Atravessei o Mondego, abandonei Gouveia e encontro-me em Mangualde, concelho vizinho. Destino é Casa de Darei, não muito longe da Barragem de Fagilde. Estamos, portanto, bem no meio do Dão.
O produtor pertence à geração dos tais que desde década de 90, tem tentado recolocar esta região beirã no topo das escolhas dos consumidores. Depois de várias reconversões (vinha, adega e solar), reiniciou oficialmente a sua actividade no mundo dos vinhos na colheita de 1999.
É com alguma curiosidade que venho seguindo a evolução dos vinhos da Casa de Darei. Uma casa que vale a pena visitar e na qual se podem passar uns relaxantes momentos, bem no meio da Beira, para mim a Alta (nada de Interiores ou Litorais). Os vinhos, esses, mantêm sempre o mesmo fio condutor, comportamento. Calmos, bem feitos. Disponibilizados a preços comedidos. O mestre é o jovem enólogo Pedro Nuno Pereira, responsável também pela Quinta do Corujão e Adega Cooperativa de Tázem.
Como nota final, desta introdução, provem o Branco. Apanhem-no e levem-no para casa. É um branco contra-corrente, muito longe das bancadas de fruta exuberante que andam por aí. Relembra um pouco os antigos brancos do Dão, da Estação de Nelas, que deixaram história e muito recentemente tiveram honras de artigo na Revista de Vinhos.
O tinto Lagar de Darei 2003 tal como o Passarela, parece quer dar o salto para século XXI. Indiciou tiques provocantes, insinuantes. Flores, fruta cristalizada e licores proporcionavam um interessante nível de prazer. Cativa e quase que apaixona (falo de mim, naturalmente).
Na boca, um pouco mais seco e mineral que no nariz. Mediano, bem comportado, ameno e bom companheiro para a mesa.
Nota Pessoal: 15
Mais um exemplo, que comprova que existem razões para beber vinho do Dão. O tempo das tormentas parece ter abandonado a região. Tenho ideia que as práticas estão substancialmente mudadas. Existe, aparentemente, uma visão mais alargada do consumidor do século XXI. Dá-me a ideia, também, que há vontade de saltar para fora das fronteiras da Beira, sem nunca perder a alma.
Comentários
Aproveito para lhe dizer que, cometendo o pecado mortal de acompanhar uma caldeirada de borrego à angolana com um Douro de 1991, me fui safando como pude. Um vinho espantoso. Gostava que lesse esse post. Também é possível um tão provecto vinho fazer-nos quase rezar.
Obrigado por me ler. Não queria parecer que estou a trocar cromos. À mulher de César... O certo é que também o leio com atenção, tanto mais que me revolta o descaso que ainda fazem de uma região vinícola excepcional como é o Dão (por falta de cultura). As modas são extremamente redutoras, maniqueístas, ao fim e ao cabo parolas. O curioso é que não sou da Beira Alta. Moro nela.