A estória tinha como trama central a Quinta da Leda. O enredo foi sendo preparado sem grandes cuidados. Serviria, apenas, para abrir a época das provas. Cada um traria o que tinha em casa. Simples. O resto do conto decorreu sem grandes momentos de suspense. Todos estavam certos daquilo que tinham à frente das beiças. Eu cheguei a jurar a pés juntos, com as mãos bem cerradas, gesticulando com veemência, que sabia o que estava dentro de cada copo. Não iria demorar tempo para ficarem despidas as pretensões a provador sabedor. O ridículo acercou-se de mim quando as garrafas começaram a surgir em cima da mesa. O rei ia nu!
Destapadas as garrafas verificámos que tínhamos colheitas repetidas de Quinta da Leda (2000 e 2001). O vinho enfiado em cada uma delas tinha tido um comportamento tão díspar, tão anacrónico que conseguiu enganar mente, nariz e boca. Chegou ser o Dia e a Noite. Os comentários, as notas pessoais faziam antecipar enormes diferenças no que respeita aos anos das colheitas. Embeiçados pelos enganos, acercou-se um gélido silêncio na mesa.
As causas tentaram ser descortinadas: local onde o vasilhame foi comprado, o tratamento que teve até chegar ao dia do julgamento final. Tudo era plausível para justificar as divergências.
Este imbróglio acabou por ser um exercício curioso. Permitiu compreender in loco, e mais uma vez, que o acto da prova é efectivamente uma actividade carregada de subjectividade. Duas garrafas da mesma colheita podem ter comportamentos completamente antagónicos. Posto isto, é altura de começarmos a introduzir nos nossos comentários expressões do tipo: o vinho que estava nesta garrafa, naquela garrafa.
A título de curiosidade deixo-vos aqui alguns traços sobre os meus erros.
Quinta da Leda 2000 (a). Mineral. Acreditei piamente nisto. A face parecia carregada de cores da terra. Pedra, lagar. Flor silvestre. Cedros. Do princípio ao fim vagueou longe da doçura. Vernizes, encerados. O sabor era balsâmico, fresco, bem mentolado. Nota Pessoal: 17
Quinta da Leda 2000 (b). Licoroso. Ginjas, bombons. Rebuçados. Folhas de chá, erva seca. Um curioso odor a terra quente. Na boca, mostrou-se estranhamente rico, amplo, viçoso e a contrariar o cheiro. Sim senhor. Nota Pessoal: 15,5
Quinta da Leda 2001 (a). Os cheiros criaram empatia repentina. Toques modernaços de chocolate de leite misturados com tabaco e caramelo. Mudou algumas vezes de aspecto, passando para um estado mais húmido e terroso. Sempre perfumado e com boa dose de complexidade.
O paladar era doce, mas estava amparado pela acidez. Bem composto, coeso e homogéneo (três palavras que dizem o mesmo). Pecou no excessivo uso de tiques novo mundo. Mas isso são coisas minhas. Nota Pessoal: 16
Quinta da Leda 2001 (b). Cheio de fruta cristalizada, um pouco pesado no aroma e no sabor. Quente, evoluído e com aparentes sinais de cansaço. Pareceu-me ser vinho sem capacidade para fazer abrir a boca de admiração. Conseguiu, ainda assim, manter algum equilíbrio durante a noite. Nota Pessoal: 14,5
Os outros: um brilhante e respeitado Quinta da Leda Touriga Nacional de 1997 que estava soberbo, cheio de nuances aromáticas. Fino e elegante. Mais não digo. Nota Pessoal: 17. E um recente 2007 elegante, cheio de juventude e irrequieto. Fruta (para alguns era preta), chocolate, novamente tabaco e fumo, e outras coisas parecidas, com um pouco de esteva e terra pelo meio. Frescura quanto baste. Nota Pessoal: 16,5
No final, enfiámos uns tragos de um vinho que nasceu numa vinha que já não existe.
As causas tentaram ser descortinadas: local onde o vasilhame foi comprado, o tratamento que teve até chegar ao dia do julgamento final. Tudo era plausível para justificar as divergências.
Este imbróglio acabou por ser um exercício curioso. Permitiu compreender in loco, e mais uma vez, que o acto da prova é efectivamente uma actividade carregada de subjectividade. Duas garrafas da mesma colheita podem ter comportamentos completamente antagónicos. Posto isto, é altura de começarmos a introduzir nos nossos comentários expressões do tipo: o vinho que estava nesta garrafa, naquela garrafa.
A título de curiosidade deixo-vos aqui alguns traços sobre os meus erros.
Quinta da Leda 2000 (a). Mineral. Acreditei piamente nisto. A face parecia carregada de cores da terra. Pedra, lagar. Flor silvestre. Cedros. Do princípio ao fim vagueou longe da doçura. Vernizes, encerados. O sabor era balsâmico, fresco, bem mentolado. Nota Pessoal: 17
Quinta da Leda 2000 (b). Licoroso. Ginjas, bombons. Rebuçados. Folhas de chá, erva seca. Um curioso odor a terra quente. Na boca, mostrou-se estranhamente rico, amplo, viçoso e a contrariar o cheiro. Sim senhor. Nota Pessoal: 15,5
Quinta da Leda 2001 (a). Os cheiros criaram empatia repentina. Toques modernaços de chocolate de leite misturados com tabaco e caramelo. Mudou algumas vezes de aspecto, passando para um estado mais húmido e terroso. Sempre perfumado e com boa dose de complexidade.
O paladar era doce, mas estava amparado pela acidez. Bem composto, coeso e homogéneo (três palavras que dizem o mesmo). Pecou no excessivo uso de tiques novo mundo. Mas isso são coisas minhas. Nota Pessoal: 16
Quinta da Leda 2001 (b). Cheio de fruta cristalizada, um pouco pesado no aroma e no sabor. Quente, evoluído e com aparentes sinais de cansaço. Pareceu-me ser vinho sem capacidade para fazer abrir a boca de admiração. Conseguiu, ainda assim, manter algum equilíbrio durante a noite. Nota Pessoal: 14,5
Os outros: um brilhante e respeitado Quinta da Leda Touriga Nacional de 1997 que estava soberbo, cheio de nuances aromáticas. Fino e elegante. Mais não digo. Nota Pessoal: 17. E um recente 2007 elegante, cheio de juventude e irrequieto. Fruta (para alguns era preta), chocolate, novamente tabaco e fumo, e outras coisas parecidas, com um pouco de esteva e terra pelo meio. Frescura quanto baste. Nota Pessoal: 16,5
No final, enfiámos uns tragos de um vinho que nasceu numa vinha que já não existe.
Comentários
as garrafas tiveram a mesma proveniência ou foram guardadas em locais diferentes?
As variações entre garrafas da mesma colheita eram muito comuns em alguns produtores (noutros proventura continuam).
Boas provas!