Regressado da terra. Voltando à vida real. Aquela que temos, não a outra que gostaríamos de ter (falo por mim). Estes dias pascais estiveram repletos de momentos de volúpia. Andei de volta da velha cozinha da avó, da mãe, das tias. Recordei mais uma vez alguns prazeres da mesa, característicos da minha família. Tive a oportunidade de passar pelo tradicional O Júlio, para matar saudades das batatinhas do céu, do javali estufado. O nível continua elevado. A montra de Gouveia. A digestão dos repastos era feita caminhando pelas quelhas, pelas pedras, sempre na companhia dos ares gélidos da Serra.
Nos vinhos, andei de redor das gamas de entrada, baixas. As tertúlias com os amigos, com os velhos, com a família não eram momentos indicados para grandes provas. Nem pretendia que assim fossem. Existem momentos para tudo. Provei vinhos cujo o preço não ultrapassa os 4€ e que me agradaram. Nota-se que existe vontade em competir com as regiões de grande volume. Não são vinhos para estrondos, nem para abrir a boca com admiração, mas cumprem muito bem a sua função. As gentes das montanhas começam a perceber que os vinhos baratos podem tornar-se em autênticos pontas de lança e dar a conhecer ao mundo que também fazem, que conseguem construir vinhos redondos, apelativos, prontos a beber, com fruta, sem nunca perder a identidade. Partilho com vocês algumas pingas que achei mais interessantes. Não atribuo, desta vez, qualquer valorização pessoal.
Sarmentu 2005. Uma novidade. De um produtor, situado na freguesia de Nespereira, concelho de Gouveia (Quinta de Nespereira). Uma vinha espectacular (perdoem-me o abuso), toda ela bem projectada, desenhada. Merece uma visita atenta. São 20 hectares bem plantados onde aparentemente nada faltou. Está surgir muito lentamente no mercado, com muito medo. Porquê? É curioso verificar que alguns vinhos do Dão avançam mais facilmente nas regiões a norte. Não deixa de ser interessante. O Douro está ali mesmo ao lado. Estilo frutado, jovial, suave, fresco. Para beber descontraidamente numa refeição. Para aproveitar enquanto está jovem. Bem feito.
Tazem Tinta Roriz 2002. Nascido num ano fraco, sem grande história. Mesmo assim a Cooperativa de Tazem consegue criar um varietal muito fresco, vegetal, floral. Com alguma complexidade. Parabéns ao enólogo que vai conseguindo mudar algumas mentalidades. Lidar com um conjunto de sócios dominados por hábitos tacanhos não é certamente tarefa fácil.
Milénio Touriga Nacional e Tinta Roriz 2004. Estilo moderno, onde o chocolate, as sugestões de tabaco, bem como a baunilha, marcam presença. Quem diria que uma Cooperativa do Dão, neste caso Penalva do Castelo, era capaz de fazer coisas assim? Muito longe da tradicional instituição que foi no passado. O site podia, e devia, ser remodelado. Está desactualizado, acabando por prestar um mau serviço. Neste campo a Cooperativa de Tazem trabalhou melhor.
Termino com um Quinta do Corujão 2003, vegetal, silvestre, bem amparado pela madeira. Nota-se o estilo mais clássico, mais Dão, mas mesmo assim apelativo, redondo e com as arestas bem limadas.
Post Scriptum: Passei pelo Solar do Dão, em Viseu, para ver se o edifício estava mais animado. Nada. Na mesma, sem qualquer novidade. A projectada loja do vinho continua encerrada. É belo por fora. Por dentro? Não sei. Está fechado. Continuem assim.
Post Post Scriptum: Obrigado a todos aqueles que foram lendo este blog e tomando conta dele.
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Abraços