A folha está em branco

Ler, ouvir música, ver uma obra de arte, beber um vinho pressupõe que os nossos sentidos estejam despertos, acordados. Não vale a pena, eu não consigo falar destes prazeres se não saltarem para dentro de mim as emoções correctas (boas ou más). É como proferir palavras não sentidas, que não são nossas. O discurso fica vazio, impessoal, meio forçado. Inócuo. Prefiro calar-me e ouvir o que os outros dizem. Admiro os críticos que conseguem falar de tudo, em qualquer altura, em qualquer momento. Vou olhar para dentro de mim, procurar alguma chama, um laivo de calor que anime a caneta. A folha ainda está em branco e o desespero é grande ao vê-la assim. É muito tempo, são muitos dias.

Comentários

Anónimo disse…
E depois as correcções, a insatisfação de não se sentir as emoções expressas no papel. As duvidas. As constantes mudanças. A raiva de saber como os outros escrevem bem, simples, claro, objectivo. O tempo, o tempo, o tempo. Mas haverá algo mais reconfortante. Que raio de ideia ter logo optado por coisas difíceis. "Ler, ouvir música, ver uma obra de arte, beber um vinho". Porque não a pesca, ou quem sabe, a politica. AJS
João Barbosa disse…
diria ainda mais uma coisa... há vinhos que não merecem uma palavra. Há vinhos sobre os quais não há nada a dizer, não atrasam nem adiantam. Dão um prazerzito para um momentito... às vezes é mesmo bom não dizer nada.
estou contigo.