Muga 2006. Um branco da Rioja

Viver num país produtor de vinho, à primeira vista, oferece inúmeras vantagens. O vinho está, mesmo ali, à mão de semear. No entanto, quando se trata de vinhos estrangeiros, o cenário altera-se substancialmente. O natural afastamento de vinhos oriundos de outros países faz com que na hora da escolha surjam (muitas) dúvidas. Os nomes são desconhecidos e pouco ou nada dizem (não falo das super-estrelas. Essas são conhecidas em todo o lado). O aprofundamento do conhecimento vai evoluindo conforme a disponibilidade da carteira e dos euros que ela contém.
Foi embrulhado nesta bruma que escolhi um branco espanhol. Muga 2006 (Bodegas Muga). Um branco da Rioja fermentado em barrica e construído por Viura e Malvasia Fina numa relação de 90% para 10%.
Muito suave no trato. Aromas a flor, fruta branca e erva verde, marcaram o acto de apresentação. Um ligeiro fumado, juntamente com uma agradável ponta mineral, melhorava a prestação do vinho, tornando-o mais rico, um pouco mais desafiante. Pequena evolução para uma curiosa sugestão a coco (ok, bem sei que o tema está na moda, mas eu gosto de inventar aromas!).
Na boca perfilou-se crocante, com um nível de frescura correcto. A madeira comportou-se de forma adequada, sem exuberâncias desnecessárias.
Um vinho que valeu pela sua discrição, pela forma calma e branda como se comportou. Certinho é o epíteto mais correcto que se lhe pode dar. Custou-me 6€ e repetiria a compra. Nota Pessoal: 15,5

Post Scriptum: Estive a ler a última Revista de Vinhos (mês de Julho). As machadadas dadas deverão ter algum objectivo. Esperemos pelos contra-golpes. No entanto, avançaria com uma linha de pensamento, para mim, muito importante. A democratização do comentário, da opinião, só tem ajudado o consumidor.
É de extrema importância que todos comentem, que falem sobre o que acham e digam-no sem preconceitos, sem qualquer imposição e fronteiras. Aqui entre nós, o exame não é técnico. É emocional, é passional. Com defeitos ou sem defeitos, não interessa. É neste pressuposto que devemos centrar o movimento enobloguista (assim acho). Porque aqui não existe mercado. Apenas o consumidor a falar com o coração na boca.


Este texto foi um pequeno interregno, enquanto mudava as roupas. As malas levam, agora, botas e acessórios de montanha. Até breve.

Comentários

Anónimo disse…
Só a primeira frase já me enlouquece. Viver em um país produtor de vinho. Claro que aqui no Brasiltbm. tem vinhos, mas na Europa é bemmmm melhor.

abraços
Anónimo disse…
Caro pingus de facto o artigo do JPM espingarda em várias frentes. E é um belo artigo. Não interpretei que se dirija aos blogs.
Como tu dizes e bem aqui não há mercado. Ou não deve haver pelo menos.
Interpretei que se dirige a mil outras formas de crítica e críticos que aparecessem não se sabendo bem de onde.

Mas é um bom artigo e faz-nos pensar.

Boas férias!
Luis Prata disse…
Concordo contigo e com o Chapim, acho que no dia em que a blogosfera deixar de ser frontal, passional e emocional, o consumidor perde, ou seja, nós perdemos.

Boas férias
Obviamente que o artigo não reverte a favor dos blogs, por pena de algumas almas atormentadas. A visão vai mais além dos pixels, vai para uma suposta chamada de atenção para um certo bom senso por parte de quem faz critica de vinhos e assina com o seu nome.

Refere que ao dizer que um vinho é bom quando apresenta claro defeito é obra, e mais obra é, quando numa nota de prova se inventam mais de 20 descritores... ao que intitula de infatilidade vínica.

Antes ninguém tinha a coragem de dizer o que pensava, muito menos num mundo como este da prova, ou porque parecia idiota ou porque simplesmente era algo remetido para os endinheirados.
Hoje em dia temos um fenómeno saudável que se chama BLOG, onde cada um diz o que bem quer, e certo é que nem todos são obrigados a ler o que por lá se escreve. É como as lojas, nem todos somos obrigados a entrar em todas as lojas que vemos numa rua...

É fundamental que as pessoas se acostumem a blogosfera, se acostumem à livre opinião e acima de tudo a que os blogs de vinhos vieram para ficar... e que muitos dos que criticam talvez lhes falte a coragem para terem um.

Uma coisa é certa, nunca o vinho Português teve tanta projecção na Internet a quando do aparecimento dos blogs.
Anónimo disse…
Acho que há aqui duas realidades: uma os denominados críticos e outra os blogs. São realidades diferentes que aparecem de forma diferente.
Enquanto a crítica aos denominados críticos se encaixa mt bem e é extremamente actual, número de cursos, de guias, de criticos, etc.. não considero que a crítica do artigo se dirija aos blogs.
Nos blogs as pessoas que escrevem assumem-se como apreciadores, apaixonados pelo vinho que gostam de partilhar as suas experiências.

A atmosfera que envolve estas duas realidades é claramente diferente. Enquanto os denominados críticos nos vendem um produto ou vários (guias, cursos) nos blogs a atmosfera é de partilha de experiências, de diálogos!

O facto de eu poder estar aqui a escrever isto prova exactamente o que acabei de escrever.

Boas provas!
Bem isso dá quase para um slogan...

Blogosfera Nacional - O vinho mais perto de si :)
NOG disse…
O texto tem um objectivo e um propósito. Ambos são enunicados no inicio do artigo e até no título.

Quanto à relação entre a internet e a opinião/crítica de vinhos, já nada é simples. Temos, por exemplo, críticos que escrevem livros de provas e mantêm um site.

Nuno
Eduardo Lima disse…
Amigo Pingus,

Essa � a grande diferen�a entre Robert Parker, Michel Rolland, Hugh Johnson... N�s podemos ter um enoblog, eles n�o.

Grande abra�o e boas provas na montanha