Olhando para o acontecimento Dão e Douro que está a decorrer nestes dias em Lisboa e que tem o seu climax no próximo dia 14 de Maio, achei interessante disponibilizar, aqui no blog, uns rabiscos pessoais, desta vez, sobre dois vinhos do Dão que me deram prazer. Duas escolas, duas maneiras de ver o vinho. A primeira acredita que os verdadeiros vinhos são os de lote. A outra demonstra que existe espaço para todos, criando vinhos varietais (aliás, foram estes que lhe deram fama).
Quinta do Corujão Reserva (tn) 2003
Mais um vinho do pequeno produtor, António Batista. Rio Torto, Gouveia. Feito com Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Tinta Amarela. Com 13% de vol.
Apresentou-se com cor bem concentrada. Inicialmente com os aromas um pouco fechados, com alguma austeridade. Foi preciso esperar algum tempo para lhe sentir o pulso e perceber melhor o que tinha dentro do copo. Terminada a espera (não tão grande como aquela que temos nas urgências dos nossos hospitais), surgiram toques vegetais e balsâmicos, aliados a fruta silvestre, de pendor muito fresco. Terra húmida, mato e muita caruma. Como aquecimento da pinga "disseram olá": apontamentos de fumo, tabaco, pó de talco ou qualquer coisa parecida aos armários das nossas avós (coisa que gosto de sentir). Alguma amêndoa. Neste momento, lembrei-me muito das amendoeiras que o meu pai tinha, algures numa quintarola no Douro Superior. Há muito que arderam... Existem aromas que não esquecemos. Fazem parte da nossa memória.
Na boca entrava fresco, suave e balsâmico. A madeira estava presente, através de alguns sabores fumados que se senti. Taninos presentes, finos e integrados pelo corpo. Final médio, mas de qualidade. Um vinho que vale a pena experimentar de um produtor que conheço muito bem. Muito longe das modas que por aí andam. Ainda bem que existem vinhos destes, mais "clássicos", mas nada antiquados. Para beber, pensar e reflectir. O preço ronda os 9€. Nota Pessoal: 16
Post Scriptum: Tentem encontrar um Encruzado de 1999 deste produtor e digam alguma coisa...
Quinta dos Roques Touriga Nacional 2002.
Um produtor que criou os fabulosos Touriga Nacionais de 1996 e 1997 e que possui interessantes Encruzados. Lançou recentemente outro vinho branco feito da casta Barcelo (colheitas de 2003 e 2004), proveniente da Quinta das Maias, S. Paio, Gouveia. Andou durante algum tempo no limbo. Com muitas indefinições. Com Rui Reguinga parece estar a renascer. Este touriga nacional apresenta 13% de vol.
Cor demonstrando alguma concentração. Muito bonita.
Aromáticamente mostrou-se muito interessante. De porte aristocrático. Vivo, bem delineado, sensual e cativante. De pendor fresco, onde se sentiam as flores (muitas mesmo), misturadas com frutos (talvez mais pretos...). A complexidade aumentava com o aparecimento de nuances balsâmicas e minerais, misturadas com baunilha, tabaco/folhas secas e café. Tudo muito bonito. Tudo bem alinhado.
Na boca, ele entrava fresco, correcto e, para mim, equilibrado. Sem agressões, mas com presença. Tanino finos, bem integrados no corpo, não estando deslocados ou fora do sítio. Final não muito longo, mas de boa memória, deixando um rasto silvestre misturado com café e tabaco. Filho de um ano menor e se calhar de uma região menor (que está a tentar renascer das cinzas como a Fénix). Bem feito, muito perfumado. Gostei! Nota Pessoal: 17
Comentários
Agora só falta meteres uma nota de prova do dito Barcelo que tanto me falas.
Abraço do Alentejo