Não sou versado em artigos de opinião (talvez défice de formação). Para mim o vinho é para beber, para obter prazer (que nem sempre acontece) e falar com ele de forma solta. Descobrir ou inventar aromas e sabores (o que acontece com 90% dos meus descritores).
Ele ajuda-me a viajar, a reflectir sobre a vida, descontrair, descansar.
Não penso muito se o ano x é assim, o ano y é assado. Que as encostas estão viradas a norte, as correntes marítimas vêem lá do Oceano, que a montanha protege do vento. Que isto, que aquilo. Estas questões são para quem vive do assunto ou para quem quer viver. Pessoalmente, cabe-me (apenas) a função de ler e tentar perceber. Nada mais.
De qualquer maneira, e apesar deste indigno comportamento que para muitos é extremamente redutor e limitativo, não deixo de pensar em alguns assuntos (muito superficialmente). Essencialmente gosto de especular, de criar confusão (para mim).
De qualquer maneira, e apesar deste indigno comportamento que para muitos é extremamente redutor e limitativo, não deixo de pensar em alguns assuntos (muito superficialmente). Essencialmente gosto de especular, de criar confusão (para mim).
- E se o mundo da crítica fosse pulverizado? Isto é apareciam por aí mais duas, três revistas, mais uns quantos críticos (no verdadeiro sentido da palavra). Nós (consumidores) ganharíamos se isto fosse estilhaçado? O mercado teria capacidade para absorver esta avalanche ou as coisas acabariam por ficar na mesma?
- Se os críticos assumissem, de uma vez por todas, os seus gostos pessoais, as suas tendências, criando nichos de clientela, será que cada produtor iria pensar o seu vinho de forma mais livre?
- Fala-se (muito) numa desejada mudança de perfil dos vinhos. Pedem-se vinhos mais elegantes (se bem que não sabemos o que isso quer dizer). Diz-se por aí que andamos fartos das bombas, dos vinhos super concentrados (tá na moda e é bonito dizer isto), mas será que desejamos, de facto, essa mudança? E o que queremos em troca?
- E os vinhos são avaliados de 0 a 20 ou de 14 a 20? Porque é que assistimos sistematicamente a notas superiores a 15? É para agradar a todos? Lembram-se da escola e da dificuldade que era tirar uma nota superior a 14 e a dignidade que era levar para casa um teste com 12,5 ou 13?
- E, no meio deste caldo fervescente, seria possível um crítico assumir frontalmente que é um crítico do povo, que apenas se dedica a provar vinhos de preço inferior a 10€? (Tenho a leve sensação que anda por aí muita gente que se envergonha de dizer que bebe vinho barato. Correm loucamente à procura de vinhos que o comum não conhece, só para dizer: bebi no outro dia, na casa de fulano tal, um vinho que nem te passa pela cabeça).
Comentários
Eu penso que os críticos, de alguma forma, já têm gostos diferentes uns dos outros. Podemos dizer que nos seguimos mais pelas notas de uns que pelas de outros.
Mas, claro está, não conseguem ser 100% isentos nos suas provas.
Também em relação às notas, tens razão quando dizes que só dão notas acima dos 14. Eu mesmo dificilmente dou uma notas abaixo disso. Penso que parte da explicação é o facto de as revistas, como a RV também não o fazer, o que influencia quem as lê.
Abraço
Não tenho o minimo de duvidas de que o mundo da crítica de vinhos já está a ser pulverizado. E os produtores que não estiverem atentos a esta nova vaga de críticos, mais cedo ou mais tarde vão perceber que foram apanhados a dormir no trabalho.
Um abraço,
Marco
Se de certa forma podemos entender este bloqueio, por outro lado verificamos que a irritação causada por agentes externos muitas vezes é motivo de uma certa comichão.
O certo é que o mundo do papel, leia-se Imprensa na vertente papel, não estava tão preparada para o fenómeno BLOG que surgiu um pouco por todo o mundo.
Como certamente foi algo não controlado e não precavido, surge o clima de desconfiar, de duvidar e em grande parte de ignorar.
A verdade é que enquanto lá fora o fenómeno blog é tido com a sua devida atenção e respeito, é dado cobertura nos mais variados meios, enquanto que por cá a coisa parece estar um quanto ou tanto como começou, não fosse a persistência de alguns Bloggers, a preguiça e desleixo de outros em nada abonariam para a imagem que se quer transmitir.
Aprender é um acto contínuo, nunca se sabe tudo e quem o julga não merece comentário. Tenho um blog e tenho objectivos que partem acima de tudo por ser cada vez melhor, pelo que tento ver dentro do meu ponto de vista, melhorar cada vez mais. Faz 2 anos completei um sonho que era colocar um evento vínico com qualidade em pleno Alentejo, nasceu o Vinum Callipole, não serei eu a julgar o seu sucesso, isso cabe a todos aqueles que lá foram. Para o futuro terei certamente outros objectivos e outros sonhos, alguns já estiveram mais longe mas só o tempo e a vontade o vão dizer para quando.
