CARM Gemelli

A vida que levamos é uma autêntica corrida (em que a velocidade é estupidamente alta), onde nos amontoamos loucamente para chegarmos o mais longe possível, nunca olhando para o lado, ou para trás (se for preciso, fazemos umas quantas rasteiras). Não há tempo para reflectir sobre o que se fez (bem ou mal). Quando a corrida está prestes a terminar, damos conta do que ficou perdido inutilmente. Percebemos, nesses últimos instantes, que passaram pessoas e acontecimentos que mereciam melhor atenção da nossa parte.
O actual mercado do vinho é outra corrida que nos empurra para a procura de novos nomes. Os enófilos envolvem-se numa louca (e alucinante) disputa pelas novidades, esquecendo-se, em muitos casos, de vinhos que estão para ali guardados. Olhamos para eles de soslaio, como que se fossem produtos de um passado longínquo e antiquado (o novo passa a velho com uma rapidez tremenda).
Dia a mais, dia a menos, acabamos por pegar neles só por descarga de consciência. Em alguns casos, reencontramos prazeres esquecidos.
CARM Gemelli 2001 era um tinto (Douro) que andava meio perdido, aqui por casa. Elaborado segundo as indicações do chef Augusto Gemelli. Esta casa do Douro Superior tem (ou tinha) o hábito de convidar determinadas individualidades (ligadas directamente ou indirectamente ao meio) para criarem um vinho. Era dada total liberdade na escolha dos lotes.
Este soltou aromas de aspecto calmo, proporcionando uma noite tranquila e reconfortante. Sensações vegetais bem vincadas, onde cheiros de ervas aromáticas (tipo: carqueja, rosmaninho, tomilho, alecrim) transportavam-me para uma cozinha preenchida por pequenos frasquinhos de condimentos. Flores, que surgiram, revelaram uma face silvestre e porte rasteiro. A fruta, que paulatinamente apareceu, apresentava-se num estado cristalizado, com pouco açúcar. Nada de excessos. Um pequeno fundo mineral proporcionou uma curiosa sensação de humidade. Uma ligeira pitada de chocolate e tabaco encerrava, com descrição, o desfile de aromas.
Os sabores eram, também, calmos e suaves. Pediam um prato de robustez ligeira. Nada de excessos, nada de exuberâncias. Nota Pessoal: 16

Post Scriptum:
Gostei. Convém, de vez em quando, parar um pouco.

Comentários

Nani disse…
Vi o nome de seu blog no cozinhas do mundo, achei super original e vim te fazer uma visita.
Parabéns pelo blog!
Pois, pois, vê lá se começas a olhar prá frente, ou prós lados e marcas aquele almoço... eu levo as alheiras, aquelas caseiras que costumavamos petiscar, e tu claro... levas o vinho! Beijos Fátinha
Pingas no Copo disse…
Fátima, não se devem fazer muitos convites desses que podes correr o risco de eu aceitar!
Beijos Rui