Aproveitando um descanso merecido (sou eu que digo), aproveitei a Sexta-feira, Sábado e Domingo para me entreter com a casta mais famosa do mundo (mais uma vez sou eu que digo, por isso se estiverem em desacordo, informem-me). Peguei em três Syrah´s do nosso little country. Nada de extraordinário, mas um pouco representativos do que se faz por aqui (bem sei que as escolhas podiam ser outras...). Poderei dizer que o país ficou representado de norte a sul, evitando assim algum constragimento no futuro. Como sempre, irão reparar para o eventual excesso de prosa, de imaginação que as minhas notas de prova poderão ter. Assumo que gosto pensar que sei escrever (os meus amigos perdoam-me esta presunção. Eles sabem que eu sou feliz assim). É o esforço de um matemático. Bolas, já estou a divagar...! Voltemos então ao cerne da questão. Primeiro vinho provado, numa sexta-feira ao jantar. Veio das Terras do Sado. Do produtor Bacalhôa Vinhos. Estagiado em pipas de carvalho francês e americano. Provavelmente saberão do que estou a falar:
Só Syrah 2003. Uma nota para o nome. Nunca gostei. Agora existe o Só Touriga Nacional. Se um dia lançarem outros varietais, nem quero ver. A Coleccção Só...
Aromas muito francos e limpos. Sem aparentes excessos. Um lado doce e quente, mas não enjoativo. Pareceu-me no ponto. Licores, do tipo ginja. O seu lado vegetal dava frescura. Fruta vermelha, amadurecida correctamente. Alguma noz moscada/gengibre juntas com folhas secas. Boa torrefacção.
Na boca entra suave, saboreando-se os licores. Sentindo caramelo e tabaco. Os taninos, que no início estavam algo ariscos, ficaram mais domados, mais amaciados. Ofereciam um ligeira e agradável secura nas gengivas. Corpo médio. Final médio, que deixava um travo amargo, mas não desagradável.
Não é um estrondo de vinho. Mas olhem que está muito bem feito. É correcto e agradável. Nunca lhe torci o nariz.
Nota Pessoal: 16
No Sábado, outra vez ao jantar, voltei à minha cave e seleccionei o Syrah 2004 do produtor João Portugal Ramos. Estagiou em meias pipas de carvalho francês.
Bastante diferente! Uns dirão ainda bem...outros nem por isso.
Cor muito opaca. Escura.
Muito fechado na parte inicial da abordagem, mas que fazia desconfiar que estava perante algo mais forte e pujante que o primo das Terras do Sado. Fortes sugestões químicas e terrosas.
A fruta era madura, preta. Ameixas em passas, juntamente com alguns figos em passa. Apontamentos balsâmicos/menta/cedro. Especiaria: Eu penso ter focado tomilho e pimentas (lembrei-me muito daqueles frasquinhos que compramos nos hipers). Baunilha.
Tudo num perfil intenso, robusto, com muita extracção, que pode criar algum cansaço. Todo ele é algo exagerado.
Na boca era gordo, poderoso. Ameixa madura. Compota. A acidez conseguia oferecer alguma frescura, evitando que ele caísse num abismo (ele andou sempre perto). Os taninos estavam bem presentes. Eram pujantes e estavam coordenados com o corpo. Final médio/longo. Forte.
Com muito esforço conseguiu acompanhar a refeição. Pensei muito na melhor combinação gastronómica para este vinho. A que escolhi não foi a mais indicada.
Para o tempo frio. Talvez esteja muito jovem, necessitando por isso de mais tempo na garrafinha.
Nota Pessoal: 15,5
Post Scriptum: Deixei grande parte do vinho na garrafa. Voltei a experimentá-lo no domingo à noite. Comportou-se de forma mais correcta, mais domesticado. Mas o estilo mantinha-se.
No Domingo, o Quinta do Valdoeiro Syrah 2003. Das Caves Messias.
Foi o vinho de compromisso. Isto é foi aquele conseguiu, na minha opinião, comportar-se de forma mais equilibrada e mais desafiante. Mais complexo.
Aromas mais frescos. Boa tosta. Fruta de cariz mais silvestre que vinha num cesto com chocolate de leite e charutos. Algum rebuçado. A baunilha e o caramelo eram de qualidade e sedutores. Especiaria.
Na boca tinha presença, corpo. Era mastigável. Taninos e acidez cobertos pelo corpo. Chocolate, tabaco, leite, fruto preto. Quente, mas muito apelativo, sem cair em excessos. Boa harmonia. Um final o quanto baste, largando um rasto de coisas boas. Um vinho que valeu pelo equilibrio, pelo harmonia e eu aprecio o estilo.
Nota Pessoal: 16,5
Conclusão. Uma casta, várias maneiras de a apresentar e trabalhar. Agora cabe a cada um de nós decidir o que prefere...
Comentários
Tenho curiosidade em comparar os vinhos varietais Syrah ou de outras castas, espalhados por este mundo fora.
Ando a pensar reunir uns bons exemplares no que toca a Syrah e penso contar com um bom exemplar por cada continente... Australia, Africa, America e da Europa faço uma excepção e coloco um Espanhol , um de Portugal e um de França. Vamos ver o que vai dar.
Deixo-te aqui mais alguns bons exemplares:
Pontual 2004
Cortes de Cima Syrah