Início estas linhas tentando reflectir um pouco sobre a capacidade de um enólogo em conciliar diversos projectos, trilhar vários caminhos (Muitos deles díspares, tanto no conteúdo como nos objectivos pretendidos). Dirão que basta ter, em redor, uma equipa coordenada. Acredito que assim seja, mas quem assina de facto? Quem mete preto no branco o seu nome? Será que o retorno financeiro compensa o risco?
Olho para muitos enólogos e pergunto-me se, provavelmente, terão noção de todos os vinhos que assinam. Em última análise, acredito que sejam aplicados modelos, consoante o que é pretendido pelo cliente. O resultado, apesar de não ser mau, é apenas mais um. Indiferenciado.
Dei comigo com mais um vinho do enólogo Paulo Laureano. Serros da Mina, um tinto alentejano nascido para os lados de Vila Nova da Baronia.
Um mistura de couros, pêlo de animal, com fruta madura promove abertura. O vegetal sugeriu, durante bastante tempo, fragrâncias a esteva e flor rasteira. Chegou a ser incisivo. Ao longo do tempo que deambulou pelo copo, caminhou para uma curiosa impressão a bolo inglês, recheado por marmelada e embebido em licores de ginja. Por aqui ficou. Agradável, é certo, mas sem grandes pontos de exclamação, da minha parte.
Pela boca andava com discrição, servindo-se, quase sempre, da acidez para animar.
Pelas sinapses passava o mesmo impulso: Igual a tantos outros. Uma receita aplicada e voilá custou-me 5.99€. Nota Pessoal: 14
Post Scriptum: Longe de mim querer beliscar a qualidade profissional do enólogo deste vinho (Conta no seu portefólio alguns vinhos que aprecio, que gosto muito). Não é esse o cerne da questão. Poderia ter pegado noutro exemplo. As (minhas) dúvidas circulam apenas na capacidade humana para dirigir, organizar, produzir diversos trabalhos e que eles consigam revelar qualquer coisa diferente.
Comentários
uma questão muito pertinente sobre a qual também já me questionei diversas vezes.
Até que ponto o acompanhamento é realmente garantido com consultorias? Serão estas meramente enológicas ou também envolvem a viticultura? Terão realmente estes wine makers uma equipa em quem confiam e que deambulam pelo território?
Acredito que haja de tudo um pouco: casos sérios de consultoria lembro-me assim de repente da Vines e Wines no Dão, casos de falta de acompanhamento e alguns casos em que meramente o enólogo aparece para colocar o nome e tentar vender mais assim.
É um assunto muito interessante.
Noutro dia vi uma reportagem interessante na Hora de Baco (uma das únicas que me lembro)sobre os laboratórios portáteis de enologia do Jorge Sousa Pinto. Uma adaptação moderna às necessidades na vindima.
Boas provas!
Outra questão que seria interessante discutir é encontrar, ou não, diferenças nas várias consultadorias. Parece-me que os resultados finais, na generalidade, são muito semelhantes, quase sem identidade própria (existem excepções, claro).
O consumidor ganha ou perde?
não consegui perceber a que te estavas a referir: se aos diferentes produtores com o mesmo consultor ou às diferentes consultoras.
Se for o primeiro caso acho que a maior parte dos vinhos tornam-se muito semelhantes (excepto os casos em que a identidade (terroir?)é mesmo muito forte).
Se te referes a diferentes consultores aí acho que há toda uma diversidade de exemplos: bons, maus, parecidos e distintos.
Mas se pensar no global acho que mesmo com défices de identidade a qualidade geral tem tendência a melhorar. Melhores práticas da vinha, melhores controlos na adega,
correcções, etc...
Digamos, vinhos mais "fabricados" mas com uma qualidade global mais elevada.
Agora de facto não são esses vinhos mais uniformes que ando à procura...São os outros com identidade e vida? própria!!!
Boas provas!
De facto, a qualidade acaba por aumentar e isso é inegável.
O pior e é o que tenho a vindo a reparar que as diferenças tendem a esbater-se de tal ordem, que a tal identidade de que falavas quase não existe.
