O Dão e os Vinhos Velhos: A nova moda!

Vou, durante alguns minutos (espero que sejam breves), entrar na moda, falar, ou não, não sei ao certo, de coisas que são sinónimo de actualidade (mesmo que sejam, porventura, temas do passado).
Nos últimos dias, envolvi-me, assisti a conversas em que o vinho velho, e do Dão, era tema central. Reparei que a nossa agulha anda a querer mudar de sítio. Passámos, de repente, a dizer ou afirmar (mesmo sem grande conhecimento) que os vinhos velhos do Dão são, de uma forma genérica, um enorme tesouro (que andou escondido). Um aglomerado de pedras preciosas que ninguém, ou quase ninguém, sabia que existia. Em uníssono, as nossas bocas abriram-se de admiração, de enorme entusiasmo. Tinha sido descoberto um motivo de atracção (os outros: dizer mal da touriga nacional, exigir a reabilitação de outras castas, pedir menos graduação alcoólica, vinhos elegantes...). Assim, podemos alimentar a fornalha com mais uma carrada de lenha. Quando esta acabar, outras eventualmente aparecerão. Acredito piamente que este novel tema acabará, fatalmente, por morrer. Tudo se resume a meras tendências conjunturais. Terminado o interesse, resta-nos limpar as ruas dos papelinhos que usámos. Nada mais! Posto isto, a vida regressará à vulgar normalidade.
Mas antes de voltar ao habitual, deixem-me contribuir, só um pouco. São apenas dois vinhos. Brancos (do Dão) e oriundos dos finais dos anos oitenta.
Porta de Cavaleiros 1987 saiu da garrafa, mostrando vida. Vinha limpo, sem cheiros impróprios. Inicialmente envernizado. Depois, e sem aviso prévio, muda para um inesperado aroma frutado, com o alperce, o pêssego, o damasco, a laranja a surgirem (de forma impositiva) na frente das ventas. Os olhos arregalaram-se com tamanha intensidade. Conseguiu, sem esforço aparente, manter-se assim durante a noite.
Com o Casa da Ínsua 1988 (engarrafado pela José Maria da Fonseca) a relação, entre mim e ele, foi diferente. Este vinha mais gordo, mais glicéreo. Frutos secos, pão torrado. Depois, e durante um tempo que não fui capaz de contar, fui sentindo uma leve impressão doce que orientava os meus sentidos para o leite creme. Caramba! Senti-me perturbado com aquele cheiro. Virei a cabeça procurando por aquilo. Nada. Voltei a encostar-me na cadeira e continuei.

Olhando para trás, abrindo que está guardado cá dentro, relembro os extintos anos. Foram loucos, vividos com intensidade. As namoradas, o futebol, as discussões estéreis. Um sem número de peripécias que recordo com um sorriso.

Post Scriptum: Cada botelha custou 2€. Foram dois tiros de sorte. Enorme sorte.

Comentários

AJS disse…
Caro Pingus. Tenho um Insua de 1955, optima colheita, ou não fosse o ano que nasci. Não pensava provar porque seguramente deve estar "passado", mas depois de ler a tua analise sobre o 88 estou com curiosidade.AJS
Pingas no Copo disse…
Estimado AJS, falas de um vinho branco?

Sabes que provar um vinho com idade o risco que corremos é muito elevado. Depois existem enormes diferenças de garrafa para garrafa.
AJS disse…
O problema é mesmo esse o vinho é branco. AJS
Anónimo disse…
Caro Pingus,

Apesar de eu não ter grande afinidade com pontos...porquê não pontuares os vinhos?

Um abraço,

Pedro Guimaraes
Pingas no Copo disse…
Pedro, por não ter pontos de referência, porque não consegui. Achei que atribuir pontos seria um acto artificial.
Não é a primeira vez que tenho este comportamento perante vinhos com alguma idade.
Vinhos Velhos são para desfrutar, relembrar a história.

Um abraço
Anónimo disse…
Tive o prazer de provar tb estes dois brancos.
De facto bastante interessantes.
Agradou-me particularmente o segundo. Concordo com a opinião do Pingus, acrescentaria apenas que foi um vinho que se apresentou com um belo corpo e muito boa acidez.
Foi um "tiro" de sorte mas próprio de Enófilo atento, que sabe o que gosta e que não anda ao sabor de "marés"...um Duro Arqueólogo :))