Tal como as pessoas, os vinhos podem revelar duas caras. Aquela que revelam ao mundo pelo rótulo e a outra que se encontra dentro da garrafa. São vinhos que nos enganam, que baralham as cartas e destróiem muitas das nossas eno-concepções. Concepções que, em muitos casos, são alternativas, baseadas unicamente no senso comum, na experiência de vida.
Se não soubesse que estava numa prova (cega) de vinhos do Dão, diria que em determinado copo não estava, não podia ser um vinho daquela região. As sugestões aromáticas, que saiam em catadupa do copo, possuíam um registo longínquo do que esperamos destes vinhos beirões (começa a não ser caso raro). Cheiros, profusões doces, tal como este alfrocheiro, tinham uma postura provocante. Muito caramelo, bastante cacau em pó e canela proporcionavam sensações meio excêntricas (a lembrar os inúmeros beirões que foram até ao Brasil nos finais do século XIX, à procura de riqueza. No regresso construíram enormes palacetes). Licores embebiam o grão de café e a tosta. Vieram, ao de cima, as memórias daquelas velhas mercearias onde, no cimo do balcão de mármore, estavam aqueles enormes frascos de vidro com drops, caramelos e outras guloseimas. Do outro lado, do balcão, pequenas gavetas resguardavam o café em grão, as folhas de chá. As doses, a pedido, vinham embrulhadas em cartuchos de papel pardo.
Um leve aroma húmido era a única sensação que o vinho transmitia e que eventualmente poderia identificar o território natal. Cheirava bem, cheirava muito bem.
Na boca fino, subtil. Notava-se que este tinto teve muitos cuidados, muitos carinhos. Construído segundo uma linha bastante moderna, bastante urbana. Pessoalmente, falta-lhe um pouco mais de terra, de mineral para se tornar num enorme vinho. Mesmo assim gostei e não foi pouco.
Uma feliz incursão de Francisco Olazabal (Quinta Vale Meão) no Dão. Aguardarei pacientemente a continuação deste projecto. Nota Pessoal: 16,5
Se não soubesse que estava numa prova (cega) de vinhos do Dão, diria que em determinado copo não estava, não podia ser um vinho daquela região. As sugestões aromáticas, que saiam em catadupa do copo, possuíam um registo longínquo do que esperamos destes vinhos beirões (começa a não ser caso raro). Cheiros, profusões doces, tal como este alfrocheiro, tinham uma postura provocante. Muito caramelo, bastante cacau em pó e canela proporcionavam sensações meio excêntricas (a lembrar os inúmeros beirões que foram até ao Brasil nos finais do século XIX, à procura de riqueza. No regresso construíram enormes palacetes). Licores embebiam o grão de café e a tosta. Vieram, ao de cima, as memórias daquelas velhas mercearias onde, no cimo do balcão de mármore, estavam aqueles enormes frascos de vidro com drops, caramelos e outras guloseimas. Do outro lado, do balcão, pequenas gavetas resguardavam o café em grão, as folhas de chá. As doses, a pedido, vinham embrulhadas em cartuchos de papel pardo.
Um leve aroma húmido era a única sensação que o vinho transmitia e que eventualmente poderia identificar o território natal. Cheirava bem, cheirava muito bem.
Na boca fino, subtil. Notava-se que este tinto teve muitos cuidados, muitos carinhos. Construído segundo uma linha bastante moderna, bastante urbana. Pessoalmente, falta-lhe um pouco mais de terra, de mineral para se tornar num enorme vinho. Mesmo assim gostei e não foi pouco.
Uma feliz incursão de Francisco Olazabal (Quinta Vale Meão) no Dão. Aguardarei pacientemente a continuação deste projecto. Nota Pessoal: 16,5
Post Scriptum: Mais outro que é diferente.
Comentários
Pensava ser mais autêntico, mais Dão.
Mas mesmo assim acho que deve estar um belo vinho e se tiver oportunidade não escapará!
Boas provas!!
Caro amigo Rui, só te falta um pequeno detalhe, dizer onde se podem arranjar esses vinhos e os preços (podes dar um intervalo de preço).
É que assim sempre se sabia onde encontrar este ou aquele vinho.
Num outro blog até o lembrei como sugestão para acompanhar um cabrito assado.
Preços:
Gourmet do El Corte Inglês em Lisboa: 27,50 €.
Garrafeira de Almada: 15,95 €.
Não é engano. 11,50 de diferença aplicados num MORGADIO DA CALÇADA BCO. 2005.
Sempre atentos.
Blacko
Sobre o vinho, devo-vos dizer que vale a pena provar apesar de estar, aparentemente, "longe" do Dão. Mas atenção começa a não ser caso único: Quinta de Lemos, a Quinta das Marias são outros bons exemplos. Cada vez são mais.
Penso que não podemos censurar os produtores de quererem fazer coisas ao gosto da maioria dos consumidores, coisas que vendam.
Não é que concorde, mas compreendo.
O bom disto, é que existem vinhos e produtores para todos os gostos em todas as regiões.
É certo que é moderno (e eu até costumo gostar dos dãos modernos), mas não me pareceu ter (ainda) a intensidade e complexidade de um grande vinho.
Nuno
Quanto ao vinho, é bom. Felizmente, não suficientemente bom para me saber mal nesta noite de Verão. Felizmente, suficientemente bom para não estragar a imagem da Quinta de Francisco Olazabal...
Saudações
Olá não são um entendido apenas uma enófilo principiante, provei este fs o vinho duriense referido fiquei rendido, confesso que perante a feijoada a escolha do MUNDA, trazia expectativas de um vinho mais profundo e com alguma adstringência a fazer par com a gordura do repasto, mas apesar deste desajuste inesperado, não posso deixar de referir que é um belo tinto que deve ser provado sem expectativas esterotipadas, de nariz identifiquei especiarias que não consegui descortinar, algo vegetal que não esperava, na boca muito gulosso, harmoniosso e macio, sem ser muito cumprido tem um bom PAI.
Um tinto 5* e independentemente da dua origem e rótulos
cumprimentos