto transmontano, fosse possível viver durante algum tempo em opulência, com requinte. Bebendo excelência. Bastante moderno, com toques afrancesados (não sei bem o que quer dizer, mas esta expressão dá um toque fino). Atraente, envolvente. De uma terra rude, agreste, sai um vinho digno da mesa do rei. Todo o impacto aromático é de uma qualidade que me assombrou, cheio de classe, delineado de forma quase irrepreensível. Muito gentil no trato. Toques florais, (violetas, flor de laranjeira) notavam-se vincadamente, passando discretamente pelo cacau amargo. A fruta tinha um lado pecaminoso. Adocicado com rebuçados e açúcar em pó. Aqui, além, foram surgindo nuances a menta, eucalipto e madeiras exóticas. Enriqueceu com notas terrosas, envolvidas por um vegetal fresco, viçoso, vivo, que ajudou a conferir uma frescura assinalável.
Na boca, cheio, gordo, sem gordura (isto é, sem enjoar). Fresco e frutado. Mantém a linha exótica, mentolada. Com bom prolongamento. Por 10€, nunca me passaria pela cabeça obter prazeres tão requintados, tão luxuosos. É obra um mestre criar jóias tão baratas. Nota Pessoal: 17

Comentários

Anónimo disse…
Caro pingus,
bela nota, belo vinho... É de facto um caso à parte. Uma casa com tradição que não esmoreceu com os anos de vida.

E o branco está na minha lista de preferências. É belo!!

Boas provas!!
Pingas no Copo disse…
Chapim, fiquei admirado com o vinho. Muito mesmo. Fui bebendo ao longo de dois dias e nunca foi abaixo.
Um autêntico achado, uma pérola meio perdida nas prateleiras dos Hipermercados.
Gostei muito.
Anónimo disse…
Caro Pingus, o Valle Pradinhos é efectivamente um vinho excelente, de Trás-os-Montes, o que prova que também nas terras altas se pode fazer bom vinho. No entanto, (os espanhóis dizem "pero" que é mais apropriado) as saudades que tenho do Valle Pradinhos de há 10 anos, quando ainda não era conhecido, era barato, diria mesmo dado, e principalmente tinha as características do vinho de Trás-os-Montes. Não se queria fazer passar por um Douro. Quer fazer-se como os seus irmãos durienses, mas com vergonha, ainda que um hoje continue um bom vinho. A grande diferença estava no adocicado que não tinha. Todas as outras características que descreves, de uma forma superior, estavam lá. As flores estavam lá, mas mais exuberantes, mais selvagens. O cardo, as giestas, as papoilas, os malmequeres. E depois, isso não perdeu, ainda que se esteja a desvanecer. A terra. Terra molhada, como quando no verão chove e nos entra pelo nariz aquele “sabor” fantástico, que só no campo se pode entender completamente. Depois deste meu regresso, nada melhor que a possibilidade de poder “beber” este Valle Pradinhos em boa companhia. Obrigado.AJS
Anónimo disse…
Que bela maneira de regressar. Excelente comentário. Bem-vindo de volta caro AJS!!

Boas provas!!
Anónimo disse…
Caro Pingus,

Tive o prazer de beber este vinho no Abel em Gimonde a acompanhar uma bela posta. É daqueles que dá prazer e que apaixona. O Rui Cunha continua a fazer alguns dos melhores vinhos do Douro.

Abraço,

João Chêdas
Pingas no Copo disse…
AJS, que saudades! Que tens feito?
Luis Prata disse…
Já estou tentado. Vou à procura deste luxo.

1 Abraço
Anónimo disse…
Andei a fazer uma inspecção às novas valências do Ministro da Saúde, pelo que ainda não estou em condições de entrar na "Prova à Quinta", apenas posso fazer provas de memória, mas em breve estarei recomposto. Um abraço e boas provas.AJS
Anónimo disse…
Olá Pingus Vinicus,
Conseguimos comprar uma garrafa do Porta Velha da Valle Pradinhos aqui no Brasil. Você já teve a oportunidade de degustar este vinho? Mesmo sabendo que é o vinho mais simples desta vinícola ficamos com uma boa impressão(nossos comentários estão no nosso blog...aproveito para convidá-lo a visitar!). Parabéns pelo Pingas no copo, gostamos muito!!
Abs.,
Pingas no Copo disse…
Viva, Le Vin au Blog, de facto já provei, várias vezes, o Porta Velha. Um vinho muito correcto para o dia-a-dia.

Abraços
artur caldas disse…
sei que o vinho valle pradinhos é um grande vinho,suo um pruficional de hotelaria, estou à procura de conhecer as castas que compoem o vosso vinho tinto e não encontro nenhuma informação nesse sentido vou continuar à procura, pois tenho interesse em coloca-lo na minha carta de vinhos