Aqui, além vão surgindo boas novidades para aqueles que gostam, apreciam estas coisas relacionadas com o vinho. Ainda vale a pena continuar a garimpar, de vez em quando. Vão aparecendo umas pepitas interessantes, com algum valor. Desta vez, apanhei uma pepita numa mina localizada em terras do Distrito da Guarda. Zona fronteiriça com os vales do Douro. Terra de muita história e estórias, onde se pressentem vozes ecoando pelo ar. É constante o murmurar de ruídos, sons do passado. Gritos de alegria, de tristeza, de agonia. Um leve frio atravessa o corpo quando ficamos defronte de Marialva, de Longroiva, de Mêda, de Poço do Canto. Terras duras, hostis, onde os confrontos foram normais e usuais ao longo dos séculos. Civilizações, monarcas, nobres, a plebe, lutaram por aqui. Autêntico regresso à idade média, ao aço, ao ferro, à lâmina. As lutas, agora, são outras, mas o fim é o mesmo. Sobreviver, resistir.
É neste clima que aparece um vinho do Douro (Poço do Canto). Quinta dos Romanos, Reserva tinto de 2004. Um vinho com uma delicadeza interessante, mostrando aromas capazes de envolver algumas narinas mais desprevenidas. Prende pelo acerto, pelo equilíbrio, pela serenidade que transmite. Combina correctamente a fruta, os balsâmicos, os rasgos minerais com o cacau, o tabaco. Existe uma curiosa aliança entre a modernidade e a rusticidade. Terá havido ajuda dos espíritos de outrora? Na boca, saboroso, meio pecaminoso. Mediano no prolongamento. Olhando para trás, nunca diria que nesta terra pudessem sair vinhos assim. Apontaria para estilos mais rústicos, menos afinados, mais duros. Tal como a terra que lhe deu origem. Coisas de provas cegas. Nota Pessoal: 15,5
É neste clima que aparece um vinho do Douro (Poço do Canto). Quinta dos Romanos, Reserva tinto de 2004. Um vinho com uma delicadeza interessante, mostrando aromas capazes de envolver algumas narinas mais desprevenidas. Prende pelo acerto, pelo equilíbrio, pela serenidade que transmite. Combina correctamente a fruta, os balsâmicos, os rasgos minerais com o cacau, o tabaco. Existe uma curiosa aliança entre a modernidade e a rusticidade. Terá havido ajuda dos espíritos de outrora? Na boca, saboroso, meio pecaminoso. Mediano no prolongamento. Olhando para trás, nunca diria que nesta terra pudessem sair vinhos assim. Apontaria para estilos mais rústicos, menos afinados, mais duros. Tal como a terra que lhe deu origem. Coisas de provas cegas. Nota Pessoal: 15,5
Post Scriptum: O Rótulo merece uns retoques. Assusta um pouco ao olhar para ele. Poderá afastar potenciais compradores (principalmente aqueles que ligam à imagem). A responsável por este vinho é a produtora Lucinda Todo Bom. O mestre é Mateus Nicolau de Almeida. Este senhor parece ter mão para o assunto. Nós, os consumidores, agradecemos e muito.
Um pouco de história sobre o local de onde veio o vinho. Poço do Canto. "A origem do topónimo parece ser o latino Puteus-i, poço, subterrâneo, masmorra ou cisterna, ou também o feminino Putea, poça, cova, e materializa-se documentalmente na alta Idade Média (nas Inquirições). Na explicação de António Carreira Coelho, in "A Guarda", de 14-09-2001, à época e em tempo de crise significava o imperioso e quase exclusivo suprimento de água por nascente natural ou mesmo por captação para cisterna. Chantus-i, além de ter sido um frequente nome romano que indicaria a propriedade, podia provir de origem céltica ("kant") aplicada ao arco de ferro de uma roda de madeira de carro de atrelagem, praticável por ferreiros. Por sua vez, a aplicação do topónimo Columba (local mais provecto e provável berço da povoação) é um bom e raro indício de apoio de antiguidade; a conservação do "l" intervocálico, quando na Idade Média se passou pela forma de Coumba>Coomba>Comba, vem em abono de maior anterioridade e, talvez, nesta indecisão ou evolução, a dever considerar-se reflectida no período antecedente ao nosso idioma. Por outro lado fica provada a grande antiguidade de um culto local (porque o topónimo deve-se à existência, no cume deste monte, da ermida dedicada à Virgem Santa Comba e com ela o remoto povoamento destes territórios, sendo de crer que este monte tivesse sido remotamente castrejo, de boa defesa natural e que o culto aí instituído houvesse sucedido a uma devoção pagã e Cantus como cerimónia mágica e encantamento.
No primeiro período da monarquia, Poço do Canto e as suas aldeias eram do julgado de Ranhados e não havia aí possessões ou honras de nobres. O território desta freguesia depois de 1377 (Carta de 12 de Julho de 1381) inscreve-se numa munificência do rei D. Fernando aos pais de Pero Lourenço de Távora (notável fidalgo do século XIV de quem procede a Casa dos Távoras, marqueses de Távora e condes de S. João da Pesqueira) e a seu irmão Rui Lourenço, que neles continuou e foi um dos mais acérrimos apoiantes de D. Fernando em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis." Se quiserem ler mais vão até aqui.
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