Lembro-me com nostalgia os tempos em que comecei a olhar para o vinho de maneira diferente. Na altura, os vinhos possuíam nomes e rótulos mais prosaicos. Transmitiam, no entanto, um semblante de responsabilidade, de veneração, que agora parece não existir. Com o caminhar do tempo, com o refinamento dos (nossos) gostos (não sei muito bem o quer dizer) esses vinhos começaram a ficar para trás. Deixaram de ser interessantes. Foram escondidos propositadamente. Todos negavam que os bebiam (era pecado). Pertenciam, segundo alguns, a um passado que merecia ser esquecido, apagado. Os novos vinhos que estavam a surgir, em catadupa, eram mais bonitos, mais apelativos. Transmitiam, ao contrário dos mais velhos, um ar moderno, mais acessível, mais cosmopolita. Os velhos foram completamente relegados para as filas lá de trás, sem dó nem piedade. Agora preenchem vastas prateleiras, meio esquecidos. Parecem estrelas do cinema mudo a lutar por um qualquer papel (figurante não seria mau).
Percebendo o risco que estava a correr (muitos não bebem, não perdem tempo com os velhos) provei um Frei João (br) de 2004. O ano da colheita era, por si só, uma variável que poderia complicar, deturpar o meu olhar. Não estava à espera de grandes exibições, de grandes performances. Não era esse o cerne. Queria, acima de tudo, perceber se o meu gosto tinha, também, mudado de forma que impedisse uns quantos tragos.
De uma forma geral, este clássico branco da Bairrada libertou-se do copo com sugestões petroladas que foram atenuando e dando lugar a uma curiosa sensação a feno, a vegetal seco. Aliás, todo o perfil aromático do vinho era uma simpática combinação entre cheiros secos e ácidos (onde pontificavam a casca de limão, a maçã e erva verde), rodeada por uma aragem mineral.
Na boca, as sensações eram fumadas (curiosa esta marca), minerais e muito secas. Um prolongamento curto (é certo), mas nada desprezível.
Fiquei perante um vinho que mereceu mais que dois tragos. Deu, pelo menos, para falar com o meu pai sobre vinhos do antigamente, sobre o que se bebia no passado. Levei uma lição que calou o meu empertigamento enófilo. Tenho tanto para aprender. Nota Pessoal: 13
Post Scriptum: Andei a vasculhar várias fontes, mas fiquei sem saber ao certo quem era o Frei João.
De uma forma geral, este clássico branco da Bairrada libertou-se do copo com sugestões petroladas que foram atenuando e dando lugar a uma curiosa sensação a feno, a vegetal seco. Aliás, todo o perfil aromático do vinho era uma simpática combinação entre cheiros secos e ácidos (onde pontificavam a casca de limão, a maçã e erva verde), rodeada por uma aragem mineral.
Na boca, as sensações eram fumadas (curiosa esta marca), minerais e muito secas. Um prolongamento curto (é certo), mas nada desprezível.
Fiquei perante um vinho que mereceu mais que dois tragos. Deu, pelo menos, para falar com o meu pai sobre vinhos do antigamente, sobre o que se bebia no passado. Levei uma lição que calou o meu empertigamento enófilo. Tenho tanto para aprender. Nota Pessoal: 13
Post Scriptum: Andei a vasculhar várias fontes, mas fiquei sem saber ao certo quem era o Frei João.
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