Nada melhor para libertar, soltar a pressão dos nossos dias, do que fazer uma viagem, um passeio pelos sítios que mais gostamos. Sabe bem, reconforta e dá mais vigor para enfrentar o que vem aí, no dia seguinte. Desta vez, peguei nas minhas pernas, nas minhas mãos e fui até ao rio. O rio, aliás os rios sempre me marcaram. No passado foram o Douro, o Mondego. Agora é o Tejo que me encaminha, que me inspira. Foi ao longo dos rios que as civilizações antigas se instalaram, que evoluiram, que morreram.
O cheiro da brisa do rio, numa tarde de Verão é sensação difícil de esquecer. O (meu) refúgio ideal para malhar no calor, na canícula das terras quentes, das encostas lá de cima. Aquele bafo quente, quase que corta/cortava a respiração.
O banho que se tomava naquelas águas refrescava. Limpava aquele pó amarelo. Nas margens, as flores libertavam odores suaves, doces. Envolviam-nos e suavizava o cansaço. De vez em quando, alguém reparava que estavam por ali umas boas silvas carregadas de amoras, bem maduras. Trincavam-se. Que gulodice. O sumo escorria pela garganta, num final meio apimentado. Lá, no alto, os pombais, os palheiros, pareciam libertar o cheiro do xisto, da lousa, da laje.
Parava, olhava, observava toda aquela envolvência, todo aquele mundo. Sentia o leve sussurrar, o discreto murmurar de uma terra cheia de histórias, lendas e tradições. Era como se houvesse por ali, qualquer coisa que não era para eu entender. Mas é aqui que está o início! Pelo menos, parte do meu está lá, aqui.
Na volta, as amendoeiras, as figueiras alinhavam-se milimetricamente, como se tivessem sido colocadas por um matemático.
Já me esquecia do vinho. Um DuraDero, um DuraDouro, que é feito com a nossa Tinta Roriz, o Tempranillo lá do outro lado do rio. Da Quinta do Portal.
Nota Pessoal: 16,5
Comentários
Quase que é melhor escritor que enófilo!!
Excelente texto.
Um abraço.
1 Abraço
Por isso, pelo Douro e por aquela terra toda tenho q arranjar o vinho que me fascina mais pelo nome: Qt da Leda - Vinha do Pombal 2004. Porque será???
Este fascínio deve-se ao nome. Espero que não me deixe ficar mal. Tenho quase a certeza que não.
Esse "Duradero" não é aquele 50% roriz tuga + 50% tempranillo da Ribera?
N.
Um vinho muito interessante, com alguma austeridade. Gostei
Não sei se costuma comer, mas ao fim da tarde o meu pai e os meus tios (que ainda fazem pesca desportiva) faziam umas brasas valentes para assar umas bogas, uns barbos. Levavam um molho do caneco.
Existem ´"coisas simples" que nunca se esquecem.
N.
Só espero que textos como estes estejam bem guardados e que um dia sejam reunidos num livro,em cujo lançamento estarei na 1ª fila.
PARABENS
Zé Tomaz