Douros distintos

Por vezes, sou assaltado por momentos enófilos que pode sugerir que sou eno-esquizofrénico. Com comportamentos distintos quando confrontado com vinhos distintos. Pessoalmente, passo do céu ao inferno e vice-versa, com alguma facilidade. Assumo que gosto daquilo que gosto e não me preocupo, ou eventualmente perceber, do que não gosto. Reorientado o que disse, diria que a caminhada que tenho vindo a fazer dá-me (algumas) seguranças pessoais para escolher e beber (e comprar) apenas o que gosto e o que quero. Não tenho, como disse mais que uma vez, paciência para andar atrás do que os outros dizem. Tive, já, alguns dissabores pessoais por dizer que não gostei determinado vinho. Primas Donas que não podem ser tocadas, nem sequer questionadas. Acredito que os gigantes também se abatem. Lembrem-se de David e de Golias.
Esta lenga-lenga serviu apenas para introduzir dois vinhos tintos do Douro que são sintomáticos do meu comportamento enófilo e, ao mesmo tempo, obrigar-vos a perderem mais um pouco do (vosso) tempo disponível. O primeiro, Pilheiros Grande Escolha 2004 (engarrafada por Lavradores de Feitoria) é um exemplo de um estilo que ainda teima em aparecer. Marcado pelos excessos (que dominaram a toda a linha). Continuo a não perceber (provavelmente défice pessoal) a continuada aposta em vinhos marcadamente brutos, com pouca educação, que magoam, que arrepiam. Que arreliam (não vale a pena chatear-nos com coisas que deveriam fazer precisamente o contrário). Usam do exagero para se mostrarem, para marcarem a diferença. Nota Pessoal: 13
No outro lado, temos um Estopa Vinhas Velhas 2003 que revelou um acerto, uma classe que merece aplausos (da minha parte). Aplausos para uma delicadeza, uma suavidade reconfortante. Acalmava, não irritava. Um tinto que dificilmente se antipatiza, que facilmente agrada (ou não). Lembrou aquelas pessoas que são aceites em todo o lado. Diplomatas, conciliadoras, que gostamos de ouvir falar. Os aromas, os sabores mostravam uma cadência certa. Um belo e interessante vinho. Nota Pessoal: 16,5

É incrível como os olhares sobre o vinho podem ser tão díspares, tão antagónicos, tão diferentes. No abstracto, o ideal seria um vinho feito a partir desta dupla. No fundo, representam o que o Douro tem para oferecer. Rudeza, excesso, sedução, paixão.

Comentários

Elvira disse…
Sinceramente, admiro a sua escrita. :-)
Pingas no Copo disse…
elvira, gentileza sua.
Anónimo disse…
Nós por vezes para passarmos pelas situações, temos que vivê-las plenamente. As boas e as más. É como o vinho, temos que provar, e sentir aquilo que estamos a beber, para poder críticar negativamente, se for o caso, sem preconceito.
Anónimo disse…
Caro Pingus...

Bem-vindo de ferias. Quanto ao artigo, bem escrito como de costume, fez-me pensar que a critica "profissional" e alguns comerciantes com voz na net, ou nao sao isentos (ha que vender!!!!), ou entao sou eu que tenho um conceito de vinho "extraordinario" (Citado) diferente. O Pinheiros G.E. 2004, que provei recente 'e mais um irmao da confraria das compotas, nada subtil ou cativante. Parece-me feito para impressionaveis ou para facil impressionar. Com isto nao lhe chamo zurrapa, por que nao o 'e, mas extraordinario...tenham do!!!! Ja o Estopa V.V. 2003, fiquei muito curioso. Pode saber-se o preco?

Abracos
Pedro Guimaraes

P.S.-perdoem-me a falta de acentos - teclado Checo!!!!!
Pingas no Copo disse…
Viva Pedro Guimarães, tenho muito medo de indicar o preço de um vinho, porque a facilidade em ser contrariado é, deveras, enorme.

No entanto, poderei dizer-te que é um vinho que se situará num intervalo entre os 15€-20€.

Abraços
Anónimo disse…
Pingus,

Como vai isso?

Já conheço o Estopa Reserva 2003 e gosto bastante.

Onde é que arranjaste este Vinhas Velhas?

Abraço
PF.
Pingas no Copo disse…
Viva padrefrancisco, olha provei esse vinho (e o outro) por intermédio da garrafeira Coisas do Arco do Vinho.

Abração
prtbarata disse…
Caro Rui,
Provei-o este fim de semana e está em grande forma... mas que belo vinho!