10 anos

10 anos é muito tempo. Há 10 anos tinha começado a dar os meus primeiros passos como professor. Acreditava, na altura, que era capaz de mudar alguma coisa. Há 10 anos, parecia que este país estava a aproximar-se do resto da Europa. Há 10 anos ainda conseguia viajar pela Europa (era solteiro, as despesas eram muito poucas). Ao fim de 10 anos, sinto alguma desilusão, um baixar de braços. Não vejo luz ao fundo do túnel. Será o fim da inocência?

Os 10 anos foi o tema escolhido para mais uma prova cega. Em 1997, começaram a surgir nomes que mexeram um pouco com o mundo enófilo. Alguns deles conseguiram tornar-se em ícones, outros nem tanto. Foram momentos de viragem nas ofertas disponíveis para os consumidores. Tenho a ideia que em 1996 e 1997 colheram-se os primeiros frutos resultantes da mundança de muitas práticas na enologia. Sustentação para estas afirmações? Nenhumas. É apenas o meu senso comum a falar. Foi de volta desta temática que o grupo de amigos, chamado Núcleo Duro (Jorge Sousa, João Quintela, Paula Costa, Francisco Barão da Cunha, Oliveira Azavedo e moi), se voltou a reunir, mais uma vez, no restaurante A Commenda, no Centro Cultural de Belém. As escolhas estiveram dependentes do que existia nas garrafeiras pessoais. Era o que havia. De qualquer modo, acabou por ser uma prova muito interessante, em que se avaliou o estado de alguns vinhos. Uma pequena amostragem.

Uma nota à parte: A disposição pelo qual apresento os vinhos é relativa aos lugares em que cada um ficou. As notas e os comentários são da minha responsabilidade, naturalmente.

Quinta da Leda 1997 (Ferreirinha). Um exemplo de consistência. Um vinho muito consensual, que se pautou pelo equilíbrio, pelo prazer que deu. Afinado. Nota Pessoal: 15,5

Casa de Saima Garrafeira 1997 (Bairrada). Um belíssimo baga. Fresco, elegante, com um toque aristocrático e acima de tudo apelativo. Uma bofetada de luva branca dada aos detractores da baga. Vale a pena guardar vinhos deste calibre. Muito bem. Nota pessoal: 16

Calheiros Cruz Grande Escolha 1997 (Douro). Linha doce, com a presença de cacau, de chocolate com leite. Num registo muito suave, calmo. A presença de algumas flores e mineral, aliviavam o seu lado doce. Boa evolução e para beber já (digo eu). Nota pessoal: 15,5

Pêra Manca 1997 (Alentejo). Um clássico alentejano. Dispensa qualquer apresentação. Um troféu desejado. Compotas, marmelada. Alguma evolução para sugestões terrosas e balsâmicas. No entanto, meio morto, a caminhar para a eternidade, para o altar. Poderei não perceber muito da cousa, mas a minha relação com os Pêra Manca sempre foi complicada. Há quem diga que é por minha culpa. Que seja. Nota Pessoal: 15

Quinta do Monte D'Oiro 1997 (Estremadura). O primeiro vinho de José Bento dos Santos. Continua em bom nível. Pujante e com complexidade. Deu sinais que ainda está para durar. Com boas sugestões silvestres e florais. Guardem. Nota Pessoal: 16

Quinta da Ponte Pedrinha 1997 (Dão). Um polémico vinho. Foi literalmente odiado e amado. Ninguém lhe ficou indiferente. Aromas muito complicados no início. Fechadíssimo. Enquanto os outros estavam lá em cima, este Dão feito por João Portugal Ramos, mantinha-se sisudo, quase mal educado. Quando os outros tinham morrido, apareceu ele. Difícil, com muitas sugestões de cacau preto, amargo. Tostado. Muito fresco na boca. Indicou que é capaz de valer a pena guardá-lo. Pessoalmente, gostei dele. Nota Pessoal: 16,5

Terminámos mais uma vez com um Casa de Santa Eufémia 20 anos. Excelente Porto. Complexo, perfumado, profundo de aromas e longo nos sabores. Que devo dizer mais? Que deliciei-me.

Post Scriptum: Está já agendada a próxima prova cega: Vinhos do Douro, mas sem a presença de Pintas, Chryseia, Charme, Batuta, Quinta do Vale Meão, Barca Velha e companhia. Demos lugar a algumas estrelas emergentes.

Comentários

Anónimo disse…
Amigo Rui,
Talvez este link lhe interesse.
http://www.wineblogatlas.com/
Abs
Paco
Anónimo disse…
Gosto sempre de guardar uma garrafa para abrir 10 anos depois. Tenho guardada para abrir este ano uma Praça Velha reserva 1997, Adega Cooperativa Covilhã.
Anónimo disse…
Bela prova, sim senhor. Um de cada região, ou quase. Assim vale a pena. Foi de propósito ou por acaso?

PS: Não sabia que em 97 já havia Quinta da Leda. Apanhei-o há 3 anos no Encontro com o Vinho, no stand da Sogrape, e disseram-me que era um vinho que estava em lançamento, e ainda nem tinha rótulo. O primeiro que vi à venda foi de 2000.
Pingas no Copo disse…
Kroniketas, Ainda existe um Quinta da Leda Touriga Nacional 1997.
Ainda tens o Quinta da Leda 1999.

Tentou-se que estivesse representado o maior número possível de regiões.