Marquês de Borba (Alentejo) Reserva 1997 vs Marquês de Borba (Alentejo) Reserva 1999

Meti-me mais uma vez no meio da nobreza. Voltei a trocar argumentos, palavras, ideias com ela. Há que colocar tudo na mesa e clarificar assuntos pedentes.
Desta vez, o debate aconteceu com o Marquês de Borba, na sua versão Reserva, colheitas 1997 e 1999. Saltemos as palavras dos arautos, dispensemos os toques das cornetas e passemos ao vinho que estava encerrado nas duas garrafas.
Marquês de Borba Reserva 1997. Ano do primeiro Reserva. Foi vinho que durante muito tempo desesperei por não beber. Dizia-se mundos e fundos.

Em 2009, apresentou-se muito calmo, meio melancólico. A sua atitude denunciou uma forma de estar, no copo, longe da altivez que o seu estatuto social poderia induzir. Cheiros suaves. O primeiro odor que entrou pelo nariz a dentro tinha aspecto muito parecido ao pó talco. Intensificava a graça, a meiguice. Pedindo sempre atenção, o vinho foi cedendo aromas. Sem pressas. Figos e outros frutos secos. Folhas secas, indiferenciadas, e folhas de chá misturavam-se formando uma compilação de várias sensações. Mudou de conversa e passámos a falar de sobre outras coisas. Caramelo, chocolate com leite. Um pouco de tostado e especiaria deram ao vinho um lado mais moderno, mais trabalhado.
O sabor que deixava na boca era fino, quase gracioso. Tinha, ainda, acidez. Dava-lhe vida. Curiosa presença de citrinos e de licores. Um pouco de químico e outras coisas, que não sabia o que eram, encerraram o desfilar das sensações.
Apesar do prazer que tive, fiquei com a impressão que o que estava dentro desta garrafa não iria evoluir muito mais. Ainda bem que foi aberta e vertida no copo. Nota Pessoal: 16,5

Avancemos dois anos. Reserva de 1999. Notaram-se algumas mudanças na forma de estar. Consegue, e ainda bem, mater a graciosidade, a leveza. Pareceu-me, genéricamente, mais fresco, mais húmido. Os aromas passeavam entre terra remexida, preta na cor, e cascalho. Revelou, a dado momento, uma original faceta vegetal. Fetos, ou coisa que o valha. Casca de árvore e flores secas. Pensem naqueles saquinhos que se metem aos cantos para irem perfumando a roupa ou a casa. Sugestões de madeira envernizada. O velho armário que está lá no fundo e que guarda aqueles rebuçados da avó. Baunilha.
O paladar é muito semelhante ao outro. Manteve a finura. Voltou a apresentar a bendita frescura. Essencialmente balsâmico e com discretos apontamentos minerais. O final deixava na boca uma sensação de harmonia. Um vinho para se beber com calma, muita calma. Nota Pessoal: 16,5

Post Scriptum: Dois belos vinhos, bem evoluídos.

Comentários

Anónimo disse…
O meu amigo tem andado, ultimamente, a provar muita coisa cara.
Pingas no Copo disse…
É meramente o resultado de um conjunto de acontecimentos. Nada mais.