A Casa da Passarela, A Villa Oliveira e outras coisas

Prólogo

Não importo que seja repetição, nem que bocejem, mais uma vez. Mudem de página.
O vinho, líquido que nos coloca, por diversas vezes, em estado de ebriedade, vai além do que está no copo. Merece mais, acho, que simples chorrilhos organolépticos, descritores extensos e maçadores, que reflectem pura ausência de imaginação. O vinho é mais que isso. É relação humana, são faces, sorrisos e tristezas, enlaces e desenlaces. Sentimentos. Tão simples e tão complicado.
Com um copo com vinho, recordam-se passagens, vidas, conversas e discussões com gentes que se gosta e que não se gosta. Sou decididamente influenciado e gosto de o ser. Felizes daqueles que não o são. Estarão, por certo, numa dimensão de quase-deuses.

Fachada da Adega já recuperada.
A Casa da Passarela, com as mãos do Paulo e de quem o acompanha, tem evoluído a olhos vistos. A recuperação dos edifícios está (quase) concluída, os vinhos estão a evoluir, a criar peito e maturidade. As massas vinícas, não sei se o termo está correcto, surgem em quantidade e diversidade. Paulatinamente, o portefólio está mais consistente e coerente. Tem um propósito definido, que se compreende. Há rosés, brancos e tintos para todos os gostos, feitios e carteiras. Depois, e não tenho qualquer pejo ou vergonha em afirmá-lo, tem sido (é) lugar de aprendizagem pessoal, de partilha e de confidências. Quase Casa de Família.

Momento das reprovas: Vinhas Velhas e Touriga Nacional.
O granito e os cascos.
Em cada visita que se concretiza, descobre-se uma peça nova, um lote novo, uma novidade. Uma notícia. Desta vez não foi excepção. Reprovaram-se os lotes destinados aos futuros Vinhas Velhas, uns em barricas novas, outros em barricas usadas. Estão polidos, finos, cheios de carácter. Inclinei-me para as pipas mais velhas. Tinham outra estatura, outra complexidade. Provou-se novamente a Touriga Nacional, também dividida entre cascos novos e cascos idosos. Pujante, fresca e floral o quanto baste. Distante, parece-me, de concessões urbanas e modernistas. Também aqui, e para não destoar, preferi aquela que está enfiada nos vasilhames de maior idade. Está profunda, limpa, terrosa e cativante.
Mas os olhos, os meus, esbugalharam-se com o que lhes foi colocado defronte. Eram novos vinhos, um tinto da Colheita de 2009 e um branco da Colheita de 2011, que chamar-se-ão Villa Oliveira. Pretendem ocupar o topo da pirâmide. E merecem.

Villa Oliveira branco
Villa Oliveira tinto
O Branco, alvitrado algures por aqui, apresenta perfil delicado, muito feminino, parecendo falsamente frágil. Falsamente por que marca, por que deixa rasto, por que simplesmente apaixona. Branco de casta elevada.

Os vedantes.
O Tinto dá-nos uma imagem de grandeza, de profundidade. Apesar de imberbe, quiçá sisudo, diz-nos, já, que terá potencial, que não terá vergonha de parelhar com os maiores do Dão. Será, tudo aponta para isso, um par entre pares. E eu acredito e aposto tudo


Depois olhei em redor, com o vento a queimar a pele, e pressenti que por estas bandas o sonho continua a comandar a vida. Que assim prossiga.

Comentários

paulo disse…
Só me resta lembrar aquela velha frase... "o Homem é do tamanho dos seus sonhos."
Unknown disse…
Quanto mais sabemos, mais responsabilidade temos e menos podemos falhar. Muita força Paulo
Pingus Vinicus disse…
Paulo, é um facto, é um facto.
Pedro disse…
Este Villa Oliveira e de facto um vinho fantástico que valeu a travessia oceânica até ao Texas depois de uma tarde muitíssimo bem passada convosco, logo a seguir ao Natal a provar outros dois fantásticos: encruzado e vinhas velhas em estagio na pipa. Esse vinhas velhas na pipa que colheita seria?