Atravessando o Oceano, aventurei-me pela longa e estreita cadeia montanhosa dos Andes. Uma muralha que barra os ares vindos lá do Pacifico. O Chile, é um daqueles países do Novo Mundo que vai marcando pontos nas paixões enófilas. Para mim, um ilustre desconhecido. Contam-se pelos dedos de uma mão os vinhos que já provei, vindos deste país da América do Sul. Um canto do mundo que sempre despertou muita curiosidade. Parece-me que existe, por ali, qualquer coisa de europeu que o torna diferente do resto dos seus vizinhos mais quentes, mais latinos, mais especiados. Posso estar profundamente equivocado, mas é a imagem que ele me transmite.
Este Carmenère 2004 (nascido em Maipo Valley) comportou-se, mostrou uma actuação diferente do que geralmente estou habituado a provar, a beber. Não é muito difícil. Cada dia que passa, cada mês que passa, cada ano que passa, a avalanche de marcas, de novos produtores é demolidora. Deixo-me ir no meio da torrente. Não vale a pena tentar travá-la.
Muito perfumado, fresco, cheio de brisas. Atreveria-me a dizer que tinha aberto uma garrafa recheada de bálsamos. Não me ocorre outra comparação. Provavelmente, sugestões daquilo que penso ser o clima do Chile. As tais imagens que nós criamos, produzimos dentro de nós. Concepções alternativas de uma realidade que não conhecemos correctamente.
Bastante húmido, cheio de notas terrosas, mentolado. Num registo muito light, colorido, alegre e bem disposto. A pimenta dava aquele toque mais quente, lembrando uma latina morena, de lábios grossos e insinuantes. Pelo ar, libertava-se um leve rasgo a chocolate com leite e tabaco. Na boca, também muito fresco, muito mentolado, com a fruta bem viva, nada madurona. Não sendo uma boa relação preço qualidade (custou-me sensivelmente 9€ numa grande superficie comercial), não deixa de ser interessante e que vale pena experimentar. Mostrou que noutros lugares, deste esburacado e estropiado mundo, se fazem vinhos bons. Nota Pessoal: 14,5
Post Sriptum: O Vale de Maipo ficado situado no Chile central, numa região limitada pelas montanhas de Andes ao leste e pelo rio de Maipo ao norte. Tem um clima caracterizado por um baixo nível de pluviosidade.
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