Quinta da Ponte Pedrinha


Vão certamente perdoar-me a viagem, a estopada, mas o que irei traçar está intimamente ligado à minha caminhada como pessoa e como enófilo. Uma coisa e outra estão fortemente coladas. É impossível separá-las.
Sempre que percorro a estrada da Beira, algures entre Seia e Gouveia, a cabeça gira em busca do telhado da casa, perdida no meio da folhagem das árvores. O cenário faz parte integramente do meu album de memórias visuais.
O vinho da Quinta, esse, foi acidentalmente descoberto. Estupidamente não fazia qualquer ideia que havia vinho por aqueles lados (mas os velhos há muito que falava nisso).


Nos tempos em que consumia guias de vinhos (não recordo a última vez que comprei um), reparei que José António Salvador tinha colocado nos píncaros um Reserva de 1997 (não recordo em qual guia).  Um vinho que custava qualquer coisa como três contos. Na altura, foi uma competa alienação, mas ao reparar no que gastei, posteriormente, noutros vinhos, fico com a leve impressão que, afinal, os três contos foram tostões. 
Vasculhemos, entretanto, o Reserva de 2004. Inicialmente com poucos cheiros e poucos sabores. A decepção andou muito perto. Cheguei pensar, por momentos, abandoná-lo, colocá-lo de lado e pegar noutro. Intenção errada.
Sem berreiros e sem gritarias, assomou-se o floral, o mato, a caruma. Tudo cheio de árvores. Fruta ligeira. Muito mentol. Alfazema a rodos. Pedra molhada, complemamente encharcada. Erva seca e folhas de chá. Tudo bem proporcionado. Simplesmente dava gozo cheirar e cheirar.
O sabor expôs uma elegância inusitada, quase anacrónica. Assumidamente afastada da moda. Fresco e seco. Vegetal. E trago a trago foi indo pausadamente. Tinha saudades destas coisas. No final, sou assaltado pela dúvida: Quem fez este vinho? Nota Pessoal: 16,5

Comentários

Antonio Madeira disse…
Ola Rui Miguel,

Olha nao te sei responder a pergunta, o que sei é que a Catarina Simoes chegou a esta adega em 2007. Antes (e desde ha varias décadas)e mesmo agora esta um senhor de idade a tratar da parte da vinha, nao me recordo é do seu nome. Na parte da adega tenho a ideia que havia nessa época a consultoria do Joao Portugal Ramos, nao sei é quem era o enologo residente.
O melhor sera enviares um mail a Catarina ou mesmo visita-la (pede a Catarina para provares o vinhas velhas, até te vais passar, sera como fazeres uma viagem ao tempo dos teus avos, mas com os niveis de qualidade exigiveis nos dias de hoje).

Abraço
Pingas no Copo disse…
Portugal Ramos (parece que existem laços de familia). Na altura foi um vinho que marcou bastante.

Depois, e se a memória não me falha, julgo ter visto na Hora de Baco um outro enólogo que não era a Catarina Simões que referes.

Bom, de qualquer modo, o que interessa é sentir que esta Quinta, tradições, esteja a recuperar. Isso é bom, muito bom.

PS- Consegues facultar-me o mail da enóloga? Podes enviar para o mail do Pingas no Copo. É que estarei em Gouveia no próximo fim de semana para mais uma feira de queijo e tentava dar um salto até à Quinta.
Antonio Madeira disse…
O mail é o seguinte:
quintadapontepedrinha@gmail.com

Boa visita!
Gus disse…
Olá,

Ainda ontem bebi o Quinta de Ponte Pedrinha, branco, 2008.

Estava fantástico, fresco, mineral, acompanhou muito bem uma cabeça de garoupa cozida.
Sei que este branco, feito com arinto, cerceal e encruzado, já tem a 'mão' da jovem enóloga Catarina Simões. Os meus parabéns!