• A falta de honestidade da escala de 100 pontos não é novidade para ninguém.
Digo honestidade e não sentido porque sentido é coisa que ela possui -- ainda que quase puramente comercial.
Para quem quiser, aí fica o link para um artigo engraçado sobre esta e outras coisas.
http://www.nytimes.com/2006/08/13/business/yourmoney/13rate.html
E a escala de 10 (13 ou 14, vá) a 20, será objectivamente melhor? Pessoalmente, dada a qualidade e variedade daquilo que o mercado actualmente oferece, não pensarei, sequer, em comprar novamente um vinho que só me tenha merecido 12 valores.
Mais: talvez 13 valores num exame de «Superfluidez, Supercondutividade e Magnetismo», por exemplo, tenha a sua dignidade, mas em algo muito abaixo disso, nem pensar. Aliás, basta conhecer de perto alguém que faça vinho, tomar certo contacto com tal processo, para se perceber que, embora ainda e sempre cativos do factor «sorte», é mais fácil produzir um vinho que mereça 13 valores da maioria das pessoas que obter a mesma classificação num exame «de cadeirão». Claro que me refiro a quantidades modestas de vinho que, bom, pode não ser brilhante: produzir mais de 300000 garrafas de Alión terá muito mais que se lhe diga...
• Concordo com o Copo de 3 quanto à questão da inércia dos já instalados. Atacar um movimento emergente é mais fácil que inventar algo capaz de competir com ele. Imagine-se agora a situação dos interesses estabelecidos quando o dito movimento é uma tendência global com que praticamente não se pode competir. Competir, não digo conviver. Mas a culpa disto também é nossa. Nossa, digo, de quem compra. E pior, de quem compra e segue sem criticar. De quem dá às opiniões especializadas maior dimensão que aquilo que elas realmente valem.
Já agora, mais um link.
http://www.vinography.com/archives/2008/04/wine_critics_are_parasites_but.html
Devo dizer que gostei do «ataque de pinta» da Sra. Robinson.
• «Fala-se (muito) numa desejada mudança de perfil dos vinhos.»
Fala. Mas não existe ampla oferta de vinhos de ambos os perfis mencionados? Compre B quem se fartou de A e volte a A quem se saciou de B, diria eu, talvez correndo o risco de parecer insolente.
• Os críticos assumem com boa dose de franqueza os seus gostos, a sua humanidade. Quem endeusa os críticos é que tende a esquecer-se disso...
Certos «gostos-padrão» são tão bem conhecidos que não falta quem tente lucrar com eles. Da Wikipedia, artigo sobre Robert M. Parker, Jr.
...
Wines made specifically to earn high Parker points are often called "Parkerized".
• Críticos do povo, heh?
http://10dollarwine.com
http://www.wine-tastings-guide.com/inexpensive-wine.html
http://tv.winelibrary.com/101-wines/
Talvez falta um destes em português, sim... :\
'Bora lá fazê-lo ou deixa-se isso para os pros?
Para terminar: definitivamente, nem por cá as coisas estão pouco mais ou menos como quando os blogues foram novidade, e em (grande, muito grande) parte, é pena.
/moi is sorry.
Outra questão, que de tempos a tempos vai passando pela "mona", é que por muitas voltas que isto dá, tudo termina no mesmo saco, isto é, a crítica de vinhos em Portugal não pertence ao Povo.
Em vez de educar o Povo, vejo muita gente a falar de líquidos que pouco dizem ao comum do cidadão. Alguns desses vinhos servem, como já disse, para fazer pirraça, nada mais, nada menos.
Acredito piamente que se pode puxar mais gente para "este lado" se dissermos: "Olhem, por 4€ ou 5€ existe vinho interessante, bem feito e diferente"
Sobre os blogues, sites e similares, a novidade tende a esgotar-se rapidamente.
Quanto às "bombas", eu próprio já o referi várias vezes nas Krónikas que estava cansado desse tipo de vinhos, e estou. É verdade que se pode sempre optar por outro estilo, mas nos últimos anos não tem sido fácil, porque quase só havia bombas e a mudança de estilo era quase impossível de encontrar.
Entretanto não nos podemos esquecer que parece haver muita gente a fazer vinho por esse mundo só para agradar a um tal Robert Parker. Afinal, o que é que ele sabe mais do que os outros, ou do que quem faz o vinho? Não estaremos a ser levados a ter que beber vinho que é feito para agradar aos fazedores de opinião, e que esses fazdores de opinião querem convencer-nos de que o nosso gosto é o que eles acham que é?
Será que há vinhos 9,5? Se calhar só vinagre...
As tabelas de notas têm de ser revistas por todos, e eu contra mim falo, que apesar de não ser um crítico, bem longe disso, ando por cá.
Abraço
É mesmo isto que se quer de um Blog de vinhos, possibilidade de debater e criticar TUDO. Aqui cumpre-se o objectivo de um Blog.