Ficamos, no entanto, satisfeitos com o facto de o nosso vinho suscitar alguma curiosidade e ser provado por cidadãos interessados, o que, desde já agradecemos. Lamentamos, no entanto e como produtores, que o nosso vinho Serros da Mina, que não é um topo de gama com um preço que o torna acessível apenas para apreciação em ocasiões especiais, tenha servido para uma nobre reflexão em que o alvo parece ser o enólogo, um dos factores inegavelmente importante em todo o processo, esquecendo todas as outras questões relacionadas com o "terroir" (reduzido à indicação de "para os lados de Vila Nova da Baronia"), os trabalhos na vinha e na adega, bem como o respeito pelo trabalho digno e honesto dos seus intervenientes.
Todas as reflexões são admissíveis, mas quando emitidas passam a ser opiniões, cuja razoabilidade deve ser devidamente fundamentada e não apenas baseada em crenças.
Por fim, convidamos todos os cidadãos interessados a estarem atentos aos próximos lançamentos de vinhos produzidos e engarrafados na Herdade das Barras pela Sociedade Agro-pecuária do Oeste Alentejano, situada de facto na freguesia de Vila Nova da Baronia, concelho de Alvito, na sub-região da Vidigueira.
Saudações organolépticas.
Outro aspecto, que gostaria de esclarecer. Ao usar a expressão "para os lados de Vila Nova de Baronia", pode ser tudo menos pejorativa. É meramente uma expressão. "Dou de barato" que possa ser mal interpretada. No entanto, acrescento que sempre me pautei pelo respeito, pela seriedade ao ponto de ponderar todas as palavras que coloco neste blog. Muitos que por aqui passam (concordando ou não) podem atestar esse comportamento.
A ideia essencial do post era meramente discutir a problemática dos winemakers e nada mais. Parece-me que a sua interpretação, mais uma vez, o levou para "caminhos travessos" e sobre isso não me irei alongar mais.
Sobre o vinho, deve ter reparado que "perdeu" na boca e como disse, e bem, 14 não desmerece. Muito pelo contrário. Podia ser pior, podia ser melhor é de facto uma pinga "onde se nota algum esforço" e que sabe bem.
Sobre o preço, comprei o vinho por 5,99€ (posso enviar-lhe o talão da compra).
Saudações organolépticas
PS-Acredite que tudo que escrevo aqui é baseado em crenças (as minhas)
PS1- Acredite que conheço muito bem Vila Nova da Baronia, sei muito bem que pertence ao concelho do Alvito. Por sorte e felicidade minha, casei com uma alentejana da Vila de Alcaçovas.
Apenas para dizer que muitas vezes se diz o nome do enólogo X mas que esquecemos quem tem todo o trabalho, o enólogo residente. Ou seja, o residente dá o litro e mais algumas gotas do seu suor para ter sabe-se lá quando a visita do grande mestre que lá vai meter o nariz e dizer ai e coiso e tal.
Relativamente a outros considerandos, sendo eu alentejano do distrito de Beja, e tendo amigos de infância originários de Vila Nova da Baronia, não me choca minimamente a referência “ali para os lados de”. É apenas uma descrição genérica, que não refere a região a que pertence mas especifica um local da sub-região da Vidigueira, que abrange vários concelhos.
Finalmente, sendo também eu co-autor de dois blogs, um deles sobre vinhos e comidas, as minhas opiniões só me vinculam a mim próprio e não sou, de todo, obrigado a justificá-las. E acerca dos vinhos, até podemos reduzir as nossas opiniões a um muito seco “não gostei”, sem fundamentar absolutamente nada. Porque se trata de opinião pessoal, livre, independente e não comprometida com empresas, grupos ou lóbis. E como é totalmente gratuita, não temos obrigações perante ninguém, pelo que aqueles que nos lêem só têm que nos agradecer quando nos damos ao trabalho de tentar fundamentar e justificar o que escrevemos.
Tenho dito.
E o nome não lembra a ninguém...
Já agora, nada de lutas. Um blogue é um espaço de amigos, ou pelo menos pessoas com hobbies comuns, que procuram ajudar-se através da opinião.
O consumidor é que paga, e ao seleccionar elegendo apenas os bons vinhos, consegue várias coisas:
-Premiar os bons produtores e enólogos.
-Fazer subir a qualidade geral dos vinhos portugueses, assegurando a sua competitividade.
-Trazer para o mundo do vinho cada vez mais adeptos conhecedores.
Bons copos, e parabéns ao blogue.